Beatriz saiu da sala de interrogatório com passos lentos e nervosos, sentindo a tensão acumulada em seu corpo. Cada passo a levava mais para o centro da delegacia, onde ela sabia que deveria encontrar alguém, mas não fazia ideia de quem seria. O corredor estava quieto, com o som de passos ecoando de longe, e o cheiro da sala ainda a envolvia, a lembrança das mentiras que acabara de contar ainda vívida em sua mente.
Ela olhou ao redor, observando os policiais que estavam espalhados, mas foi quando seus olhos se fixaram em um homem à distância que uma sensação de frieza percorreu sua espinha. Era impossível não reconhecer a figura. Um homem de estatura baixa, gordinho, com a cabeça careca e cabelos apenas nas laterais, ostentando óculos quadrados e um bigode ridículo. Ele estava de terno, segurando uma maleta, andando com aquele passo confiante, como se tivesse o mundo sob seu controle. Era ele. Dr. Burgos. O mesmo homem que, meses atrás, havia falsificado os documentos de guarda para que Wilbeth pudesse se tornar o responsável por ela. E mais, o mesmo homem que a buscou na casa de Wilbeth, quando ela foi morar ali, e sempre parecia ter a resposta para tudo. Sempre ao lado de pessoas que nunca eram confiáveis.
Beatriz não conseguiu evitar o impulso de encará-lo com um olhar de desprezo, as memórias se agitando na sua mente. Ela sabia o que ele representava. Ele estava envolvido em tudo. Era ele que tinha manipulado as peças para que Wilbeth tivesse poder sobre ela. Ele estava diretamente ligado aos problemas dela. E agora, ele estava ali, novamente, num lugar que não era mais seu.
Com um suspiro forte, Beatriz se aproximou um pouco mais dele, suas palavras saindo carregadas de rancor. Ela não tinha paciência para máscaras, nem para os joguinhos dele. Estava cansada. Estava cansada de ser manipulado e controlado. E isso era algo que ela não suportava mais.
— E aí, doutor burro — ela disse, a voz firme e cheia de sarcasmo. — Como vai a vida? Ainda brincando de fazer de mim marionete?
A ironia e o desprezo em suas palavras eram evidentes. Ela sentia um alívio momentâneo, o simples fato de ter falado aquilo a fazia se sentir menos vulnerável, como se finalmente estivesse retendo algum tipo de controle sobre sua vida, por mais que fosse temporário. Ele a encarou, um sorriso irônico se formando em seus lábios, como se ele já esperasse essa reação. Não parecia surpreso, mas o olhar dele a fazia sentir ainda mais raiva.
— Ah, Beatriz — ele começou, sua voz calma, quase tranquilizadora, o tom de sempre. — saudades de você. Vem você vem comigo.
Beatriz sentiu uma onda de raiva crescendo dentro dela, mas se conteve, controlando a necessidade de gritar com ele. Ela não sabia o que ele queria ali, mas uma coisa ela tinha certeza: ele era parte do quebra-cabeça que ela ainda não havia resolvido. E essa era a chance dela, ela não deixaria escapar.
— Eu não sou mais uma peça no seu jogo — ela disse, seu tom mais grave e firme agora. — Você e o Wilbeth, já passaram dos limites. Eu não sou mais a menininha que vocês podem manipular.
Ele não se intimidou, ainda com aquele sorriso quase enigmático no rosto. A expressão dele era uma mistura de cansaço e diversão, como se ele tivesse muito mais nas mãos do que ela imaginava.
— Vamos ver, então, Beatriz — ele disse, a voz suave, mas com uma pitada de ameaça. — Vamos ver o quanto você consegue resistir ao que está por vir. Não pense que pode fugir de tudo. Nada disso vai acabar tão fácil.
Ela sentiu um arrepio ao ouvir suas palavras, mas ao mesmo tempo, algo dentro dela se fortaleceu. Ela sabia que estava ali, sozinha, mas também sabia que precisava lutar, a qualquer custo, por tudo o que restava de sua vida. Beatriz estava disposta a confrontar tudo o que o destino lhe impusesse.
Ela ignorava completamente burgos saindo da delegacia.
Beatriz ficava ali, observando a cidade com um olhar distante, tentando processar tudo o que havia acontecido, as mentiras que tivera que contar e as verdades que ainda estavam enterradas em seu coração. A cada respiração, o peso da situação se acumulava, mas ela não podia se deixar abater. Ela sabia que tinha que continuar em frente, mesmo que fosse uma luta constante contra seus próprios sentimentos e o que o destino havia preparado para ela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
IMPUROS-Radinho
FanfictionAs vezes mudar e foda. mas sempre tem seus pontos positivos e principalmente pontos negativos.