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(Observador)

Uma semana se passou após o conturbado encontro de Nero e Eva, mas o empresário parece não ter superado. Sua companhia tornou-se insuportável, já que anda demonstrando ser mais arrogante e agressivo do que nunca.

Uma sala vazia, no começo da noite. O céu já apresenta uma coloração escura e Nero observa a lareira sentado numa cadeira rústica de madeira. O calor o ajuda a refletir.

Sua tatuagem parece incendiar suas costas, é o que a culpa faz com as pessoas. A vontade de arrancar sua pele, ainda se faz presente, mas o homem alivia seu nervoso acariciando um pouco seu cavanhaque.

O objetivo de seu roupão de seda vinho é confortá-lo, mas provoca sensações contrárias pelo nervoso.

- Senhor. - Um homem de aparentemente 40 anos e beleza típica dinamarquesa (Olhos esverdeados, lábios finos, mas bem desenhados), entra no lugar. A aparência alheia, o proporciona um ar charmoso, uma vez que ao reparar bem no cabelo escuro partido ao lado, há alguns fios grisalhos.

- O que foi, Kraven? - Nero responde seu mordomo.

- Vim em nome da Sra. Lee, ela mandou avisá-lo que o jantar está pronto. - Postura impecável e olhar completamente submisso, Kraven o responde.

- Certo. - Nero rebate, mas antes do mordomo partir, o homem levanta o indicador. - Espere.

- Sim, senhor. - O submisso vira-se com as mãos para trás, seu olhar é sereno.

- Esse chão está muito sujo. - Sr. Lee observa o assoalho escuro e logo desvia sua atenção para os olhos verdes e fragilizados de seu Kraven.

- Se me permite, Sr... Não vejo sujeiras. As empregadas realizam um ótimo trabalho, senhor. - Trêmulo e deslocado, Kraven responde, contorcendo seu nariz.

- Então, eu estou mentindo? - O russo levanta a sobrancelha e o encara com os olhos semicerrados.

- De forma alguma, senhor... - O submisso balbucia algumas palavras, mas logo tomba o rosto para baixo, apenas ressaltando suas olheiras escuras.

Nero assente com a cabeça à medida que escuta seu empregado gaguejar e entorna no chão uma taça cheia de vinho. - E agora? Tem algo para limpar?

Kraven abre a boca de pânico - pois sua mania de limpeza o deixa desesperado. Um borrão roxo escuro toma o assoalho de uma forma devastadora para ele. O rapaz morde os lábios de nervoso e ao virar os olhos encontra os de seu chefe, que parece rir por dentro de toda aquela situação.

- Com toda certeza eu chamarei uma das empregadas para limpar essa bagunça.

- Não. - Nero faz um som com a língua de negação. - Você limpa isso. - Os olhos do homem brilham e um sorriso doentio forma-se em seus lábios. Claramente humilhar os inferiores o faz bem.

- Mas, Senhor.... - Kraven sente vontade de chorar por pegar-se tão indefeso. Como se não bastasse seu trabalho mesquinho, ainda tinha que aguentar as humilhações constantes de todos da casa. Enfrentou a vida toda pessoas como a família Lee, sempre escorraçado pelo seu jeito desfuncional e estranho. Sua aparência lembra um psicótico, mas na verdade, só guarda muitas magoas e nada faz. Simplesmente um ótimo empregado que possui seu talento desperdiçado pela ignorância de seu chefe.

- Está me contrariando? - Nero franze a testa, apertando seus lábios para conter o riso da desgraça alheia. - Você sabe o que acontece quando alguém diz não para mim, não sabe?

- Sim, senhor... - Cabisbaixo, Kraven responde num sussurro.

- Limpe com isso. - Nero o taca uma escova de dentes. - Melhor não deixar resíduos... Meredith ficaria arrasada ao saber que o cômodo que ela mais gosta está manchado.

Ego FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora