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(Nero)

- Bem vindas, senhoras! - Ergo a taça para todos os mercenários marmanjos que encontro pela frente.  Minha nova equipe. 

Dou uma festa no salão de minha casa.  Meredith encontra-se no muquifo onde vive sua suposta namodinha... Sinceramente nunca imaginei ser trocado por uma mulher,  mas a vida sempre me guarda surpresas.

Holly e Logan jogados no mundo,  mas no momento pouco me importa,  resolvi abrir mão.  Quando nota-se que a preocupação que esbanja não é recíproca,  uma hora cansa. 

Esse é o meu momento e quero esquecer tudo o que me incomoda, inclusive minha família mal agradecida.

Caminho por todo o salão,  onde subo em um degrauzinho mais alto,  lá encontra-se um trono rústico de ferro,  sento.

- Rapazes.  - Exclamo. - Como prova de minha gratidão de seus serviços,  os trago o bobo da corte. 

No mesmo instante o salão é tomado por inúmeros comentários: "Nossa, quem será que é?" "Isso vai ser divertido" "Mostra logo esse babaca, quero rir muito"

- Calma, senhoras - Levanto a taça novamente,  quase jogado nos risos. - Tenho que apresentar o palhaço antes. 

Observo o enorme portão de madeira abrir-se atrás de todos os convidados.  Dom trás Kraven vestido de bailarina.  O motorista parece sentir-se muito culpado por fazer isso, enquanto o mordomo submisso caminha pela trilha da vergonha de cabeça baixa.

- Apresento à vocês,  Kraven! - Berro em meio ao salão,  saindo de meu trono e rodopiando ao redor do mordomo. 

- Isso é mesmo necessário,  senhor?  - Indaga Dom, que parece perceber meu estado de embriaguez. 

- Já está convidado a sair,  meu querido.  - O faço soltar o braço de Kraven e puxo o submisso até o centro dos mercenários. 

- Conta para eles,  Psicopata Americano.... Quando você deu umas beijocas?  - Pego os lábios alheios e amasso com força,  o obrigando a fazer um bico.

- Senhor... Está me machucando. .. - Com dificuldade,  Kraven se queixa e inevitavelmente cora-se por completo.

- Vocês acreditam que esse merdinha aqui antes tinha se candidatado à vice presidente da minha grife?  - Solto o bico do homem,  o empurrando no chão. 

- Pelo amor de Deus,  ainda bem que você não aceitou... - Comenta um mercenário branco e careca. 

- Vocês sabiam também que Kraven odeia mercenários? Ele sempre faz questão de comentar o quanto os acha nojentos.  - Digo, degustando um pouco do meu vinho.  - Que coisa má, amiguinho.

- Nós somos nojentos?  - Alguns brutamontes cercam o corpo de Kraven no chão.  - Não somos nós vestidinhos de bicha aqui.

- Isso é mentira... - O mordomo  gagueja algumas palavras e cruza o olhar com o meu.  - Senhor,  não precisa fazer isso.  Serei eternamente fiel até o resto de meus dias.  Sabe que sempre o admirei muito,  não estrague isso... - Implora o empregado,  rastejando até os meus pés.

- Não se rebaixe mais.  - Faço tudo isso por pura diversão.  Nunca duvidei da fidelidade de Kraven.  Ele é literalmente um babaca.  - Diga para eles o quanto você é um merda... -

- Não,  senhor.... Eu.... - O mordomo tomba a cabeça em meu sapato de couro,  onde cai aos prantos. 

Todos os mercenários ao redor riem da situação em que Kraven se encontra. 

- Cuidado,  Nero... Daqui a pouco ele vai pedir para não perdoar nem o cuzinho dele... Bichinha encubada do caralho... - Comenta um mercenário aparentemente asiático e robusto, que em seguida cai na gargalhada junto com seus colegas.

- Senhor... - Mais uma vez Dom intromete-se na conversa.  - Melhor parar por hoje. - O motorista tenta ser amigável comigo e ainda mais com Kraven. 

- Cala a boca,  Dom! Já mandei dar o fora daqui!  - Sou grosso ao expulsá-lo.

- Escute ele,  senhor... - O mordomo parece se afogar nas próprias lágrimas. 

- Já mandei dizer que é um bosta!  - Chuto o rosto de Kraven e passo a caminhar novamente pelo salão. 

- Diz logo,  porra! - Os mercenários se manifestam, enquanto exigem a confissão.

- Eu não sou isso,  por favor,  parem... - Kraven chora mais à m medida que balança sua cabeça negativamente.

- Minha paciência é curta com via do.... - Diversos homens passam a chutar Kraven por todos os lados,  de modo que ele grite alto o quanto dói. 

Humilhado e jogado ao trapo,  os homens  arrastam Kraven até o trono e o agacham. 

- Fala que quer ser comido por trás, fala... Admita, seu viadinho... Admite logo, pois não pretendo perdoar nenhum buraco arrombado seu.  - Diz um convidado negro e forte, que arranca o tutu de Kraven. 

Assisto tudo, rodopiando e rindo.  Aquilo é música para os meus ouvidos... Apenas treino meus homens para abusar de pessoas fracas.

- A gente pode comer o cu desse viado? - Indaga o mesmo mercenário que arrancou uma peça de roupa do mordomo. 

- Faça,  mas tampem a boca dele,  não quero gritaria... - Assinto com a cabeça,  enquanto observo Kraven gritar o meu nome desesperadamente. 

- Senhor,  não!!!! Por favor!!!! O que eu fiz ao senhor??????? - O mordomo grita desesperado em meio aos soluços.  Kraven leva inúmeros tapas na bunda e na cara,  enquanto os demais convidados assistem à tudo e gargalham rios.

- Já disse para não entrar aí, garota! - Avisto Dom segurar Eva histérica no colo,  enquanto adentram o salão. 

- Ela insistiu muito,  senhor... - Dom se redime ao soltar a mulher,  que ajeita suas vestes escuras. 

- Por favor!  Me ajuda! - Berra Kraven,  tentando ao máximo se desvenciliar das mãos taradas que perseguem seu corpo. 

- Meu Deus!!!!! - Grita Eva,  correndo até o meio de todos aqueles homens, empurrando todos que cruzam seu caminho. 

A garota tira seu sobretudo e cobre o corpo trêmulo e marcado de Kraven,  onde o ajuda aos poucos a afastar-se dos mercenários.

- Eva, não é isso o que você está pensando... - Tento me redimir.  A última coisa que eu queria é que ela me flagrasse com meu monstro interior solto. 

- Como se sente? - Eva tenta erguer o rosto molhado de lágrimas de Kraven,  mas ele está fraco de tanto chorar. 

Observo à cena,  perplexo e sem reação.  Não estou na posição de dizer nada. Posso prever o que ela deve pensar de mim nesse exato momento.

- O que você veio fazer aqui?  - Pergunto manso,  enquanto todos os convidados me observam abaixar a guarda. 

- Eu vim procurar o Logan. - Fito a mulher dizer,  enquanto mantém seu rosto baixo, acariciando o topo da cabeça de Kraven.

- Tudo bem,  isso só foi um mal entendido... - Sorrio aliviado e me viro para servir uma taça de vinho para ela,  mas quando volto para a posição anterior,  sou acometido por um tapa estalado na cara.

- Como você é capaz de fazer isso com as pessoas? Seu psicopata maluco!  -  Eva joga todas as verdades na minha cara,  apontando para o meu peitoral grosseiramente. Parece sentir tanta raiva,  que chora por ela.  

A garota se afasta de mim,  claramente enojada e  ajuda Kraven se levantar, juntos indo embora. 

No fundo do poço, miserável e humilhado mais uma vez por Eva é quando percebo que me importo demais com o que ela pensa e tudo isso,  de alguma forma, me machuca mais do que poderia imaginar.

Tragicamente tenho que admitir,  que quando  a vejo passar pela porta me odiando novamente, é que percebo que o sentimento que me toma o peito não é mais arrependimento e sim o mais terrível amor.



Ego FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora