CAPÍTULO 10

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Depois do que presenciei, fui direto para casa. Não queria nem olhar para Luke ou aquela garota. O que eu vi se repetia na minha mente, como um filme sem fim. Passei a noite inteira pensando naquilo. Era segunda-feira e, por mais estranho que parecesse, eu havia aceitado sair com Tadeu. Eram quase seis da tarde, e eu me preparava para o encontro, ainda com o coração pesado. Não queria enganar o Tadeu, ele foi legal comigo.

Assim que sair de casa o avistei parado próximo ao seu carro, ele estava arrumando, calça blusa e uma jaqueta jeans.

- Fico feliz que você tenha aceitado - disse ele, abrindo a porta do carro com um sorriso que parecia genuíno.

- Também fico feliz - respondi, tentando me convencer de que isso era verdade.

Ele deu a volta no carro e entrou, ajeitando-se ao meu lado. Tadeu estava bem arrumado, e era inegável que ele era bonito. Mas será que eu realmente conseguiria gostar dele, em algum momento?

No caminho, ele falava sem parar sobre o treino, como era o melhor no time e sobre o quanto gostava de competir. Ele era orgulhoso de si mesmo, um ego enorme. Chegamos a uma lanchonete e, ao invés de jantarmos, decidimos tomar apenas um milkshake. Sentamos em uma das mesas do canto, e ele escolheu o lugar ao meu lado. Enquanto ele continuava a contar suas histórias, percebi que estava distraída, pensando que aquele era meu primeiro encontro sem Camila. Eu não sabia como agir ou o que fazer, me sentia estranha e deslocada. No final Camila sempre era o meu porto seguro nessas situações.

- Então, você vai participar da lavagem de carro? - perguntou Tadeu, me puxando de volta para a conversa.

- Ah, sim... Camila me inscreveu. - A lavagem de carros é uma tradição da escola para arrecadar dinheiro para caridade.

- Que bom! Camila é sua melhor amiga, né?

Eu sorri, lembrando de quando éramos pequenas e brigamos por bonecas, mas sempre defendemos uma à outra. A lembrança era doce e amarga, mas me fazia rir ao lembrar.

- Sim, conheço ela desde pequena. Nossas mães eram muito amigas.

De repente, meu coração gelou ao ver homens da gangue de Luke entrando na lanchonete. Reconheci um deles, o cara que estava consertando a moto dele. Eles riam e cochichavam, e lançavam olhares na nossa direção, o que fez Tadeu perceber e se virar para olhar também. Sentaram-se na última mesa, um deles pegou o celular e fez uma ligação, sem desviar os olhos de mim. Senti um desconforto profundo, mas Tadeu voltou a falar e me trouxe de volta.

- Você é tão bonita, Nicole. Fico me perguntando como nunca te notei na escola antes desse ano - disse ele, me olhando com uma intensidade que me fez corar.

- Eu... eu não era tão bonita. E nem me esforçava para ser.

- O que mudou?

A pergunta me pegou de surpresa. O que realmente havia mudado em mim? Talvez meu corpo, minha confiança... ou a chegada de Luke, que parecia ter virado meu mundo de cabeça para baixo. Sorri meio sem graça e dei um gole no milkshake para disfarçar.

- Acho que mudei em tudo - respondi, meio sem jeito.

- Que bom. Gosto muito dessa nova Nicole.

- Acho que nós dois gostamos então - disse rindo e ele também riu.

Embora ele tentasse me elogiar, o efeito era ambíguo. Não era ruim, mas também não era bom.

Depois que terminamos o milkshake, começamos a andar em direção ao estacionamento. O estacionamento estava apenas iluminado por luzes do poster uma mais afastada que a outra criando pontos escuros, e uma leve brisa passava por nós, trazendo uma sensação de inquietação.

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