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Radinho acelerou o passo em direção ao posto do Dendê, seu coração batendo rápido enquanto ele se lembrava do estado de Wilbeth na noite anterior. Assim que chegou, empurrou a porta e entrou, sentindo o ar fresco e limpo do lugar contrastar com o caos que vivia na favela.

Ele olhou ao redor e viu algumas pessoas passando, mas o olhar estava fixo na maca onde Wilbeth estava deitado. O corpo dele estava coberto com um lençol, e a expressão no rosto parecia serena, como se ele estivesse apenas dormindo. Radinho se aproximou cautelosamente, a preocupação misturada com um alívio por vê-lo ali, ainda vivo.

- Porra Wilbeth... - ele murmurou, mais para si mesmo do que para o amigo.

Antes que pudesse se afastar, uma voz rouca chamou por ele.

- E aí, caralho, Radinho! Você está achando que eu tô dormindo ou sou um morto-vivo? - Wilbeth disse, sua voz com um  leve tom de brincadeira, mas a dor ainda estava presente em seu olhar.

Radinho virou-se rapidamente, os olhos arregalados de surpresa. - Porra, Wilbeth! Você tá acordado maluco! Como você tá?

Wilbeth deu um sorriso cansado, tentando se apoiar um pouco na maca, mas a dor era visível. - Ah, não tão bem, né? Tô aqui, sem pé, mas pelo menos ainda tenho minha beleza intacta, E a Beatriz?

Radinho não pôde deixar de rir, mesmo que nervoso. - A porra. Fui ajudar a Beatriz. Ela tava preocupada com você, e eu também.

Wilbeth soltou um suspiro. - Ah, que droga. Não era pra vocês estarem assim, se preocupando com esse capenga aqui. O que aconteceu foi uma merda, mas agora preciso focar em ficar bom.

Radinho balançou a cabeça, ainda sem acreditar na leveza com que Wilbeth lidava com a situação. - E como você tá lidando com isso, mano?

- Olha, não tem muito o que fazer além de rir, né? Se eu não rir, vou chorar. - Wilbeth respondeu, o olhar agora mais sério. - Mas me diz, o que tá rolando? A Berenice tá bem? O que aconteceu depois da explosão?

Radinho fez uma pausa, lembrando da correria e do caos. - Ela tá bem, tá no barracão. Mas o Foguinho ficou maluco, já planejando vingança.

- caralho ...- Wilbeth exclamou, revirando os olhos. - eu preciso me recuperar, depois a gente vê como resolver essa merda.

Radinho sorriu, admirando a força de vontade do amigo. - Sim, você vai sair dessa. E nois vai ficar até pra cuidar de vc seu velho..

- Beleza, então. Mas não esquece de me trazer um rango depois, a comida daqui e uma merda. -Wilbeth brincou, mas a preocupação estava ali, pairando entre as palavras.

Radinho assentiu, sentindo uma onda de esperança. - Claro,Vou dar um jeito de arrumar algo. E, porra, não se esquece de descansar. Se você se movimentar demais, vai acabar fodendo a recuperação.

- Pode deixar, vou fazer o que posso, carinha. Mas agora vai, não me deixe aqui com esse tédio. Me fala mais sobre o que tá rolando no Dendê. - Wilbeth pediu, dando uma piscadela.

Radinho sorriu, percebendo que, apesar de tudo, seu amigo ainda mantinha aquele espírito indomável. Ele começou a falar sobre os últimos acontecimentos, aliviado por ver Wilbeth tão animado, mesmo que a situação fosse grave.

Wilbeth ficou encarando Radinho por um momento, a expressão dele mudando de brincalhona para séria. Ele suspirou profundamente, como se estivesse carregando um peso imenso nos ombros. Finalmente, ele se ajeitou na cama, sua voz agora mais grave.

- Olha... tu me promete que é leal a mim, cara? - Ele começou, fixando os olhos em Radinho. - Tenho um bagulho pra te contar... mas tu tem que me prometer que vai ser leal pra caralho, tá entendendo, neguinho?

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