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(Eva)


Deve ser por volta das 3 da madrugada, Taylor não me dá notícias desde a noite anterior. As coisas andam complicadas, me encontro amarga e sempre sentada em frente à janela ao lado da escada de incêndio. Posso ver daqui como a cidade é iluminada, consigo enxergar a máscara que cobre toda a orgia, violência, mentira, que me cerca.

Por que faço isso comigo mesma? Ás vezes gostaria de ser mais dura com as pessoas, dizer tudo o que penso sobre elas, olhando em seus olhos. Anseio pela personalidade forte de menina "problema" ou até mesmo a megera, mas eu não passo de cãozinho afugentado. Fugir, chorar um pouco, sempre me parece a melhor solução dos meus problemas. Não importa o quanto meu dia tenha sido "produtivo" sempre acabo sentada nessa janela, o único lugar em que eu posso ser eu mesma - demonstrar toda a minha frustração, minha tragédia. E como eu faço isso? Meu amigo, a confusão não pode ser vista ou gritada exteriormente, mas por dentro, já estou no meu décimo suicídio. Quero ser forte, sou inquebrável diante dos olhos curiosos, mas a verdade é que estou em pedaços.

Como desejar um futuro melhor para si, se você precisa do sujo e imoral para sobreviver? É repulsivo a forma como preciso ganhar o meu pão. Quando fecho os olhos, só consigo imaginar o desgosto que sinto de mim mesma. Eu deveria ter feito as coisas diferentes, quem sabe ter erguido a cabeça no momento certo e ignorado o fato de meus pais serem completamente ferrados, mas eu precisava deles. Precisava disso, precisava de toda essa dor! Aquilo me alimentava, tornou-se minha droga, acabei viciada. 


Quando se prova muito da decepção, trancar-se no quarto e chorar, tornar-se recompensa. É lá que você pode gritar, ser quem é. É quando finalmente você pode sentir sua alma incendiar desejos inalcançáveis, planejar metas, dizer para si que tudo ficará bem - quando na verdade, você sabe que não vai ficar.

Vi muito dos meus amigos caírem de cara no mundo, suicidaram-se, drogaram-se, embebedaram-se e onde eu me encaixava nisso tudo?

Eu tinha um irmã, ela era muito pequena. A mãe estava maluca, não podia nem cuidar da criança. O pai sempre cheio de conspirações, muito ocupado para os afazeres infantis. Cuidava dela com o pouco dinheiro que minha mãe não gastava em drogas. Nossa casa era um lixo, toda empoeirada, móveis revirados e ora e outra minha mãe num canto da sala, com o cabelo loiro completamente armado e seu semblante viciado e psicótico. Seu nariz sempre estava escorrido e repleto de resíduos de pó. 

Demorou um pouco, mas teve uma hora em que a criança não reconheceu mais a própria mãe. Aquilo para mim foi um alívio. Ela nunca foi uma.


Quando comecei a minha rotina nas esquinas, estava confiante que pegaria minhas coisas e finalmente iria embora daquele inferno com minha irmã. Sempre a prometia o mundo, pois eu era tão menina como ela. Inocentes, imaginávamos o universo como um enorme lugar a ser explorado, mas éramos tão pequenas para perceber que já vivíamos no mundo em que "idealizávamos" perfeito. Este mundo era a nossa imaginação, a única coisa que nos livrava das surras que minha mãe levava do meu pai, de todas aquelas pessoas drogadas que frequentavam nossa casa e bandidos que vinham cobrar dinheiro.


Como nada é perfeito, tudo foi por ralo à baixo. Até hoje não sei onde está minha irmã, esse foi o motivo de ter saído de casa com meus míseros 12 anos. Pensei: "Que se foda tudo!" - Um tempo depois, minha mãe me disse que tinha vendido a filha em troca de alguns saquinhos de pó.


Como ela pôde ter feito isso? A menina era uma criança. Mas aquela mulher era tão maluca, que desconhecia princípios, ela só existia para seu vício. 

Ego FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora