Confiando Em Burgos.

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O cheiro de cigarro e tabaco se misturava ao ar, fazendo Sara sentir o peso da situação sobre seus ombros. A ansiedade era palpável, uma sombra constante que a seguia, mas ela sabia que não podia voltar atrás. Cada passo que dava em direção à contenção era mais um salto no desconhecido.


Quando avistou Burgos, conversando com Hermes no canto, Sara parou por um momento, respirando fundo. Observou de longe, esperando que a conversa entre os dois chegasse ao fim. O coração batia acelerado em seu peito, e ela se forçou a manter o controle.

Quando a conversa finalmente terminou, Burgos pegou sua mala e caminhou em direção a Sara com passos largos, como se tivesse pressa. Ele parou diante dela sem dizer uma palavra, apenas aguardando.

Com mãos trêmulas, Sara retirou o testamento da mochila, sua respiração pesada. Entregou o documento com cuidado, tentando esconder a ansiedade que ainda a consumia.

Burgos a observou em silêncio, seus olhos frios e calculadores, analisando cada movimento dela. O ambiente parecia apertar em torno deles, a tensão se acumulando.

— Aqui está — disse Sara, tentando manter a voz firme, mas sua garganta estava seca. — O testamento da minha mãe. Agora, preciso que você retire o dinheiro do banco, sem que meu pai perceba.

Burgos não tocou no documento de imediato. Ele se manteve em silêncio, seus olhos fixos em Sara como se estivesse esperando algo mais. O peso do momento aumentava a cada segundo.

Finalmente, ele estendeu a mão, pegando o testamento com calma. Seus dedos tocaram o papel com precisão, como se fosse algo valioso, sua expressão implacável. Ele parecia estar pesando as palavras dela.

— E o dinheiro... — começou ele, sua voz grave e calculada. — Você realmente quer que eu faça isso sem que seu pai saiba? Sabe o que está em jogo aqui?

Sara assentiu com firmeza, o nervosismo apertando seu peito.


— Sim, Burgos. Se ele souber, tudo estará perdido. Não posso deixar que ele descubra que eu peguei o dinheiro. Eu confio em você para fazer isso sem deixar rastros.

Ele a observou em silêncio por mais alguns segundos, como se estivesse ponderando suas intenções. Burgos estava acostumado a lidar com negócios sujos, mas havia algo na urgência de Sara que o fazia refletir mais profundamente.


— Eu vou fazer o que você pediu — disse ele finalmente. — Mas precisa entender que, quando seu pai souber que o dinheiro sumiu, não haverá volta.

Sara sentiu um frio na espinha, mas não hesitou. Já tinha dado o primeiro passo. Não havia mais como voltar atrás.

— Eu sei, Burgos. Mas é algo que eu preciso fazer. Não tem outra opção. — Ela olhou-o diretamente nos olhos, sua voz mais firme agora. — Eu preciso que o dinheiro esteja nas minhas mãos, quando eu pedir.

Burgos a observou mais uma vez, como se estivesse guardando mais do que apenas um simples pedaço de papel entre os dedos. Havia algo em seu olhar, uma leve cautela, mas também uma compreensão silenciosa de que Sara já estava imersa demais para recuar.

— O dinheiro estará pronto na hora certa — disse ele, com um tom que não oferecia muitas garantias. — E então, Sara... o que você vai fazer depois?

Ela respirou fundo, a tensão ainda palpável, mas a determinação também. Não havia mais volta, só o futuro incerto que ela estava disposta a enfrentar.


— Eu farei o que for preciso — respondeu ela, sua voz mais firme, mas com um traço de incerteza. Seus olhos estavam fixos, mas havia algo lá, uma dúvida silenciosa, escondida sob a fachada de confiança.

Burgos não respondeu. Ele apenas fez um aceno de cabeça, como se estivesse aceitando o acordo sem mais palavras.

Sara deu as costas, pronta para sair, mas antes de cruzar a porta da contenção, ela se virou uma última vez. Olhou para ele, seu olhar cortante.


— Não me decepcione, Burgos — disse, mais como um aviso do que uma súplica.


Ele apenas acenou com a cabeça, impassível. Sem mais palavras, ela se afastou, sentindo o peso de sua decisão a acompanhando. Ela havia dado mais um passo no abismo, mas ainda não sabia onde isso a levaria.

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