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(Nero)


— Oi. — A voz calma de Meredith invade meus pontos auditivos, causando-me de imediato um imenso desconforto.



Estou preso no quarto pelo menos 1 semana após a partida de Logan. Penso muito. Nada caminha do jeito que planejei e sinto que tudo escorre dos meus dedos como areia. O tempo em que Eva passou aqui foi temporário, mas hoje foi o dia de sua partida de volta para a sua casa. Isso me enfraqueceu, tornou-me pensativo demais.

Não posso por tudo o que construí na vida á perder por mero capricho de meu filho. Devo apenas segurar as pontas até as coisas se resolverem sozinhas. Esse é o meu trabalho. Não é mesmo?


— O que foi? — Jogo a toalha branca no ombro, deixando as gotas do banho secarem na minha pele ao natural.



— Você sabe sobre o que eu quero falar e que infelizmente, outro dia, fomos bruscamente interrompidos. — Meredith parece não ter perdido nem um pingo de sua falta de limites e apenas ressalta isso à medida que aproxima-se de mim com passos insinuantes.


— Acho que você não entendeu. — A afasto de mim. — Está tudo acabado e não quero nunca mais nada com você. É difícil de entender?


— Não fale isso. — Ela me olha com desdém, ajeitando seu roupão de seda perolado. — Estamos casados à tanto tempo, não quero jogar isso fora.



— Mas você jogou, Meredith. — A abordo com grosseria, apertando-a os braços. — Me perdeu no dia em que deitou-se pela primeira vez com um dos amigos do nosso filho.



— Eu posso ter um jeito distorcido da realidade ou de tudo, mas, eu carrego a certeza comigo, Nero. Eu nunca vou conseguir deixar te amar. Olha... — Meredith tenta convencer-me de fitar ao nosso redor junto à ela. — Tudo o que construímos juntos. Eu não posso simplesmente esquecer isso, fingir que nunca aconteceu... Eu não posso te perder outra vez.



— Você já perdeu. — Digo as três palavras que provavelmente vão quebrar o seu coração e faço isso, a olhando nos olhos tão intensamente, que a derrubam uma lágrima, mas que é limpa no imediato.


A acidez de Meredith tenta reconstruir seu coração dilacerado.


— O que você acha que vai acontecer entre você e a Eva? Acha que possuem um futuro juntos? — O conflito entre as lágrimas da mulher, a fazem parecer uma total desequilibrada. — Eu digo à você que vocês dois nunca serão capazes de construir essa história bonita que temos juntos.


— Mas eu gosto dela, não de você. E peço por favor, não a envolva no assunto. Ela não tem culpa alguma de você ter me feito sentir nojo de sua presença.


— E quando ela descobrir que você não é essa boa pessoa que ela pensa que é? Eu quero ver como vai ser quando ela ver a verdadeira face de Nero. — As palavras de Meredith puxam o meu tapete, fazendo-me cair de cara na dura realidade.


— Ela sabe que não sou santo. — Digo, um tanto incomodado pela sensação terrível de incerteza que me toma. — Ela presenciou um dos momentos em que eu... Eu...


— Matou alguém? — Meredith pergunta, tão naturalmente que me espanta. — Tantas foram essas vezes e olha, ainda estou aqui... Ao seu lado.



— Ela não é assim. Sei que Eva vai me aceitar do jeito que eu sou, sei que vai aceitar as coisas que eu faço. E além do mais, eu posso melhorar, largar essa vida.


Meredith ri.


— A pergunta que não quer calar, realmente não é essa. — A mulher passa a rodear-me, passando a ponta de seu indicador em cada canto de minha pele em que percorre o círculo. — Tudo bem, vamos supor que sua amada descubra sua vidinha perigosa e aceite... Você vai ficar feliz, certo? — Ela para em minha frente, fitando-me os olhos. — Mas até quando? Vai esperar a primeira briga chegar? O primeiro descontrole? Vai esperar ela notar que você não é o que ela tanto imaginava que fosse?


— Não... — Fico sem ar ao deixar a ideia venenosa de Meredith entrar na minha cabeça. — Eu já disse para ela que não a mereço, ela deve saber que existe coisas melhores lá fora, mas ela optou por ficar comigo. Acho que isso já o suficiente.


— Até quando? — Insiste Meredith. — Tenho certeza que a ideia dela irá mudar rapidamente quando encontrá-lo banhado no sangue, com marcas por todo o rosto... Você não pode negar, pois eu estive esse tempo com você. Vi cada sangue, limpei toda ferida... E ela é só uma garota, mas eu, eu sou a sua mulher.


— Não. — Pego os dedos dela e os afasto de mim. — Eva é a mulher que você nunca vai ser capaz de ser na vida. Ela sim conseguiu manter-me calmo e quando estou com ela, só existe nós dois. Não tenho mais preocupações. Não tenho que arrancar cada fio do meu cabelo com uma pessoa que me leva à loucura! Eu não sei o que aconteceu entre nós Meredith, pois do paraíso foi ao inferno, rápido demais. E isso jamais poderá ser consertado.



— Eu sei... — Meredith insiste em pegar minha mão novamente, mas desta vez, ela a posiciona bem acima de seu coração. — Não acho possível que não sinta mais nada por mim.



— Eu gosto de você, Meredith. — Afasto um punhado do fio dourado encaracolado, que esconde um dos olhos intensos e vividos femininos. Eu diria que depois de anos, posso ver um sorriso formar-se nos lábios dela. — Mas... Eu gosto mais dela.



— Se você sente tudo isso por ela... Deixe-a ir. Você sabe como ninguém que a fará sofrer como nunca antes. Isso é demais para ela... — Meredith suspira. — Eva ainda é uma criança, tem a vida inteira pela frente... Deixe-a viver com alguém que poderá dá-la um lugar seguro e agradável de se estar... Sem toda essa violência, mentiras, poder... Ela nunca se adaptará à um mundo como esse.


— E como vou saber que ela não me aceitará? Como vou saber que ela realmente vai ficar melhor sem mim? Como vou saber que um dia ela possa vim a me amar? Como vou saber, Meredith? —



— Você não vê, não é? Está tão pilhado com esse mundo de mentiras que criou à sua volta, que simplesmente levantou uma barreira para a verdade.



— E qual é a verdade, Meredith? — Exalto-me.


— Você é tão artificial com todo mundo, que acaba destruindo tudo o que toca.

Ego FlamejanteOnde histórias criam vida. Descubra agora