Discussão.

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Sara entrou pela porta, o som da maçaneta girando ecoando mais alto do que deveria em seus ouvidos. A casa estava em silêncio, como sempre, mas havia algo de diferente no ar. Um peso. Algo que a fazia se sentir deslocada, como se cada canto da casa a observasse. A sensação de estar pisando em terreno instável aumentava a cada passo. Ela sabia que estava caminhando em um caminho perigoso, mas o alívio de ter finalmente o testamento em mãos superava qualquer receio.


Fechou os olhos por um momento, tentando acalmar a mente que fervilhava de pensamentos conflitantes. A ansiedade era quase incontrolável. Com um suspiro profundo, ela empurrou a porta do quarto e entrou, fazendo o possível para não deixar transparecer o nervosismo. O silêncio parecia amplificado agora, preenchendo cada segundo.


Wilbert estava sentado na cama, o celular nas mãos. Ele levantou os olhos e, ao vê-la entrar, percebeu algo de imediato. A expressão dela estava estranha, os olhos brilhando com um desconforto palpável. Sem tirar os olhos dela, ele colocou o telefone de lado, sua atenção totalmente voltada para Sara.


— O que aconteceu? — A voz dele carregava preocupação.

Sara forçou um sorriso, mas ele não alcançou os olhos. Ela segurava a bolsa com firmeza, tentando disfarçar a tensão que a consumia.


— Nada demais. — Ela respondeu com um tom leve, mas suas palavras eram um véu sobre algo mais profundo.


Wilbert a observou com uma sobrancelha levantada, seus olhos afiados, desconfiados. Ele podia sentir que algo estava errado, muito errado, e ele não ia deixar isso passar.


Sara engoliu em seco, o peso de sua mentira a apertando. Ela não queria preocupar Wilbert, mas sabia que a verdade não poderia ser escondida por muito tempo. Havia algo que a empurrava a confessar, a ser honesta, mas, ao mesmo tempo, temia a reação dele.


— Eu fui à casa do meu pai... — Ela começou, suas palavras hesitantes, como se estivesse testando o terreno. — Precisava pegar algo importante.

Wilbert se levantou de imediato, os olhos agora fixos nela, a preocupação se transformando em algo mais intenso.

— O quê? — Ele perguntou, o tom de sua voz subindo um pouco, a frustração misturada com o medo. — Você foi até a casa dele sozinha? Sara, você sabe o quanto isso é perigoso!

Sara sentiu o peso das palavras dele, como se uma lâmina estivesse pressionando sua pele. Ela queria gritar, dizer que sabia exatamente o que estava fazendo, mas não conseguiu. Só ficou ali, segurando a bolsa, sentindo o medo crescer.

— Eu fui pegar o testamento da minha mãe... — Ela disse, o suspiro pesado ecoando entre eles. — Eu não podia esperar mais. Eu precisava dele.

A reação de Wilbert foi instantânea, a raiva misturada com a preocupação transbordando. Ele deu um passo em direção a ela, o olhar agora duro, ameaçador de uma forma que ela raramente via nele.


— O quê? — Ele sussurrou, a incredulidade clara. — O testamento da sua mãe, Sara? Você tem noção do que pode acontecer? Você sabe o que está fazendo? Você não pode se meter nisso sozinha! Não sem me contar, sem me pedir ajuda.


O tom de Wilbert era um misto de frustração e desespero. Ele não conseguia entender como ela poderia ter agido assim, sem pensar nas consequências, sem envolvê-lo. Mas Sara não queria ajuda agora, não queria mais esperar que ele resolvesse tudo por ela.


Ela sentiu o peso de cada palavra dele, como se estivesse sendo despojada de todas as suas justificativas. Mas a decisão estava tomada, e ela não voltaria atrás.


— Eu sei o que estou fazendo, Wilbert. — Ela respondeu, seu tom firme, quase desafiador. — Eu não quero mais esperar que ele resolva. Eu preciso fazer isso sozinha, por mim.


Wilbert a encarou, e por um momento, tudo o que Sara podia ouvir era o som de sua respiração, o silêncio pesado entre eles. Ele não sabia como convencê-la a mudar de ideia, e a frustração só aumentava. Ele não queria vê-la se arriscando, mas sabia que ela estava determinada.

— Você está se arriscando demais, Sara. E isso... Isso não vai acabar bem. — Ele disse, a voz baixa, mas carregada de preocupação. — Eu só... Eu só não quero te ver machucada.

Sara sentiu o peso das palavras dele, mas sabia que não havia mais volta. Ela não sabia o que o futuro traria, mas não poderia mais esperar. Finalmente, ela estava tomando as rédeas da própria vida, e, de algum modo, isso a fazia se sentir forte. Mesmo que tivesse medo, ela estava no controle.

Ela respirou fundo e olhou diretamente para ele, os olhos fixos nos dele, sem desviar.

— Eu sei, Wilbert. — Ela disse com a voz calma, mas firme. — Eu também não quero te ver machucado. Mas isso é algo que eu preciso fazer.


Ele suspirou profundamente, passando a mão pelo rosto, claramente frustrado, mas ainda preocupado. Mais uma vez, Sara estava se envolvendo demais, e ele sabia que as consequências disso seriam sérias. Mas ela já tinha feito sua escolha. E nada que ele dissesse mudaria isso agora.

Impuros - Nossa Liberdade.Onde histórias criam vida. Descubra agora