Especial Natal - Parte 2

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(Observador)


  —  Pessoal, atenção! —  Grita a menina de vestido curtíssimo e brilhante, Holly destaca ainda mais seus olhos com a sombra preta e o batom vermelho. Algo que Nero considera extremamente contra os princípios da família. 


  —  O que a leva ser assim? — Indaga Cassie com indiferença para Logan, arranjando tempo para reparar na cabeleira do garoto que está quase a encostar no meio de sua nuca.


  —  Não sei se gostaria de saber. —  Ele respira fundo, demonstrando incomodo pela nostalgia que o toma. —  Não é uma boa história para contar no natal.


—  Eu quero saber, talvez assim eu entenda a razão dela ser dessa forma... Ela... Ela não parece ter medo de nada e parece que quer o mundo sinta o que ela sente ao todo momento. 


  —  Por que ainda insiste nisso? —  Logan corta o assunto, tão duramente que faz Cassie recuar.


—  Por que insisto nisso? —  A menina franze o cenho, parecendo não acreditar no temperamento inconstante de seu melhor amigo. —  Eu sou assim e esperava que soubesse disso depois de todo esse maldito tempo que passei ao seu lado! Eu simplesmente não entendo a razão de sua irmã odiar tanto à mim e a minha irmã e sim, isso me afeta!


—  Tudo bem. —  Logan passa a destra em seu rosto. —  Faz alguns anos... Holly namorava um cara, ele era até legal, gostava dele... Mas eles se descuidaram e ela acabou engravidando. 


—  Nossa! —   Cassie é escandalosa com sua surpresa e Logan logo a contém com um puxão na mão. —  Desculpe.... Mas o que o pai dela achou disso? Ela tem um filho? Eu não fazia ideia....


—  Ele não gostou nem um pouco. —  O garoto cerra o punho, fechando a sua expressão. — Eu só sei que foi a coisa que mais deixou Holly feliz, ela só falava nisso e do quanto amava o seu namorado. Foi uma ótima época, eu gostava de vê-la sorrindo por todos os cantos da casa. Mesmo ela sendo tão nova e sem nenhuma capacidade de ter um filho, eu sentia que ela faria o seu melhor.


—  Bastante diferente do que ela é agora. —  Comenta Cassie, voltando o seu olhar para a mulher zonza e acabada em cima da mesa. —  Mas eu não entendo... Se ela estava tão feliz com o seu filho, por qual razão ela está assim agora?


—  Nossos pais nunca pegaram leve com ela, principalmente por ela ser mulher. Tinha  que ser a filha perfeita.... Prendada. Holly não via a hora de escapar de tudo isso e finalmente ser quem é. E eu era a única pessoa que a apoiava em tudo, mas eu infelizmente estava sofrendo de problemas na época e não pude estar ao seu lado. —  Logan hesita. —  Eu era viciado em drogas, mas eu sei o que eu vi.


  —  O que viu? —  Cassie desliza sua mão pequena pelo braço do garoto, alcançando suas mãos e entrelaçando os dedos.  —  Pode confiar em mim.


—  Eu cheguei na rua depois de uma noite de bebedeiras e foi quando a encontrei jogada no chão, completamente ensaguentada e machucada.


  —  Você perguntou o que aconteceu? Quero dizer... Meu Deus, Logan!


—  Sim, eu perguntei, mas ela não tinha forças para nada. Me abraçou e chorou como nunca antes. A levei no colo até o hospital, corri até sentir o meu pulmão pegar o fogo e quando chegamos lá, descobrimos que o bebê estava morto. Depois disso, não vi Holly chorar mais e ela ficou assim, com a expressão vazia, por meses. Nero a criticava muito, assim como a mãe. O namoro dela foi água à baixo e até hoje, Holly  não contou à ninguém quem a agrediu. 


Cassie não diz nada e logo tem a atenção roubada por Holly, que anuncia sua opinião para todos.


  —   Vocês são todos falsos! —  Grita a menina no microfone, que alterna entre beber e tentar se equilibrar no móvel. —  Eu nunca gostei de natal, eu nunca gostei de vocês. Falam mal da minha família a porra do ano inteiro e no fim, vem aqui trocar presentinhos para se sentirem menos culpados por serem esses sacos de merda! Sério suas vadias? Nenhuma dessas meninas inseparáveis na festa são realmente assim.   —  Holly passa a apontar grosseiramente para algumas pessoas. —  A única diferença entre nós é que eu falo o que penso. Eu odeio mesmo e não escondo e eu ficaria muito feliz se....


Holly é interrompida por um homem alto, musculoso, jovem e de fios tingidos de branco que agarra seu corpo e o joga por cima de seu ombro, carregando-a até o corredor para fora da festa.


—  Você! —  Ela se livra dos braços fortes do homem e aponta para a sua cara. —  Eu não preciso de um guarda costas atrás de mim e ainda mais atrapalhando meus desfiles.


—  Estou seguindo ordens de sua mãe, senhorita. —  Ele toma à sua postura e tenta manter o olhar congelado para frente.


—  Pare com essa porra de tratamento, Jax. —  Holly vira os olhos, mas estremece ao avistar a figura soberana de sua mão com um vestido longo perolado. 


—  O que você pensa que é? — Meredith pergunta com a maior naturalidade, deixando reluzente sua figura de rainha da família. 


  —  Sua filha, eu diria. —  Responde Holly, encarando a mãe com repulsa. —  Por mais que eu seja tratada como nada, eu ainda acredito fazer parte dessa família.


—  Você sabe que eu faria qualquer coisa por você, eu não sei a razão de você ter se tornado isso. —  A mulher tenta se aproximar de sua filha, mas ela recua. Isso fragiliza a expressão de Meredith, ao ponto de não poder controlar as lágrimas que estão vindo.


—  Como por exemplo dormir com vários amigos do meu irmão? Ou dar mole para os meus namorados? —  Holly faz pouco caso da preocupação de sua mãe e ainda ri.


A mulher está em cacos quando finalmente acerta a cara de sua filha com um tapa. 



Ego FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora