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Assim que pousaram, Beatriz percebeu a tensão crescente em Burgos. Ele mal esperou as portas do avião abrirem antes de atender uma ligação. Sua expressão, que era sempre controlada, mudou, os olhos se arregalando levemente enquanto ouvia do outro lado da linha. Sem falar nada para ela, apenas fez um gesto apressado, ordenando que a levassem ao carro estacionado próximo da pista.

Enquanto era guiada para fora do jatinho, Beatriz sentia que algo estava errado. Observava Burgos de longe, que agora caminhava em círculos, os passos pesados e a testa franzida enquanto falava, como se estivesse calculando cada palavra. Uma sensação estranha subiu pela espinha de Beatriz, uma intuição de que essa chegada não era exatamente como ele havia planejado.

No caminho até o carro, ela olhou ao redor, tentando captar qualquer sinal que explicasse o que estava acontecendo. Tudo parecia um pouco diferente do que Burgos tinha prometido: a pressa, a forma como ele evitava encontrá-la com o olhar e o tom urgente de sua voz.

Ao se acomodar no banco de trás do carro, Beatriz ficou inquieta, seus pensamentos acelerados. Sabia que precisava estar atenta e preparada para o que quer que estivesse por vir.

Assim que Burgos terminou a ligação, ele se dirigiu ao carro e entrou no banco da frente, o rosto ainda marcado pela preocupação. Ele olhou brevemente para a janela, a mente claramente processando a situação, e então se virou para o motorista, dizendo, com uma voz tensa:

– Leva a gente pra um hotel. Agora.

Beatriz, do banco de trás, franziu a testa, sentindo a preocupação crescer dentro dela. Ela sabia que algo não estava certo desde o momento em que desembarcaram, mas as palavras de Burgos só aumentaram sua inquietação. Ela se inclinou um pouco para frente, encarando-o.

– Um hotel? Por quê? O que tá acontecendo?

Burgos hesitou por um momento, como se estivesse tentando medir o que diria a ela, mas por fim cedeu, suspirando profundamente antes de responder:

– O negócio complicou, Beatriz. O agente da federal morello fez a polícia mandar agentes do BOPE pro Dendê.

Essas palavras bateram com força, e Beatriz sentiu uma mistura de choque e preocupação intensa por Radinho e Wilbeth. A presença do BOPE significava uma operação de alto risco;  Sua mente imediatamente imaginou Radinho e Wilbeth no meio da situação, vulneráveis e expostos.

– O BOPE? Mas... por quê? O que eles querem com o Dendê agora? – ela perguntou, a voz soando quase em pânico.

Burgos virou-se parcialmente para encará-la, os olhos cansados, mas com um olhar determinado.

– provavelmente pegar o Evandro.

Beatriz mordeu o lábio, a cabeça um turbilhão de pensamentos. Ela sentiu um nó se formar em seu estômago enquanto pensava nas consequências daquela operação.

– Então… – Beatriz respirou fundo, tentando encontrar uma forma de processar tudo aquilo. – O que a gente vai fazer agora?

Burgos a encarou novamente, agora mais firme.

– Você vai esperar. E vai ficar longe disso.  Eu vou tentar ver o que consigo fazer daqui.

Beatriz sentiu uma onda de raiva e frustração misturada com o medo que já sentia. Ficou em silêncio, sabendo que discutir não mudaria nada, mas o desejo de interferir, de encontrar uma maneira de ajudar, a consumia por dentro. Ela se recostou no banco, tentando se acalmar e processar tudo aquilo enquanto o carro seguia pelas ruas movimentadas da cidade, em direção ao hotel.

Burgos conduziu Beatriz pelos corredores do hotel, os passos firmes, mas o rosto carregado com uma seriedade que deixava claro o peso da situação. Quando chegaram ao quarto que ele havia reservado, ele destrancou a porta e gesticulou para que ela entrasse, observando enquanto Beatriz dava os primeiros passos no espaço acolhedor, mas impessoal, do cômodo.

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