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Beatriz entrou na casa e, assim que a porta se fechou atrás dela, o peso de tudo o que acontecera parecia cair sobre seus ombros. Ela andou até o sofá e se deixou cair nele com um suspiro profundo. Colocou a almofada sobre o peito e se abraçou, buscando consolo em algo tão simples, mas que agora parecia ser sua única âncora no caos que se instalava em sua vida. Olhou ao redor, observando cada canto da casa com um olhar perdido. As paredes, as móveis, tudo parecia tão distante, como se o tempo tivesse parado. Ela não sabia o que fazer, como reagir a tudo o que tinha acontecido.

Wilbeth ficou parado na porta, observando Beatriz, sua expressão cheia de incertezas. Ele sabia que ela estava abalada, mas algo dentro dele dizia que ele deveria ser mais paciente, mais cuidadoso com ela naquele momento. Ele deu um passo em sua direção, sentou-se ao seu lado, e colocou a mão sobre sua, tentando transmitir algum tipo de conforto.

Ela sentiu o toque dele, mas, mesmo naquele momento, sua mente estava longe, lutando com a culpa e o arrependimento. As imagens de Lucas, seu corpo no chão, o sangue, tudo se repetia incessantemente em sua mente. Ela se sentia péssima, incapaz de mudar o que tinha feito.

-Eu... eu matei ele, Wilbeth- ela sussurrou, a voz quebrada, os olhos marejados de lágrimas que pareciam não ter fim. -Eu... dei sete facadas nele... eu não sabia o que fazer, eu não sabia mais como me defender.

Ela fechou os olhos por um momento, como se tentando afastar a visão de Lucas, mas as imagens insistiam em voltar.

Beatriz, com a voz tremendo, começava a explicar tudo, os detalhes de uma dor que não conseguia mais esconder. Ela não conseguia olhar para Wilbeth enquanto falava, os olhos fixos nas mãos tremendo sobre a almofada que ainda abraçava com força.

— Eu… eu dei sete facadas nele... — ela engoliu em seco, lembrando de cada movimento, de cada impulso que a fez agir daquela forma. — logo depois... depois que ele me atacou... — Ela parou, tentando controlar a respiração que ficava cada vez mais difícil. O peso da culpa parecia esmagar o peito. Ela fechou os olhos, tentando afastar a imagem do rosto de Lucas, mas era impossível.

— Eu... eu não queria fazer isso, Wilbeth. Mas ele me forçou, e tudo aconteceu tão rápido. Ele estava me sufocando, e eu... só queria sair daquela situação, queria que ele me deixasse em paz... — ela levou uma das mãos à cabeça, o desespero invadindo sua voz. — Não sabia mais o que fazer. Era como se o medo tivesse tomado conta de mim, e quando vi, já tinha feito aquilo...

A culpa pesava como uma pedra gigante em seu coração, cada palavra carregava o peso daquilo que ela tinha feito. Ela tentou respirar fundo, mas o ar parecia faltar. O olhar de Wilbeth, sempre tão forte, parecia agora algo distante, quase como se ele não soubesse o que fazer com as palavras dela, com a dor dela.

— E eu menti pra polícia. Eu disse que meu pai tinha feito tudo, que foi meu pai que... que me agrediu. Mas ele não foi... não foi ele, Wilbeth. Eu... eu não posso viver com isso... não sei o que fazer com tudo isso...

A voz dela se quebrou, e ela se entregou ao choro novamente, deixando escapar toda a dor que estava guardando por tanto tempo. Ela estava perdida, e no fundo, sentia como se nunca fosse ser capaz de se perdoar.

Wilbeth ficou parado por um momento, o choque estampado em seu rosto enquanto as palavras de Beatriz ecoavam pela sala. Ele respirou fundo, desviando o olhar dela, como se tentasse reunir a coragem necessária para responder. O peso da acusação parecia esmagá-lo, mas antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Beatriz se adiantou, seus olhos cheios de lágrimas e raiva.

— Por que você mentiu pra mim, hein? — ela disparou, sua voz tremendo. — Por que você fingiu esse tempo todo, Wilbeth? Foi só pela maldita herança? Foi só pra pagar a dívida do seu pai? É isso? Eu era só uma peça no seu jogo?

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