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(Eva)

Inúmeros vultos pairam ao meu redor. Meu espírito queima em malevolência e minhas forças são reduzidas à nada, quando comparada com minha vontade de viver.

Respiração quente, músculos fracos. O meu quarto de hospital cheira a iodo e a dificuldade em abrir os olhos é tanta, que os sinto arder com intensidade. 

Com um pouco mais de esforço enxergo um borrão alto, parece vestir uma blusa branca, com um casaco escuro em baixo. Sinto desespero, pois pensava que todo esse tempo que se tratava de alucinações, mas esse borrão, aproxima-se da minha cama, como se já fosse de casa. Ele pega a minha mão trêmula.


- Quem é você? - Indago, ofegante. Minhas pernas tremem, por conta do máximo de esforço que faço para abrir os olhos.

- Eu estou aqui. - As mãos grandes e macias me confortam, subindo o carinho até o topo da minha cabeça.


Antes de apagar por completo, noto que se tratava de um russo.


(Agora)

Um clarão me desperta de meu transe. Estou frente ao espelho, trajando um vestido azul, totalmente florido e rodado.

Eu e Taylor estamos nos preparando para o almoço de sua namorada. Quando avisto minha amiga é impossível não reparar nos tons marrons escuros que escolheu em seu vestido e maquiagem.


- Nossa! Ótimo dia para morrer, viu? - A provoco, ajeitando minhas pontas do cabelo, agora, encaracolados. 


- Hoje tô pegando leve! - A garota se joga na poltrona ao lado de Cassie.

- Você parece morta. - Diz a menininha, ajeitando sua enorme mecha rosa.

- E você está com a mesma cara de pirralha. - Taylor rebate, tentando imitar o tom infantil.

- Meu Deus! Tem certeza que a criança aqui sou eu? - Inquiri Cassie, levantando-se com sua tigela de cereal. 

- Será que dá para passarem um dia sem despejar merda no ventilador? - Entro em cena à tempo para avistar Cassie saindo do cômodo, com um sorriso para mim.

- É essa pirralha que não sossega. - Taylor sussurra, tentando livrar-se da culpa.


Ouvimos um buzinar ecoar por todo o lugar, é o táxi que chamamos.  Não costumo ter esse tipo de regalia, mas Taylor jura de pé junto que sua namorada já o pagou. Espero que não seja nenhuma furada, minha amiga já teve seu histórico de namorados possessivos e impostores. Mais uma na lista não será surpresa para ninguém. Por mais que eu deva ser otimista com a vida amorosa dela, desço as escadas da casa com desconfiança.

- Bora, garota! - Diz Taylor, dando um tapinha nas minhas costas, enquanto corre na minha frente.

Não demoro muito e já adentro o veículo junto a até então 'afobada'.

- Tenho certeza que Meredith vai amar você. - Taylor segura minha mão, tão animada que não percebe quantos suspiros dá.

- Só não entendo a razão de não ter me contado que é lésbica. - Desabafo, a encarando os olhos esfumados com uma sombra escura.

- Não achei que fosse necessário... Quero dizer, você passa tanta coisa... - Ela respira fundo, agora livre de seus pensamentos apaixonados.

- Para ser sincera eu sempre desconfiei, mas nunca tive certeza. - Confesso, olhando para os lados. - Eu tenho outra dúvida.

Ego FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora