Capítulo 46

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Minutos depois o homem - que descobri chamar Mark - empurra a porta, entrando com um rapaz acorrentado, as correntes estavam tão apertadas que seus pulsos sangravam. Ele aparentava ter 16 anos, o loiro de seus cabelos estavam coloridos por sangue, os botões de sua blusa soltos, eu conseguia ver um enorme corte em sua barriga.

- Quem é ele? - perguntei, franzindo o cenho.

- Ah, ninguém - ela revirou os olhos - Ele só não está seguindo algumas ordens.

-  Interessante - digo - E porque eu tenho que estar aqui?

- Tenho que ver o quanto você vai cumprir o acordo - ela joga seus cabelos para trás e aponta para o rapaz - O que você acha que ele merece?

- Um agradecimento.

- Pare de brincar - ela diz e se levanta, arrastando a cadeira - Ele tem que sofrer, cumpra o acordo.

- Você está louca - exclamo e também aponto para o rapaz - Isso não faz parte do acordo.

- Bom - ela arqueia as sobrancelhas - Agora faz.

- Humanos não iriam se machucar - grito - Você prometeu.

- Ele não é humano, qual humano sobreviveria com aquele corte? Humanos são fracos - ela diz, rindo - Ele é um demônio, Sarah

- Ele não se parece com... - ela aponta para ele novamente e quando o olho, seus olhos estão totalmente pretos - Ok, ele é um demônio.

- Ele merece sofrer - ela levanta suas mãos - Imagine quantas coisas más ele já fez.

- Eu não irei fazer mal para ninguém - dei de ombros.

- Se você não fizer - ela me encarou - Não gostará das consequências.

- Não tem o que você usar contra mim - exclamei - Você prometeu não machucar nenhum humano, é só isso que importa.

- Você está drogada, mal consegue ficar em pé - ela grita, vermelha de raiva - Você não está em uma ótima posição para pedir coisas. Faça o que eu mandei, agora.

- Tudo o que eu sinto você sente - aponto - Então você deve estar um pouco drogada também... Se eu morrer, você...

- Não acontecerá nada comigo - ela exclama - Apenas uma dorzinha, posso sobreviver com isso.

- Mas...

- Eu sou imortal, Sarah - ela grita, sorrindo.

Aquilo, literalmente, cala a minha boca. Em parte ela tinha razão: eu consigo usar um pouco dos meus poderes, mas não o suficiente para matá-la, eu não poderia fazer nada se ela machucasse alguma pessoa, me sentia completamente inútil sabendo que se ela fizesse mal a alguém que eu me importo eu não poderia fazer nada. Estremeço ao pensar nela machucando Sam e Dean.

- Sua irmã foi morta por um demônio, não é mesmo? - ela pergunta, mas não espera por uma resposta - Imagine a vida do pobre rapaz que esse demônio roubou ao possuir o corpo...

- Eu não vou machucar ninguém.

- Imagine todas as pessoas que ele matou, Sarah - ela diz, sua voz calma - Imagine quantas criancinhas indefesas ele matou, ouça os gritos de desespero, você consegue ver alguma coisa como ele viver?

Meu ouvido zumbiu e vários gritos começaram a soar, começou baixo, como se os gritos viessem de longe e, depois, foi aumentando, chegando a um ponto onde eu conseguia sentir meus tímpanos estourando, minha mão envolvia minha cabeça, enquanto meus gritos se misturavam com os gritos projetados por ela.

- Pare - grito.

- Você mesmo pode parar isso.

Meus joelhos cedem e eu caio no chão, eu até consigo sentir as paredes tremerem pelo alto barulho, mas sabia que só eu estava escutando. Eu mal conseguia abrir meus olhos, sentia que minha cabeça iria explodir.

- Imagine todos que você se importa - eu escutava sua voz como um sussurro sobre todos os gritos - Sua mãe, sua irmã... Sam e Dean. Todos mortos por que você não quis...

- Pare - grito e, dessa vez, minha voz não se mistura com os gritos, ela soa mais alto que os gritos.

Tudo para, eu mal conseguia ouvir a minha própria respiração. Pensei que estava surda por causa dos gritos. Meus olhos se abriram e a primeira coisa que vi foi o sorriso vitorioso no rosto de Amara, franzi o cenho e continuei a encarando, sem saber o que havia acontecido. Meus dedos ficaram gelados, de repente, olhei vagarosamente para o chão - onde minhas mãos estavam encostadas - e vi o sangue espesso escorrer do chão até minhas mãos. Prendo minha respiração e arregalo os olhos, olho mais para a frente, vendo o corpo do rapaz estendido no chão, sem a cabeça. O rapaz que eu matei.


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