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Radinho estava ali, imóvel, com os olhos fixos na mesa como se os grãos de madeira pudessem de alguma forma trazer respostas para o vazio que sentia por dentro. A xícara de café esfriava entre suas mãos, e ele tomava um gole amargo, sem sentir o sabor. As lembranças de Beatriz continuavam a lhe assombrar — cada detalhe do rosto dela, as conversas que compartilharam, o jeito como ela sorria. Sentia-se preso em um ciclo de pensamentos do qual não conseguia escapar.

A mãe dele passou pela sala silenciosa e fez um carinho breve em seu ombro antes de se inclinar e beijar sua testa. "Tô indo pra casa da sua avó, volto só mais tarde", ela disse, com um olhar de preocupação. Radinho apenas acenou, tentando esboçar um sorriso, mas sabia que ela podia ver a tristeza em seu rosto. Assim que ela saiu pela porta, a casa mergulhou novamente no silêncio pesado.

Ele fechou os olhos e respirou fundo, sentindo a solidão crescer ao seu redor. Passou a mão no rosto, tentando espantar o peso que parecia agarrado a ele. Sem perceber, levou a xícara até os lábios de novo e bebeu o restante do café, quase como se o calor pudesse trazê-lo de volta para a realidade. Mas nada parecia funcionar. Ele se sentia perdido.

A última ligação de Beatriz ainda ecoava em sua cabeça. As palavras dela o deixaram com uma mistura de esperança e desespero, e ele sabia que, por mais que tentasse, jamais poderia esquecê-la. A ausência dela parecia uma ferida que nunca cicatrizava, e ele não sabia mais como seguir em frente.

Levantou-se e caminhou pela casa vazia, os passos ecoando enquanto andava de um lado para o outro. Olhou para as paredes, os móveis, a janela que dava para o beco — tudo parecia opressor e sem vida. Radinho sabia que precisava fazer algo para se distrair, mas nada parecia suficiente para ocupar o vazio. Sentou-se de volta, acendendo um cigarro, e deixou a fumaça preencher o ambiente ao seu redor, na esperança de que ela pudesse de alguma forma acalmar os pensamentos.

Enquanto a fumaça se dissipava, ele se perguntou se um dia seria capaz de reencontrar o sentido em meio ao caos de seus sentimentos. Mas, por ora, tudo o que conseguia fazer era permanecer ali, sozinho, preso nas memórias que, como fantasmas, continuavam a assombrá-lo.

Radinho levantou o olhar ao ouvir o rangido da porta, ainda meio perdido em seus pensamentos. Quando viu Foguinho encostado no batente, com um meio sorriso debochado, suspirou. -E aí, parceiro, tá com essa cara de velório por quê?- Foguinho soltou, tentando quebrar o gelo, mas rapidamente notou a expressão séria de Radinho e suavizou o tom. -Mal aí, cara. Só queria dar uma animada.

Foguinho entrou e se sentou na mesa de frente para Radinho, que desviou o olhar, ainda um pouco incomodado. -Eu só tô... pensando, tá ligado? Nada demais.- Radinho respondeu, mas o tom de sua voz deixava claro que os pensamentos eram, sim, pesados. Foguinho permaneceu em silêncio por um instante, sem querer forçar. Conhecia bem o amigo e sabia que ele não era do tipo que se abria facilmente.

-Olha, eu sei que as coisas não tão fáceis pra você. Todo mundo sabe da falta que você sente, do jeito que as coisas acabaram... Mas eu tô aqui com você tá ligado? -  Foguinho disse, com um tom mais sério. Ele estendeu a mão e deu um tapinha no ombro de Radinho, tentando transmitir algum apoio.

Radinho apenas balançou a cabeça, finalmente dando um sorriso pequeno, mas sincero. A presença de Foguinho ali, com aquele jeito descontraído, aliviava um pouco o peso que ele carregava sozinho. -Valeu, Foguinho. De verdade.

-Então, que tal dar uma volta? Sei lá, só pra sair desse clima. Não adianta nada ficar trancado em casa.

Foguinho sugeriu, levantando-se e puxando Radinho para fora da cadeira. Radinho hesitou por um segundo, mas logo cedeu, sentindo que talvez fosse uma boa ideia espairecer um pouco. Ele sabia que, com o apoio de Foguinho, não importava o que estivesse enfrentando, não precisava carregar tudo sozinho.

IMPUROS-Radinho Onde histórias criam vida. Descubra agora