27

689 113 25
                                    


(Nero)

Eu e o meu bando não costumamos nos encontrar em um lugar específico, deixaria muito na cara o que está acontecendo. Não possuo só uma grife famosa, como também gerencio uma linha de mercenários, que garantem meu poder e influência na sociedade através da forma mais agressiva.

Recentemente, Adolf me alertou que eu estava sendo traído por todos. Hoje, estou realizando uma reunião, afim de desmascarar esses desgraçados.

Estaciono meu carro. A noite é chuvosa, mas o que me rega de verdade são as luzes da rua, repleta de hotéis. Hoje não é um dia para ser formal, trajo minha jaqueta de couro e um jeans desbotado, pretendo me sujar muito.

Surge um homem no fim da rua, alto, forte e ruivo. Trata-se de Adolf. Talvez a única pessoa em que posso confiar nessa espelunca de lugar. Errar em todos, mas acertar em um. O dia não está sendo tão ruim assim. Só preciso de um bom homem e o resto, só é resto.

- Está tudo certo, cara? - Indaga Adolf, aproximando-se do meu carro.

- Melhor impossível. - Abro o porta mala e pego uma AK 47, um dos maiores tesouros que eu pude trazer da Rússia. Uma arma belíssima aos meus olhos.

- Se não se importa... - O mercenário puxa algumas facas de arremesso. - Prefiro fazer isso silenciosamente.

- E eu mais rápido. - Rebato ao fechar o porta malas.

- Por que não mandou seus empregados fazerezem o trabalho sujo? Estou impressionado que esteja aqui, Nero. - Adolf acaricia sua barba cerrada, enquanto me encara desconfiado.

- Ninguém me trai e sai ileso disso. Prefiro fazer eu mesmo e que sirva de recado para os próximos. - Viro o rosto com um semblante fechado, estou falando sério.

- Tudo bem, cara. - Ele rende-se e logo caminha junto à mim para o depósito abandonado, onde encontraremos os traidores.

- Assuma daqui, os aqueça, já estou a caminho. - Digo ao notar um movimento estranho atrás de umas folhas de árvore.

- Tudo bem, o trabalho sujo sempre tem que ficar para mim mesmo... - Retruca Adolf, que já caminha para longe de mim.

Respiro fundo. Só posso estar ficando maluco, mas juro que vi algo atrás daquela árvore.

- Não faça isso... - Ouço uma voz feminina suave ecoar de trás do tronco.

- Isso o que? - Sou guiado ao meu instinto e ignoro o quanto tudo aquilo soa como loucura para mim.

- Não se destrua mais por dentro... Você já está em cacos, Nero. - Há certa tristeza em seu tom de voz, como se já tivesse previsto tudo, como se sentisse toda a raiva que estoco dentro de mim.

- Eu não me importo em me magoar mais um pouquinho. Aliás, é isso que as pessoas gostam de fazer comigo, mas agora é a minha vez. - Amaldiçoo o vento, enquanto digo tudo apontando grosseiramente para o meu peito.

- Tanta raiva não vai te levar a lugar nenhum. - Uma aura branca toma a minha vista. Aos poucos posso enxergar o loiro de seu cabelo levemente encaracolado... Uma silhueta com curvas vestidas por uma camisola de seda branca. Um anjo a minha frente ou simplesmente Eva.

- E o que você entende sobre isso, hm? Tudo o que você faz é para me diminuir, você praticamente deixou a raiva ser uma parte de você. - Digo tudo o que penso para o que vejo a minha frente. É a forma como me sinto, completamente amargurado. Principalmente por guardar tanta culpa, toda essa sensação de impotência. A raiva só é um combustível, que agora, queima em mim.

Sei que estou ficando louco, mas me sinto bem em olhar essa alucinação. Por outro ponto de vista, a loucura no momento tem me afugentado para o lugar mais calmo em que consigo pensar.

O cheiro floral de Eva e o gosto de um enorme morango suculento me tomam por completo ao observa-la tão serena, livre de toda aquela carga negativa que simplesmente escurece todos os seus traços de menina.

Eu a olho nesse exato momento e vejo tudo o que eu queria que ela fosse. Apenas uma jovem, que não precisou amadurecer antes do tempo e principalmente que não precisou saborear tão cedo o amargor da vida.

- É isso que me afasta de você... - A mulher diz, entendendo sua mão.

- Não... - Respondo com um aperto no peito. - O que realmente me afasta de você, é nada mais nada menos, do que você mesma. - Avanço para a frente, indo embora, enquanto sinto a alucinação se dissolver no ar.

Chegando no depósito, avisto seis homens enfileirados com mordaças e mãos amarradas, todos de cabeças baixas.

- Já cuidei para que ficassem quietos. - Diz Adolf cruzando os braços ao meu lado.

- O que vocês acham que aconteceria com vocês, hm? - Indago, caminhando entre os homens amarrados.

Um homem parece se manifestar e Nero arranca a mordaça alheia para ouvir uma resposta.

- Eu tenho uma filha para criar, precisava de mais dinheiro. - Responde o mercenário. Sua careca pinga sangue.

- Porque não pediu minha ajuda, hm? - Levanto brusco o rosto do homem para me encarar os olhos.

- Eu precisava muito.... - O homem tosse, quase engasgando enquanto fala. - Foi a maneira mais fácil.

- Sinto muito pela sua filha... - Deixo a cabeça alheia tombar para baixo novamente e enquanto viro, apenas ouço os miolos do homem serem explodidos por Adolf. - Resposta errada, queridinho.

- Não queria fazer isso silenciosamente? - Indago para o ruivo, que tira a mordaça de todos.

- Acho que estou seguindo o seu conselho. A praticidade é mais agradável. - Responde Adolf.

- Para quem vocês trabalham agora? - Pergunto sereno, enquanto saco a minha arma.

- Senhor.... Por f..... Não.... Não atira! - Implora o mercenário mexicano.

- Se você colaborar te mantenho vivo. - Respondo, observando minuciosamente seus olhos. Sei detectar mentiras facilmente.

- Ele tinha muito dinheiro, muito mais do que aparentava ter. Bom.... Er.... Ele me dava um pouco de medo. Parecia que queria matar a gente. No começo não entendi muito bem o que ele queria. Ele estava coberto por um sobretudo escuro e óculos de sol, mas ainda sim, vi a beirada de seu cabelo, totalmente estranho. Acho que queria destruir você, mas eu juro Senhor.... Não faria mal algum contra você ou sua família....

- Eu sei. - Respondo, entregando a arma para Adolf.

- Ele nos deixou esse endereço para enviarmos cartas de reclamação caso algo desse errado, pois deixou claro que não nos encontraria mais pessoalmente. Já tentei descobrir onde leva esse endereço, mas certamente não é possível encontrá-lo através disso, eu só sei que tudo o que se envia para lá, de alguma forma, chega nas mãos dele. - Admite o mexicano, ofegante.

- Ok. - Olho para Adolf e assinto com a cabeça. - Mate todos e mande os pedaços para esse tal endereço. Espero que esse filho da puta entenda o recado.

Dou de ombros e viro para ir embora, enquanto ouço lamentos mesclados com o barulho dos tiros frenéticos.



Ego FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora