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Dois meses haviam se passado desde o desaparecimento de Beatriz, e cada dia parecia sugar ainda mais a energia e esperança de Wilbeth. Ele continuava acordando todos os dias com o mesmo propósito: encontrá-la. Cada esquina do Dendê, cada contato, cada rumor, tudo era vasculhado na esperança de um vestígio dela. As marcas de sua ausência estavam gravadas em seu rosto, os olhos fundos e o rosto cansado denunciando as noites sem sono e os dias de busca incessante.

Radinho, por sua vez, não era mais o mesmo. Ele estava irreconhecível, o sorriso atrevido havia desaparecido, e até o brilho nos olhos. Gilmar e os outros notavam como ele parecia mais perdido e distraído, suas tentativas de seguir em frente com outras mulheres terminavam em frustração e vazio. Cada toque, cada olhar, cada palavra dita por alguém novo só reforçava o quanto ninguém jamais poderia ocupar o lugar de Beatriz. Em um ato quase automático, ele discava o número dela repetidas vezes, sabendo que não seria atendido. Ele se agarrava à tênue esperança de ouvir a voz dela na caixa postal, de sentir, por alguns segundos, que ela ainda estava por perto.

Wilbeth também não parava de ligar, a cada chamada sem resposta sentindo o peso do vazio se aprofundar. Ele deixava mensagens, contava sobre os pequenos detalhes de sua vida, tentando preencher o silêncio com qualquer coisa que pudesse fazê-la sentir que ele estava pensando nela, que ainda a esperava. Em uma dessas mensagens, contou com voz trêmula sobre Helena, uma assistente de direção que havia conhecido enquanto tentava reconstruir um pedaço de sua vida. Helena era boa, gentil, e por um breve instante, ele achou que poderia seguir em frente, mas ela percebeu que Wilbeth estava distante demais, perdido demais no vazio deixado por Beatriz, e então, ela também se foi.

“E agora... aqui estou eu, mais uma vez falando pra você,” ele murmurava, quase sem forças, ao telefone. “A vida não para, mas parece que tudo perdeu o sentido. Eu só queria ouvir sua risada de novo, queria ter você por perto. Sei que errei muito, mas... não importa mais nada agora, Bia. Só falta você de volta.”

Ele sabia que aquelas mensagens talvez jamais fossem ouvidas, mas eram uma forma de se agarrar a ela, de manter viva a esperança, mesmo que o tempo lhe provasse o contrário. Era o único resquício de fé que restava naquele homem que, um dia, acreditara que poderia ser uma figura paterna para alguém.

Beatriz

Beatriz estava sentada no telhado do prédio em São Paulo, envolta por um misto de saudade e tristeza que só ela entendia. A cidade se estendia diante de seus olhos, e o ruído urbano era abafado pelos pensamentos que a tomavam. Ela segurava o celular, ouvindo uma das mensagens de Wilbeth. Em meio a tantas palavras de arrependimento e declarações de amor paterno, uma delas a fez parar — a voz dele dizia apenas, “eu te amo, Bia.” A simplicidade e o peso daquela frase a fizeram repetir a mensagem várias vezes, como se, ao ouvi-la novamente, pudesse sentir a presença de Wilbeth ali, de alguma forma. Ela fechava os olhos, ouvindo a mensagem ecoar em seus ouvidos, como se cada “eu te amo” tivesse o poder de preencher o vazio.

As lágrimas rolavam de forma silenciosa. Ela mal percebia o tempo passar enquanto se afundava naquelas palavras, a ponto de sentir que Wilbeth estava ao seu lado, amparando-a em meio àquela imensidão que, apesar de tudo, parecia tão vazia sem ele e sem o Dendê. Ela lembrava do jeito que ele a protegia, das piadas que faziam, dos olhares de preocupação que ele sempre tinha, e até mesmo dos momentos de implicância.

Suspirando fundo, ela olhou para a paisagem, com a saudade apertando seu peito ainda mais forte. Ela sabia que ali, naquele mundo novo, não existia ninguém que pudesse entendê-la da forma que Wilbeth e Radinho entendiam. Ninguém compartilhava aquele amor, aquele laço que, por mais torto e complicado, era verdadeiro. A saudade era tanta que parecia tocar a pele, e ela desejava que, de algum jeito, pudesse voltar, pudesse sentir o abraço dele, ouvir as piadas bobas de Radinho, ouvir o "eu te amo" de Wilbeth ao vivo, e não apenas através de uma gravação.

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