Sem coração

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Alice Narrando

- Você viu o que aconteceu ontem no Vidigal? - Minha mãe entrou na cozinha perguntando enquanto meu pai, Miguel e eu estávamos tomando café.

- O que houve? - Meu pai perguntou, dei o nescau do Miguel e sentei.

- Um banho de sangue, mataram o Diogo tal de Diguinho e uma criança de oito anos também morreu estava dentro de casa, entre outros, olha. - Ela mostrou uma foto no celular pro meu pai.

- Deixa eu ver. - Falei.

- É do menino, do tal Diguinho, você sabe. - Puxei seu braço e vi a foto do cara morto, ele estava horrível.

Irreconhecível, muito feio.

- Deixa eu ver mamãe.

- Não, criança não pode ver. - Levantei e fui pro meu quarto, peguei meu celular e liguei pro Gabriel. Ele demorou um pouco pra atender.

- Oi gatinha.

- Onde você ta? - Perguntei e deitei na cama, abraçada ao travesseiro.

- Estou no trabalho, sabe hoje é segunda e tal..

- O que você fez ontem? Só pra constar. - Ele demorou um pouco pra responder.

- Nada de mais por quê?

- Por nada. - Desliguei o celular e fui me arrumar, eu sei que tem dedo do Gabriel nisso, e eu quero olhar em seus olhos pra vê se ele está mentindo mesmo. Tomei um banho rápido, e me arrumei. Gabriel tinha me ligado outras três vezes.

- Pai está indo pro escritório? - Perguntei, ele assentiu. - Vou com você então. - Deixei o Miguel com a Marta e saímos.

Alguns minutos depois ele havia estacionado, fui na frente e corri até o Gabriel.

- Oi. - Falei e sorri, ele me olhou assustado.

- O que você está fazendo aqui? - Puxei ele até uma sala vazia e fechei a porta.

- Você mentiu pra mim. - Ele estava apoiado na mesa me olhando sem falar nada.

- Gabriel fala alguma coisa.

- Menti? Sobre o quê? - Perguntou calmo, sem sair de sua posição.

- Você falou que não ia fazer nenhuma burrada, aí hoje eu acordo e vejo a foto daquele tal de Diguinho destruído no facebook. - Ele sorriu, sim o filho da puta sorriu e essa calma e sarcasmo dele estavam me matando.

- Gabriel. - Falei histérica

- Sim Alice, foi eu que acabei com aquele rato. Satisfeita? - Ele falou frio e com um olhar assassino que mais parecia o Gabriel de um tempo atrás.

- Não acredito que você fez isso. - Ele bateu na mesa, me assustando.

- Queria o que? Que eu esperasse aquele merda me matar? Ou pior encostar em você ou no Miguel, eu não ia correr esse risco Alice, antes ele do que eu. Ele teve o que merecia eu ainda fiz pouco, deveria ter batido muito nele o fazer sofrer muito mais. - Balancei a cabeça, as vezes eu não conhecia esse cara que estava a minha frente.

- E foi pela sua imprudência que uma criança morreu dentro de casa seu otário. - Gritei e me virei pra sair, mas ele agarrou meu braço.

- Não foi eu que matei a criança, então para de palhaçada essas coisas acontecem. - Puxei meu braço pra longe dele, não estava com raiva por ele ter matado aquele cara, mas sim pela menina de oito anos que morreu nessa merda que ele estava envolvido.

- Eu não estou te reconhecendo sabia? Ta agindo feito um babaca.

- Sempre fui um babaca Alice, só estava dando um tempo. Agora vai embora, que eu tenho que trabalhar você já me irritou. - Que ódio dele meu Deus.

- Você é um filho da puta sem coração sabia? E eu vou embora mesmo antes que faça coisas que vou me arrepender depois. - Quando sai bati a porta bem forte, o povo ficou me olhando como se eu fosse algum tipo de aberração.

- O que foi? - Gritei pra todos ouvirem, e eles rapidamente voltaram ao trabalho.

- Alice. - Virei dando de cara com o meu pai, a não foi meu grito que assustou eles e sim a presença do meu pai, ele segurou meu braço e me levou até seu escritório. - Isso aqui não é feira, pra você ficar de escândalo. Mais respeito no meu ambiente de trabalho. - Bufei e me deixei cair na cadeira.

- Chatoo. - Resmunguei.

- O que você veio fazer aqui exatamente? - Girei a cadeira.

- Falar com o idiota do Gabriel. - Ele sorriu e balançou a cabeça, Affs.

- O que ele fez dessa vez?

- Nada, agora estou indo embora.

- Alice. - Affs que saco.

- Que foi agora? - Cruzei os braços, meu pai ficava assustador sentando nessa cadeira.

- Estou pensando, em te por pra trabalhar aqui, começar a treinar minha futura e única herdeira.- Bufei e balancei a cabeça.

- Eu não quero herda isso nem tão cedo pai, então nem vem com esses assuntos. Vou abrir minha faculdade de biologia de novo, fazer logo o último ano.

- Muito bem, quer que eu ligue pra lá? - Era só falar de faculdade ou algo do gênero que meu já ficava animado.

- Não pai, eu vou até lá. Agora tchau te amo.

- Também te amo princesa. - Sai do escritório e fui embora, não vi o Gabriel e dei graças a Deus.

Depois fui sair com o Edu e só voltei pra casa por volta das nove, fui na minha mãe mas ela falou que o Gabriel já havia pego o Miguel.
Cheguei em casa e tava tudo bem silencioso, o Gabriel estava sentado na poltrona com um copo de uísque na mão.

- Onde está o Miguel? - Perguntei.

- Dormindo. - Ele não me olhou, continuou olhando pra fora da janela.

- Sabe... - Parei assim que ouvi sua voz. -Não acredito que você acha que eu não sinto nada pela morte daquela menina lá no morro. Você acha que sou um monstro né? ou melhor um filho da puta sem coração. - Fiquei parada olhando pro seu perfil, ele parecia... Triste, droga eu deixei ele triste.

- Não acho nada disso, eu falei sem pensar aquelas coisas.

- Sem pensar? Porra Alice então você sempre fala sem pensar né? Eu precisei matar aquele cara ou eu nunca iria viver em paz, ele ia machucar você ou o Miguel sabendo muito bem que isso ia me destruir, daí eu vou atrás deles acontece uma fatalidade e você acha que não sinto nada? Não por ele, pois eu amei, senti um prazer da porra em tirar a vida daquele merda, mas digo pela menina que estava dentro de casa dormindo. - Me jogo em seu colo e abraço ele.

- Desculpa bebê, eu... Sei lá, é que eu estava com raiva não pensei nos seus sentimentos. Me perdoa? - Ele fechou os olhos por um momento e encostou a testa no meu ombro.

- Me desculpa você gatinha.

- Não, você não deve me pedir desculpas, eu que sou uma idiota.- Ele me abraçou, bem forte.

- Você tem que entender,que eu faria qualquer coisa por você e pelo Miguel, qualquer coisa mesmo Alice.

- Eu te amo tanto bebê. Nunca mais vou fazer isso com você.

Domando o vagabundo.Onde histórias criam vida. Descubra agora