Me levando da cama, indo até o pequeno calendário posicionado acima do criado-mudo e fico encarando-o, o X feito de caneta vermelha no começo do dia se destacava, só faltava essa noite acabar. A porta do quarto é aberta, me avisando sobre a hora do jantar. Me levanto rapidamente, tentando desamassar a camisa branca que eu usava, dei um sorriso amigável para Sr. Roberts, que me levou até a lanchonete. Na mesa da direita estava sentada Srta. Omélia, com seus 63 anos, conversando com seu novo amigo pão.
- Srta. Omélia, você está agradável como sempre.
- Muito obrigado Lisa, você pode por favor dizer para o Steven vir me buscar, ele está atrasado como sempre.
Anos atrás, bem antes de eu entrar nesse lugar, Srta. Omélia matou sua filha - Lisa -, e quando a trouxeram para cá a única coisa que ela falava era que seu marido Steven, que já estava morto, estava atrasado para o jantar. Ela insistia em me chamar, todos os dias, de Lisa. Nos primeiro anos aquilo me incomodava, eu vivia falando para ela "Meu nome não é Lisa, Srta. Omélia", mas ela ria e dizia "Você continua travessa como sempre, Lisa", então eu desisti e comecei a conviver com aquilo.
- Claro Srta. Omélia, tenho certeza que ele vai chegar a tempo dessa vez.
Sigo até a Mandy, que hoje está servindo o jantar e a comprimento - como todos os dias que a vejo. Mandy tinha 34 anos, á 10 anos atrás ela matou seus pais, afirmando que estava possuída - e ela estava mesmo. Aqui é o lar das histórias trágicas. Ela me responde com um sorriso, colocando em minha bandeja um prato com o que parece ser macarrão e uma caixinha de suco. Agradeço e sento na mesma mesa que sento á 10 anos, ao lado da janela com grades que dava vista para a entrada.
Toda a lanchonete ia se enchendo, a maioria das pessoas ali era da Ala A, como eu, Sophia, Allana, Jennifer e muitas outras. Também tinha pessoas da Ala B, mas nunca da Ala C, eles eram os piores. Me levanto passando pelas pessoas, tentando não encostar em nenhuma. Sra. Collins estava olhando para a janela, sua testa encostada na mesma e a cor branca, meio embasada, contornando todo seu corpo.
Quando todo o lugar estava quase cheio, achei melhor voltar para o quarto. Aprendi da pior forma possível, que é muito provável eu ter uma sobrecarga em lugares cheios. Em lugares muitos cheios as auras das pessoas se misturam, fazendo um show de cores - um péssimo show de cores -, os pensamentos se embaralham e assim por diante.
Quando eu comecei a ver coisas, nos meus 14 anos, depois do acidente que matou minha mãe, eu realmente achei que estava louca. Eu acordava na madrugada suando e gritando algumas palavras em outra língua, as vezes eu acordava e meu quarto estava cheio de desenhos estranhos. Eu perguntava para meu pai por que em volta dele estava marrom e ele dizia para mim não me preocupar, que aquilo era só um problema causado pelo acidente. Um dia eu comecei a ouvir vozes e tempos depois, descobri que era pensamentos. Tudo isso antes da pior parte, quando eu descobri que podia saber de tudo sobre uma coisa, apenas tocando nela. No começo eu achei muito legal, até que um dia eu cumprimentei o vizinho, na hora em que nossas mãos encostaram eu vi tudo o que eu não precisava ver, eu vi sua mulher indo embora junto com o jardineiro e levando com si a pequena filha de 3 anos, eu conseguia sentir a dor que ele sentia. Depois disso tive uma sobrecarga e meu pai me levou ao psicólogo que me recomento uns 15 comprimidos que, felizmente, melhorava um pouco minha situação.
Fiz um "tchau" com a mão para Sr. Roberts, que me acompanhava para todos os lugares que eu ia, e entrei no quarto. Fui até o criado mudo e tirei a última gaveta do mesmo, colocando-a em cima da cama, me agachei, enfiei minha mão no lugar que antes estava a gaveta e tirei de lá uma caixinha com os comprimidos que tomo desde os 15 anos. Abri a caixinha, que já estava na metade, tirei de lá 1 comprimido. Me sentei na cama e fiquei encarando o mesmo, suspirei profundamente, eu ainda tinha que acabar com aquele vício. Abri a caixinha e peguei mais 4 comprimidos, fechei os olhos e engoli todos de uma vez.
Me deitei e fechei os olhos, com um sorriso nos lábios. Amanhã eu vou sair desse lugar.
-----------------------------------------------------------------------------
![](https://img.wattpad.com/cover/54866634-288-k411219.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Insanity
FanfictionQual a possibilidade de dizer para as pessoas que você consegue ver auras, ler pensamentos, saber tudo sobre alguém apenas com um toque, ter sonhos que muitas vezes se realizam, ter visões pré-apocalípticas e elas levarem numa boa? Bom, nenhuma. Fan...