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(Eva)

- Você é uma vadia sortuda. - Taylor libera sua fumaça, enquanto está encostada em um poste.

- Estou com medo. - Tento aquecer-me do frio, de forma que compensa minhas vestes curtas e chamativas. Estou em horário de trabalho.

- Medo? - A menina observa a rua movimentada.

- Eu não sei. - Sento-me em um banco, enquanto abaixo a cabeça. - As coisas estão indo por um caminho bom demais. Eu não sei...

- Ei, pare de se cobrar tanto. Deveria experimentar aproveitar essa sua nova fase. - Um momento muito amigável, porém curto. Quando Taylor avista um carro chamá-la, o avança como uma serpente.

- Tchau para você também. - Numa plausa glotal, finalmente encontro-me sozinha.

Mona havia entrado em contato comigo, mandou-me um e-mail dizendo a hora e o local. Minha cabeça ainda está confusa pra porra. Eu vivo no mundo real e aqui essas coisas não acontecem. Sei que é errado mostrar-me tão desconfiada, mas acredito que a bondade de Logan seja questionável.

Taylor acha que sou pessimista e que deveria aproveitar, mas ainda me sinto presa com uma âncora em meus pés. Meu passado sempre me afunda, fazendo-me lamentar sentimentos que ainda não senti, momentos que não vivi.

Mesmo com minha desconfiança, jamais iria desistir de uma oportunidade como essa que foi me dada. Finalmente poderei sair dessa vida e quem sabe, ter uma vida, de fato.

- Não pensei encontrá-la aqui. - Voz de menina. Quando a olho, não posso deixar de reparar na pesada jaqueta de couro, que quase cobre todo o seu corpo magro. A garota segura um cigarro, enquanto com a outra mão limpa o resíduo de maquiagem escura do olhar.

Arqueio a sobrancelha, no mesmo momento em que observo seu cabelo castanho armado. Delinquente e bastante desagradável. Quem é mais qualificada nesses requisitos do que Holly? Mais uma peça da família Lee, que sinceramente, está me perturbando.

- O que faz aqui essa hora? - Ela indaga, colocando suas mãos em seus bolsos. - Você não sente frio?

- O que faz aqui, digo eu. - Sou ríspida. Não acho necessário distribuir sorrisos para quem mal conheço.

- Logan pediu para trazer algumas recomendações e... - Holly é interrompida pela voz de Taylor, que intromete-se na conversa, completamente extrovertida.

- Menina, tu perdeu. Aquele coroa me pagou 300 reais por uma mamada.

- Desculpe, eu perdi alguma coisa aqui? - Holly olha para os lados, onde tenta engolir seco.

- Quem é a engomadinha? - Taylor mastiga seu chiclete em alto e bom som. - Querida, se você é nova aqui, já te adianto que essa parte da rua é minha e da Eva.

- Não sou prostituta, meu doce. - Quase saem faíscas de seus olhos.

Estou imóvel e minha barriga parece que vai voar. Não acredito que isso esteja acontecendo, minha única oportunidade sendo jogada ralo à baixo. Ela não deveria saber. Como explicarei para Mona que ela contratou uma prostituta?

- Não é isso que está pensando. - Tento explicar-me, mas é claro que tudo soará como loucura, pois ela tem todas as provas reais de que sou garota de programa.

- Não. - Ela fecha os olhos, enquanto balança a cabeça negativamente. - Você só é uma putinha qualquer. Como conseguiu o cargo, hm? Deu pro meu irmão, foi?

- Olha aqui, sua piranha - Taylor arma um barraco, mas a contenho com um olhar.

- Eu cuido disso. - Digo, levantando-me. Minha amiga se afasta, ela sabe o momento certo em que tenho que fazer algo sozinha.

- Estava enganada sobre você. Pensei que trabalhasse como dançarina, pelo menos é mais honesto que vender a vagina. - Holly joga o final de seu cigarro fora, liberando o final de sua fumaça.

- Uma boa mulher admite quando é puta. - Dou de ombros. Xingar-me de piranha ou algo do tipo, passa despercebido em minha dignidade. - O ponto é: Vai contar?

- Por que faria isso? - Ela cruza os braços, encarando meu vestido vermelho com repulsa.

- Ótimo. Agora pode sair. - Sento-me novamente, enquanto procuro algum cliente com os olhos.

- O que quer dizer com isso? - Ela não se move e parece não querer fazê-lo tão cedo.

- Sabe, Holly... - Um enorme sorriso estampa minha cara. - Meu trabalho de puta nessa esquina consegue ser mais honesto do que tudo o que vai ter na vida e sabe por quê? - Levanto-me numa breve caminhada que aproxima nossos corpos. - Você é tão falsa, que acaba envenenando tudo o que faz.

- Não teste minha paciência. Só quero deixar claro quem realmente dá as cartas por aqui, bebê. Eu sei algo sobre você e o que sabe de mim? - Ela vira-se batendo seu cabelo em minha cara. - Absolutamente nada. Acho que é 1 à 0 para mim.

Quando o poço de podridão finalmente vai embora, sei que estou sendo ameaçada e que essa história ainda me renderá muita dor de cabeça, mas posso prometer o mesmo para ela.

Ninguém tenta derrubar-me antes de provar um pouco de minha garganta venenosa.


Ego FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora