Beatriz acordava devagar, a luz forte do ambiente forçando seus olhos a piscarem enquanto ela se ajustava à claridade. O cheiro de álcool e medicamentos entregava imediatamente onde estava: um hospital. Ela virou a cabeça para o lado, sentindo um peso em seus movimentos, e viu uma mulher de jaleco branco sentada ao lado de sua cama, com uma prancheta nas mãos. A médica parecia atenta, mas relaxada, como se já estivesse ali há algum tempo.
Beatriz piscou novamente, ainda tentando processar onde exatamente estava e por quê. Quando tentou se mover, uma pontada de dor atravessou seu lado, e foi aí que notou a bandagem firmemente colocada sobre seu abdômen. O tiro. A memória veio como um flash, e ela se lembrou de tudo: os tiros, o caos, o som ensurdecedor da bala que havia a acertado.
A médica percebeu seu movimento e se aproximou.
- Você está acordada. - A voz dela era gentil, mas firme. - Por favor, não tente se mexer muito. Você perdeu bastante sangue, mas conseguimos estabilizar você.Beatriz olhou para ela, a expressão ainda meio zonza.
- Onde... onde eu estou? - Sua voz saiu rouca, quase como um sussurro.- Você está no Hospital Geral do Rio. Chegou aqui trazida por alguns conhecidos. - A médica fez uma pausa, como se ponderasse o que mais poderia ou deveria dizer. - Foi um tiro complicado, mas felizmente não atingiu nenhum órgão vital. Ainda assim, você precisará de tempo para se recuperar.
Beatriz tentou lembrar quem teria a levado até ali. "Radinho? Wilbeth?" Os nomes vieram em sua mente como um turbilhão, mas antes que ela pudesse perguntar algo, a médica tocou em seu braço de leve.
- Você precisa descansar. Eu vou sair por um momento, mas voltarei para verificar você.Assim que a médica saiu do quarto, Beatriz virou o rosto para o teto, o coração pesado e a mente confusa. Estava salva, mas isso era tudo o que conseguia enxergar no momento. O que viria depois?
Beatriz estava desconfortável desde o momento em que abriu os olhos. O cheiro estéril e frio do hospital a enjoava. O lençol branco sobre ela parecia pesar toneladas, sufocando-a com o silêncio do quarto. Tentando se mexer, sentiu uma pontada na cabeça e um zumbido constante. Ela suspirou, frustrada, e olhou ao redor, percebendo a falta de familiaridade do lugar. "Onde estou?", sussurrou para si mesma.
Foi quando notou o papel sobre a mesa ao lado da cama. Curiosa, estendeu a mão trêmula e o puxou para perto. Seus olhos se arregalaram ao ler o título em negrito: MANDADO DE PRISÃO. O sangue dela gelou, e sua mente começou a correr em círculos.
Abaixo, lia-se claramente as acusações: "Assassinato de Lucas Albuquerque, ameaça a testemunhas, cumplicidade em atividades ilícitas junto ao tráfico de drogas." Havia ainda a menção de que Roberto Albuquerque, pai de Lucas, havia fornecido evidências contundentes. Segundo o documento, ele afirmava que Beatriz era manipulada por Wilbeth e Radinho, que a usavam para cobrir crimes e sustentar o poder no tráfico do Dendê.
Ela largou o papel no colo, as mãos tremendo. "Maldito Roberto!" Pensou. Ele havia transformado a dor da perda do filho em uma arma contra ela. Era mentira sobre ser manipulada, mas era verdade que ela tinha sangue nas mãos. Isso a deixava ainda mais vulnerável.
O som da porta se abrindo tirou-a de seus pensamentos. Uma enfermeira entrou, ajustando o soro e lançando um olhar desconfiado para Beatriz, mas nada disse. Assim que saiu, Beatriz começou a se agitar, tentando processar a situação. Radinho e Wilbeth não poderiam sequer visitá-la ali, fora do Dendê. Estava sozinha.
Ela olhou pela janela, o céu cinzento refletindo seu humor. A lembrança de Radinho e Wilbeth dançava em sua mente, aquecendo-a por um instante, mas logo voltava ao peso de saber que eles não estavam ali para protegê-la.
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IMPUROS-Radinho
FanfictionAs vezes mudar e foda. mas sempre tem seus pontos positivos e principalmente pontos negativos.