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(Eva)



É como se depois da revelação, eu sentisse algo rastejar em minha pele todo o momento. Não me sinto humana e às vezes acho que fui uma criatura feita em laboratório, uma invenção fracassada, perambulando na multidão, tentando esconder os tormentos de um monstro do passado.


Eu tremo e ultimamente sou atormentada por muitos pesadelos  de meu estupro e o escuro daquela noite, simplesmente desaparece... Consigo ver a cara de meu pai.


Estou frente à enorme placa metálica, que diz: "Dr. Grey - Psiquiatria" e enquanto tento reorganizar meus pensamentos, meus olhos apresentam um tremelique nervoso, estou impaciente e por um momento, não acho necessário ter marcado hora.


Eu não me sinto eu mesma.


Puxo do bolso um frasco de calmante e os observo tremer com meu toque, mas logo respiro fundo e o guardo, entrando no lugar.


  -  Oi, eu marquei hora com o Dr. Grey. -  Tento parecer o mais normal possível e escondo meu tremelique nos bolsos.


-  Oh, claro. Um momento. -  A mulher pega o telefone. -  Ela está aqui.


Eu sei que dei sorte, Dr. Grey é um dos psiquiatras mais prestigiados da região e possuí um ótimo histórico e recomendações, sei que ele pode me ajudar. Além do mais, ninguém é podre de rico à toa.


    -  Por favor, entre. -  Ouço uma voz levemente roca e atraente vindo da porta de madeira escura entre aberta.



  -  Certo. -  Enterro o calmante ainda mais fundo no meu bolso e adentro da sala.


Ao entrar, já noto o ambiente circular e o teto com um estilo arcaico. Música clássica toca, acredito que seja Mozart.

Livros novos, esse é o cheiro que me toma o olfato. Passo uma última vez o olhar pelos móveis de madeira escura, perfeitamente organizados e limpos.


  - Olá, senhorita. -  Identifico a ronquidão e viro para o homem sentado em uma poltrona frente à enorme prateleira de livros.  - Por favor, sente-se.



  -  Eu conheço você. -  Aproximo-me sorrateira do homem de beleza tipica dinamarquesa.  Ele traja um terno marrom escuro e possuí um olhar tão hipnotizante, que faz meu corpo estremecer. Como eu poderia me esquecer dele?



  -  Kraven ou como preferir, Dr. Grey. -   O homem anui com a cabeça, fazendo-me reparar em umas linhas faciais em seu rosto, certamente adquiridas com o tempo.



  -  Meu Deus. -  Sento-me na poltrona à sua frente e cruzo as pernas. -  Você é rico! O que estava fazendo trabalhando naquela casa?


-  Se não se importa, Srta. Moore, não gostaria de fugir de nosso contexto. -  Suspira Dr. Grey, observando-me minuciosamente com sua orbes verdes.



  -  Certo. -  Sinto um aperto no peito, mas tento amenizar respirando fundo.  -  Tudo bem... -  Comento, mesmo sabendo que não estou.


  -  Parta do princípio. -  Dr. Grey está sério e parece ter um completo diagnóstico apenas me observando. Não gosto disso, ele me deixa nervosa. Me faz sentir como uma criança e me atrai com toda a sua sabedoria estampada no próprio rosto, no olhar sereno, calculista...



  - Eu fui estuprada quando mais nova e tive um filho. O assassinaram. Depois disso tudo, fiquei muito mal. Tive que me prostituir para conseguir sobreviver e recentemente achei minha irmã mais nova (que minha mãe havia trocado por drogas) e como deve saber, reencontrei Nero, e... -Atropelo as palavras.



Ego FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora