Capítulo 33

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Estávamos no meu antigo quarto - da pequena casa que meu pai comprou depois do incêndio -, as paredes pintadas de beje estavam descascando, completamente diferente de meu outro quarto, só havia uma cama, uma mesinha com vários anjos e nas paredes, várias fotos penduradas.

- Por que estamos aqui? - sussurro e me viro para eles.

- Onde é aqui? - Sam pergunta.

Quando fui responder, a porta se abriu rangendo e eu, com meus 16 anos, entrei. Imediatamente recuei, por que além de que nós poderíamos ser vistos, ela estava completamente machucada, seu lábio estava cortado e seu olho inchado, seu corpo coberto por roxos e cortes e ela estava com as mãos sobre a barriga, de onde uma boa quantidade de sangue saía. Dei uns passos para frente, ela parou, levantou o olhar até mim e depois olhou em volta, ela não conseguia me ver.

A eu adolescente começou a chorar, seu rosto lavado por lágrimas e soltando soluços dolorosos. Ela foi até a parede e passou a mão sobre uma foto, onde eu e minha mãe estávamos abraçadas, foi até a mesinha, pegou um pequeno anjinho de vidro e começou a rir, um riso cheio de dor. Ela jogou o anjo no chão e, logo após, todos os outros anjos, foi até a parede e começou a tirar os quadros, um por um, jogando-os no chão.

Tudo começou a girar novamente e, de repente, já estávamos em outro lugar. No mesmo quarto, a tinta ainda mais descascada e suja, estava marcado onde antes havia quadros, só tinha uma cama. Olhei em volta e parei quando avistei outra eu, com 17 anos agora, ainda mais machucada, se possível. Dessa vez, ela não chorava, apenas ficava ali, parada e encarando o nada. Alguém bateu na porta, mas ela continuou ali sem se mexer, a porta rangeu e se abriu, de lá Charlotte, com 8 anos, entrou com um pequeno prato.

 - Você precisa comer, Sarah - ela sussurrou e se ajoelhou ao meu lado, colocando as pequenas mãos em meu rosto, me fazendo encará-la.

- Saia daqui, Lottie - digo e recuo - Você não precisa me ver assim, muito menos ter que lidar comigo.

- Na verdade, eu gosto de lidar com você - ela sorri - Você é incrível, muito mais do que pensa.

- Eu não penso que sou incrível - faço uma careta e levanto meus joelhos até meu peito.

- Mas você é - ela diz e pega o prato novamente - E vai ser ainda mais se comer.

- Não estou com fome - resmungo.

- Se não comer, você pode morrer - ela diz baixinho e olha para baixo - Não é isso que você quer, certo?

- Talvez - sussurro.

- Mas você não pode - ela exclama - Não pode me deixar aqui.

- Eu nunca vou te deixar, Lottie - eu digo, enquanto ela me envolve nos seus pequenos braços.

Dou um passo para a frente e tudo gira novamente, dessa vez eu, com 18 anos, estou correndo para a sala, onde minha irmã está caída no chão. A outra Sarah grita e corre até ela, dois homens com ternos aparecem e seus olhos ficam completamente pretos, ela tenta correr até Lottie, mas um dos homens a segura pelo pescoço, com um sorriso sádico em seu rosto, depois ele a vira de frente para o outro homem que segura Lottie.

- Não a machuque - grito e tento me soltar - Por favor.

Ele apenas balança a cabeça, sorrindo, passa a mão no pescoço de Lottie, que chora e me olha, com esperança de que eu a fosse salvá-la. Mas o homem a segura pelo pescoço e, em questão de segundos, ela está no chão, seus olhos abertos encarando o nada, completamente sem vida, com o pescoço quebrado. Grito de dor, grito de raiva, grito por ela. Os homens desaparecem no ar e eu corro até ela, segurando seu pequeno corpo sem vida em meus braços, a balançando.

Tudo gira e, dessa vez, estamos de volta ao Bunker, olho em volta e, antes de conseguir processar, me fecho no quarto e vou para o banheiro, meu estômago se revira e a próxima coisa que faço é vomitar. Me sento no chão e olho para as paredes brancas, é como se tudo estivesse congelado, como se o mundo estivesse parado, apenas observando a minha dor


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