Ego Flamejante

O9

(Eva)

Passei exata uma semana fitando o cartão. Talvez algo em mim não acreditasse que finalmente as coisas estavam indo por um bom caminho, mas foi hoje, que finalmente tomei alguma atitude.

Estou na porta do endereço que foi me dado. Trajo algo simples, como um short detonado e uma blusa lisa branca. Para proteger-me do sol, uso meu óculos escuro "centenário" de fato, muito antigo.

Taylor parece ter tomado um jeito, até pagou uma parte da grana que me devia, mas ainda continuo preocupada, ela parece gostar do dinheiro que recebe e anseia por mais. Outro dia comentou sobre procurarmos um cafetão. Não acredito. Para sermos mal tratadas e roubadas? Não, obrigada. Para falar a verdade, gostaria de sair dessa vida. Ela realmente não é para mim.

Não é desse jeito que me imaginava quando criança. Esse meu inferno pessoal parece que nunca vai acabar, apenas mergulho todas as minhas angústias em cada foda e ignoro todas as possibilidades. Sou culpada. Todos os dias fantasio o rosto do assassino do meu pai, precisava me apegar à algo, mas talvez seja eu mesma. Imagino destinos diferentes todos os dias. Poderia ter fugido com eles para longe ou ter ficado e lutado, mas nada fiz, apenas sentei e contemplei minha ruína. Fui fraca, mas agora é a oportunidade de ser forte e largar de uma vez por todas essa maldita vida.

- Desculpe. - Sou abordada por uma sombra. - Deixou cair isso? - Entro em estado de choque quando noto que me perdi em meus pensamentos, de forma que quase perdi o cartão de Mona.

- Sim, muito obrigada. - Estava sorrindo para as sombras, até avistar a mais amigável e familiar de todas. - Oi. - Impossível conter o sorriso espontâneo que formou-se em meus lábios.

- Eva, certo? - Um lindo dia de verão, antes fosse ironia, mas a luz irradia dos olhos azuis de Logan.

- Eva Moore. - Estendo minha mão para o homem. Sinto-me uma idiota por ter os lábios congelados por um sorriso.

- Logan Lee. - Antes de cumprimentar-me, o homem tira um punhado de seu cabelo negro liso caído no rosto, revelando um sorriso extremamente branco e cativante.

- Eu vim pela Mona. - O encaro os olhos, numa tentativa desesperada de descongelar a boca.

- Fico feliz que tenha seguido meu conselho. - Ele sobe a manga de seu blusão branco, enquanto fita-me diretamente nos olhos.

- Sério, você não precisava me ajudar... - Respiro fundo, acredito fielmente em minha afirmação.

- Sim, eu precisava. - Logan mergulha suas mãos nos bolsos, adentrando a agência comigo.

- Por qual motivo disse aquilo para mim? - Indago, mas percebo certo incômodo e hesitação.

- Não foi nada. - Eu sei que ele está mentindo, mas também não sei a verdade.

- Certo, do mesmo jeito, obrigada. Acho que assumo daqui. - Estamos frente à enorme porta de vidro, que liga diretamente na sala principal da agência.

- Quero ajudá-la. - Logan insiste e não precisa ouvir minha resposta, me toma a mão e adentramos juntos o local.

- Você deve ser Eva. - Sou abordada no ato por uma pessoa e quando observo-lhe a cara, vejo que se trata de Nate.

- O que você faz aqui? - O cumprimento. Não consigo esconder o quanto acho estranho.

- Não trabalho naquela boate docinho. Digamos que Mona tem um ótimo olfato para grandes potenciais. - Ele diz, como se me enganar não significasse nada.

- Então tudo foi armado? Eu pensei que aquele russo iria me matar! - Olho para baixo aliviada, mas quando olho para Logan, ele me encara.

- Era o meu pai. - Ele se mantém sério, mas logo rende-se ao riso. - Ele realmente dá medo.

- O importante é que você está aqui, anjinho. - Nate alisa meus fios com animação.

- Sim, minha irmã até me ajudou. Ela gostou de você. - Logan parece ser sincero desta vez.

- Ao olho nú posso ver que suas medidas são perfeitas. - Nate me rodeia com uma fita medidora.

- Não será necessário. - Uma voz dura e fria invade nossa conversa e quando desvio para a dona, vejo uma figura alta de cabelo curto platinado. Veste-se com a mais alta elegância, só pode ser Mona.

- Puxei sua ficha. Bem novinha sua mãe tentou colocá-la nesse ramo. Por qual razão não conseguiu? - Ela retira de sua boca um cigarro branco.

- Falta de grana. - Por um lado era verdade, mas omitir o motivo não fará falta.

- Mostre-me o seu desfilar. - Ela senta-se. Seu constante tédio me assombra.

Coloco minhas coisas na mesa de vidro e com a postura reta e natural, imagino-me caminhando em um parque no outono. Do outro lado, avisto Logan, onde numa brisa comum da época leva-me ao alvoroço meus fios dourados. É como se estivesse lá, mas de fato, só atravessei a sala.

- Magnífico, Eva. - Ela levanta-se e passa a analisar meu corpo. - Belas medidas. Já possui um book? - Logan a interrompe.

- Sim. Bom se não se importa a hora da Eva já está chegando. - Ele levanta num pulo e toma a minha mão. - Acho que seria muito sábio da sua parte colocá-la no desfile de amanhã. Afinal, são as peças do meu pai. - Ele sorri, mas não encontro um traço de alegria. É puro deboche com tal mulher extremamente influente.

Sinto-me deslocada e sem direito de protestar, mas é a coragem de Logan que me tira daquela sala, assim como da agência.

- Eu não tenho book. - Comento na saída do lugar.

- Eu sei, mas é só uma forma deles faturarem em cima de você. Não deixe isso acontecer. Quando demonstra-se desesperada, dificilmente te chamam para alguma coisa. - Ele me explica calmamente, enquanto aperta o passo comigo.

- Preciso encontrar com minha amiga. - Digo e logo paramos.

- Então isso é o seu "até logo"? - Ele fita o chão, enquanto emite uma risada que me deixa embaraçada.

- Ficarei atenta em meu celular. Pelo que deduzi, me seguiram, é difícil não ter meu número. - Despejo uma série de palavras para conter minha vergonha, mas logo dou-me conta que o momento não deve ser desperdiçado.

- Foi um prazer conhecê-la, Eva. Até amanhã, certo? - Ele dá uns passos para trás, enquanto me distraí com o costumeiro sorriso doce.

- Até amanhã. - É duro virar-me, mas em todos os momentos da vida, é necessário algumas despedidas. Por mais que elas soem como um "até logo" minha alma me satisfaz, pois num curto período de tempo, senti-me realmente bem ao lado de um homem.