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(Nero)

Quando jovem, sempre fui um garoto muito problemático. Nunca aceitei minha vida miserável, mas minha mãe sempre foi um anjo comigo, o problema era o meu pai. Todos os dias levava mulheres para casa e algumas vezes obrigava minha mãe a participar de suas orgias coletivas. Ela vivia com hematomas e destruída por dentro, porém criou-me como podia. Não pude deixar de me levar pelo caminho negro da situação. Às vezes não possuíamos o que comer e então roubei, sempre arrependedo-me.

Num inverno qualquer, resolvi não abaixar mais a cabeça. Tinha por volta dos meus 16 anos quando esgotei-me de toda aquela violência, putaria e desrespeito e peguei a espingarda do meu tio escondido.

Meu pai chegou bêbado como de costume e tacou no chão o prato de comida que minha mãe passou toda a noite preparando.

- Fique calmo, querido. - Ela sempre dizia isso, num tom tão doce como fragilizado.

Tão pouco ele a dava ouvidos e logo a puxava pelo cabelo, a lançando sobre os cacos de vidros. A mãe estava toda cortada.

- O que está olhando, garoto? - Ele dizia achando graça da situação e de minha mãe completamente ensanguentada. - Não vai perguntar o que está acontecendo com ela?

Retirei a minha franja rebelde do rosto, o fitando de forma sombria. - As pessoas se cortam, é normal.

- Então, junte-se com sua mãe. - Quando o homem estava preparado para me abordar, o acertei com inúmeros tiros.

- Filho... - A mãe levantava desesperada, amparando-me em seus braços.

- Eu estou bem. - Observava a poça de sangue formar-se ao redor do cadáver e gostava disso.

Minha mãe chorava tanto que era de partir o coração. A apoiei por muito tempo e prometi que me livraria dos restos do meu pai. O joguei em um rio por partes. A verdade era que eu estava mal, principalmente por ter que tomar uma decisão dessas tão cedo.

Algum tempo se passou, trabalhei, mesmo tão jovem arranjava muitos "bicos" sempre honestos e árduos. Na minha cabeça estávamos indo bem. Nos mudamos para uma boa casa e só éramos nós dois.

Os bons momentos sempre são assim, mas o único defeito foi não pensar quando isso acabaria.

Após acharem os sacos de lixo boiando no outro lado do rio, boatos sobre o sumiço do meu pai retornaram. Minha mãe tornou-se amarga novamente após ser acusada de assassinato. Eu dizia que continuaria do lado dela e que tudo ficaria bem. Ela parecia confiar em mim e insistia em manter aquele sorriso falso, pensando que eu acreditaria nele.

7 de Novembro de de 1992, estava voltando do trabalho, havia comprado algumas coisas para ajudar na comida da casa. Quando cheguei, não encontrei minha mãe no seu quarto, nem na cozinha e nem na sala. Desesperei-me quando ouvi um barulho estranho vindo do banheiro.

Andei até o cômodo com os pensamentos mais negativos possíveis e não é que eu estava certo?

Avistei uma enorme poça de sangue abaixo do corpo estirado da minha mãe, ao seu lado, um pedaço de vidro do mesmo prato de que meu pai havia quebrado no passado. Seus pulsos estavam cortados e tragicamente sua camisola branca encontrava-se manchada pelo líquido grosso e avermelhado. Ela estava morta e eu não podia fazer nada em relação à isso. Apenas joguei-me sobre o corpo e chorei até notar que deveria tomar alguma atitude.

Desde então nunca mais fui o mesmo, fugi da Rússia e adquiri meu visto após casar-me com Meredith, que abriu o caminho da fama para mim.

- Como se sente sendo um dos homens mais bem sucedidos de sua idade? - Indaga o repórter, abordando-me bruscamente.

Acordo da alucinação de meu passado subitamente. Há muitas câmeras ao meu redor, por sorte, tenho o olhar escondido pelo óculos escuro.

- Me sinto ótimo. - Pendo a cabeça para trás, num riso descontraído. Fingir é o meu trabalho.

- E onde está sua bela esposa? - Outro repórter indaga, empurrando seu microfone em minha direção.

- É uma pena, mas ela teve que ficar em casa, pois... - Sou interrompido por uma torcida organizada no fundo. As participantes gritavam sem parar " gostoso".

- Você agrada muito o público feminino. Recentemente está em segundo lugar no top de homens mais cobiçados. - O mesmo repórter que indagou de Meredith, acrescenta.

- Sério? - Pergunto risonho, tentando dividir minha atenção entre os microfones. - E para quem eu perco?

- Brad Pitt. - O homem me responde, tentando fazer parte da descontração.

- Não tem como ganhar essa disputa, não é mesmo? Mas eu aceito o meu segundo lugar! - Sou interrompido novamente por um fã que consegue invadir a área.

- Me engravida! - Ela diz entre os berros.

Grito de volta, tentando imitar a sua expressão e a agarro numa bitoca gostosa.

Os repórteres vão à loucura e se divertem com a minha abordagem na fã.

- Essa foi nossa entrevista com Nero Lee. Todos te amamos, cara - O repórter diz para a câmera, enquanto saio de "fininho", pois preciso sentar-me. Não pretendo perder meu próprio desfile, que já está acontecendo.

- Nero, estou aqui. - Acena Mona para o banco ao seu lado.

Vou em direção ao assento, enquanto observo a decoração retrô do lugar. O teto é tomado pelo projetor que emite a imagem de céu estrelado. Belas modelos e roupas de minha autoria impecáveis.

- Ótimo desfile. - Finalmente sento-me, ajeitando o paletó.

- O melhor está guardado para o final. - Ela inclina seu corpo em minha direção, sussurrando em meu ponto auditivo.

- É, eu sei. - Digo, enquanto observo o decote absurdo de Mona.

Não demoro muito para voltar a minha atenção para as belas modelos. Em poucos minutos finalmente conhecerei a incrível garota de que todos falam.

Só de pensar, Nerão já está 'foguento'.



Ego FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora