No meio da noite, Beatriz sentiu uma sensação estranha. Era como se estivesse sendo levantada suavemente, mas seu sono era tão profundo que não conseguia se dar ao trabalho de abrir os olhos. Com a mente turva, ela apenas murmurou um som vago de reconhecimento e se aconchegou ainda mais, buscando o calor que a envolvia.
O corpo a segurando era forte e familiar. Ela pensou que poderia ser Wilbeth ou Radinho, talvez os dois a estivessem levando para o quarto para que ela dormisse confortavelmente em uma cama, em vez de no sofá. Em sua mente confusa, a ideia de ser protegida e cuidada a fazia sentir-se segura.
— Deixa eu dormir… — sussurrou, se aninhando ainda mais na superfície quente e firme.
A voz interna de Beatriz, embriagada pelo sono, dizia que tudo estava certo. O cheiro familiar e reconfortante a cercava, e a sensação de estar sendo transportada a deixava tranquila. Sem resistência, ela relaxou completamente, envolvendo-se na sensação de segurança.
Assim, ela adormeceu novamente, mergulhando em um sono profundo e sonhador, sem se preocupar com o que estava acontecendo ao seu redor. O mundo real se dissipou, e, no calor do momento, Beatriz simplesmente deixou a escuridão da noite a envolver, esquecendo-se de tudo ao seu redor.
Beatriz abriu os olhos lentamente, a luz suave filtrando-se através das janelas, criando um espetáculo de estrelas azuis que dançavam no teto. Um toque de encantamento a envolvia, mas, à medida que ela se levantava e olhava ao redor, a realidade começou a tomar forma. O quarto não era o dela na casa de Wilbeth; era o seu antigo quarto, decorado com as lembranças da infância que tanto tentava esquecer.
Um frio na barriga a percorreu quando ela se dirigiu até a janela, reconhecendo o cenário familiar do seu antigo bairro. As casas, as árvores, os rostos que faziam parte da sua vida antes do Dendê se tornaram visíveis através do vidro. Uma onda de nostalgia a atingiu, e uma sensação de saudade a envolveu, trazendo à tona memórias de tempos mais simples, mas também mais dolorosos.
Com o coração acelerado, ela correu para a sala, a expectativa crescendo a cada passo. Assim que entrou, o que viu paralisou seu coração. Roberto, seu pai, estava ali, conversando animadamente com Lucas. A imagem dele a preencheu de uma mistura de alegria e tristeza. Lágrimas começaram a brotar em seus olhos, ofuscando a visão enquanto ela o encarava em silêncio, incapaz de pronunciar uma única palavra.
Roberto tinha o mesmo olhar que se lembrava, mas agora havia algo diferente, um brilho que ela não via há anos. O tempo não tinha sido gentil com ele, mas a essência estava lá, inconfundível. Era como se todas as emoções reprimidas estivessem explodindo dentro dela, um turbilhão de sentimentos que a deixavam confusa e perdida.
Lucas, percebendo a presença de Beatriz, virou-se para ela e um sorriso divertido surgiu em seu rosto. Mas para Beatriz, a cena não era nada engraçada. O coração dela estava em conflito; um desejo de correr até seu pai e uma vontade de se afastar daquele lugar que a fez sofrer.
— O que vocês estão fazendo aqui?... O que eu estou fazendo aqui?!— a pergunta escapuliu de seus lábios, quase um sussurro, enquanto as lágrimas escorriam pela sua face.
A sala parecia congelar no tempo, e por um momento, tudo o que Beatriz desejava era que tudo voltasse a ser como antes. Mas a realidade era cruel, e ela sabia que as coisas nunca seriam iguais. O peso das escolhas, das traições e do abandono se erguiam como uma sombra em torno dela.
Roberto olhou para a filha, seus olhos se suavizando ao encontrá-la. Havia um arrependimento silencioso ali, mas as palavras pareciam não sair. O ambiente estava carregado de emoção, e Beatriz percebeu que, mesmo que o amor estivesse presente, também havia um abismo profundo que eles teriam que atravessar.
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IMPUROS-Radinho
FanfictionAs vezes mudar e foda. mas sempre tem seus pontos positivos e principalmente pontos negativos.