Contra O Sistema.

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Sara estava cansada de fugir. Não importava o quanto tentasse, parecia que a sombra do pai sempre a alcançava. A cada passo que dava, lá estava ele, como um lembrete constante de quem detinha o poder. Mas agora, ela estava exausta de viver à mercê disso. Fugir não era mais uma opção. Se esconder, muito menos. Só restava uma escolha: lutar. 


— Faltam só 27 dias para as eleições… Se meu pai ganhar, ele vai transformar a vida de todo mundo aqui num inferno. — declarou Sara, a voz firme, mas carregada de indignação. 



Wilbert observou Sara com um olhar preocupado, quase alarmado. Ela estava cruzando um limite que ele temia. O envolvimento dela com o mundo dele estava indo além do que ele considerava seguro. 



— Tá… E como você pensa em fazer isso? — perguntou Hermes, cruzando os braços. — As pesquisas estão subindo, e o Fontes tá comprando voto a rodo. 



— Se meu pai tá comprando voto, então a gente também vai precisar comprar. — respondeu Sara sem hesitar. — Mesmo que não consigamos impedir a vitória, precisamos, no mínimo, adiar a reeleição dele. Adiar a contagem dos votos ou forçar um segundo turno. Qualquer coisa para ganhar tempo. 



Burgos, que ouvia em silêncio até então, inclinou a cabeça com interesse. 


— Isso pode ser uma boa ideia. — disse ele, analisando. — Pelo que tudo indica, assim que Fontes ganhar, ele vai vir com força total. 


Evandro, que até aquele momento se mantinha calado, cruzou os braços e finalmente se pronunciou: 



— Beleza, mas como a gente faz isso? — perguntou. — Temos menos de um mês. Seu pai tá nessa campanha há meses.



Sara desviou o olhar, tentando organizar os pensamentos. As palavras de Evandro eram verdadeiras, mas ela sabia que o tempo não estava do lado deles. Ela precisava de um plano. Algo ousado, algo que usasse o que tinham a favor. E então, a resposta veio como um sussurro. 



— O Dendê. — disse, quase para si mesma. 



Todos na sala a encararam, esperando que ela continuasse. 



— Se convencermos cada morador do Dendê a não votar no meu pai e a apoiar qualquer outro candidato, podemos tirar votos o suficiente para forçar um segundo turno. — explicou, o tom agora mais confiante. 



Gilmar soltou uma risada alta, batendo no ombro de Wilbert. 


— Puta que pariu, Wilbert! — exclamou ele, divertido. — Arrumou uma namorada esperta pra caralho! 


Hermes sorriu, surpreso com o plano. 



— Porra… Não é que a bonitinha é inteligente também? 



Wilbert imediatamente ficou tenso. Levantou a voz para Hermes, sem esconder o ciúme. 



— Bonitinha o caralho, Hermes. — rosnou. — É minha mulher, porra. 



O ambiente ficou em silêncio por um momento, antes que Gilmar soltasse outra risada, quebrando a tensão. 



— Relaxa, Wilbert. Tua mulher tá salvando a pele de todo mundo aqui. — disse ele, ainda rindo. 


Sara ignorou a provocação e focou no plano. Ela sabia que convencer as pessoas do Dendê não seria fácil, mas era um começo. Se não podiam derrubar o poder do pai dela com força, talvez pudessem vencê-lo com estratégia. 













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Quando Sara saiu da contenção, seus passos eram rápidos, mas sua mente estava a mil. O plano que ela acabara de propor era arriscado, mas era o que tinha. A cada passo que dava, o peso das próximas semanas parecia aumentar em seus ombros. 


— Sara, espera. 



A voz de Burgos a chamou antes que ela cruzasse o portão. Ela parou, respirou fundo e se virou, encontrando o olhar sério dele. 



— O que foi? — perguntou, tentando esconder a exaustão na voz. 



Burgos se aproximou, sem rodeios. 



— Tentei tirar o dinheiro que você pediu, mas não consegui. — disse ele. — Parece que há uma cláusula no testamento da sua mãe que impede qualquer movimentação feita antes que você termine a faculdade de medicina. E caso você não terminei dentro do praso estimado do curso.....o dinheiro passa a ser do seu pai.  



Sara franziu o cenho, confusa. 



— Isso não faz sentido. — disse, cruzando os braços. — Quando minha mãe morreu, eu li aquele testamento do início ao fim. Não tinha nenhuma cláusula dessas. 


A expressão de Burgos endureceu. 


— Então é isso. — murmurou ele, como se estivesse encaixando as peças de um quebra-cabeça. 


— Isso o quê? — perguntou Sara, sentindo um frio na espinha. 



— Seu pai adulterou o testamento. — respondeu ele, sem hesitar. — Faz sentido. Ele deve ter mudado o documento a favor dele depois da morte da sua mãe, pra garantir que você não pudesse mexer em nada ou talvez até depois que descobriu sobre o Wilbert.


O choque atravessou Sara como uma onda. Ela sentiu o coração acelerar e o sangue subir à cabeça. 



— Ele... Ele não seria capaz disso. — disse, a voz mais baixa, mas as palavras soaram fracas até para ela mesma. 



Burgos arqueou uma sobrancelha, como se estivesse desafiando-a a acreditar no contrário. 



— Sara, você sabe quem é o seu pai. — disse ele, firme. — E sabe que ele faria qualquer coisa pra manter o controle. 



Ela desviou o olhar, tentando processar aquilo. Não era como se não soubesse do que seu pai era capaz, mas ouvir aquilo... A confirmação de que ele não tinha limites. Isso fazia tudo parecer mais real, mais sufocante. 



— Isso não pode ficar assim. — disse ela finalmente, apertando os punhos. — Se ele adulterou o testamento, então só tem um jeito de provar. 



Burgos inclinou a cabeça, curioso. 



— E como você pensa em fazer isso? 



Sara ergueu os olhos para ele, determinada. 



— Eu vou encontrar o original. — afirmou, sara. —  E vou fazer isso desmoronar.

Impuros - Nossa Liberdade.Onde histórias criam vida. Descubra agora