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(Nero)


{TARDE}

Meu terno escuro parece realçar o loiro do meu cabelo partido ao lado. Mergulho minhas mãos nos bolsos do paletó e observo o dia ensolarado, através da enorme janela de vidro da minha empresa. O tempo está passando muito devagar, não é como antes. Ter notícias de Eva me faz falta, não sei explicar ao certo, é como se tapasse uma parte do meu vazio. Agora estou mais amargo do que nunca. Nada me parece interessante o suficiente, mas ainda tenho fé que as coisas mudem.

- Sr. Lee... - Um maltrapilho ruivo entra na sala educadamente, avisando-me. - A secretária o espera.

- Mande-a entrar. - Viro-me, sentando na cadeira giratória.

- Com licença. - Subo o olhar pelas canelas alvas e tatuadas, depois pela sua cintura fininha, à tempo de avistar os enormes fios azuis, piercing no canto dos lábios e olhos negros marcados por um delineador.

- Deus... - Balbucio num sussurro desacreditado. Definitivamente essa garota quebra todos os meus padrões éticos, mas ainda sim, rouba completamente minha atenção. Que gostosa.

- Boa tarde, Sr. Lee. - Quando finalmente nos pegamos à sós, a mulher abre a pasta em seu colo. - Como deve imaginar, fui indicada por outra agência, e... - A interrompo.

- Co-co-mo? Como você consegue emprego com essa aparência? - Levanto-me, logo caminhando para o estofado ao lado da cadeira da mulher.


- Desculpe, Senhor. Não entendi o que quis dizer. - Ela me lança um olhar dominante, algo que me atordoa por alguns segundos.


- Você é muito diferente. Seu jeito, seu cabelo, suas tatuagens. Nunca reclamam? - Indago, a curiosidade é maior que minha delicadeza.


- Se me permite, Senhor... - Ela levanta as sobrancelhas perfeitamente desenhadas. - Não costumo ser questionada sobre minha aparência. Acredito que queira saber sobre minha competência e como ela é bem recebida pelos meus superiores.


Repouso minhas costas sobre o estofado macio, lançando em suas coxas um olhar safado. - Como se chama?


- Me chamo Morgana. - A mulher tenta sentir-se confortável com minhas olhadas descaradas.


- Certo, Morgana. - Puxo a ficha em seu colo e jogo na mesa, encontrando seus olhos, num observar intenso e objetivo. - Me fale sobre você. Quantos anos tem?


- Tenho 25, Senhor. - As pernas femininas se cruzam, quando finalmente percebo que ela entendeu minhas reais intenções.


- Por que escolheu aqui? - Entrelaço os dedos, sem quebrar por um segundo nosso contato visual. Seria esse o começo de um jogo psicológico?


- Evidente que sou uma grande fã do seu trabalho. - Ditos lentos, gostosos ao ouvido, Morgana sabe muito bem algumas técnicas de persuasão.


- Uma fã minha por aqui? - Acaricio meu cavanhaque, enquanto a analiso minuciosamente. - Devo me sentir honrado?


- Mas é claro, Senhor. Todo esse império construído é de sua autoria. Plantou a ideia e agora colhe o sucesso. Como não admirar uma mente que pensa de forma tão brilhante? - Responde Morgana.

Ego FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora