Dezenove.

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Estava voltando de mais um dia de treino, caminhando de vagar. Havia escolhido ir a pé. As dores no meu corpo já estavam sumindo, ou eu apenas estava me acostumando com elas.

Pensava no que Carlos havia dito no dia que tínhamos saído, sobre Artur. Depois dessa semana que havia passado comigo encarando todos os dias Carlos na aula e as vezes no intervalo quando os nosso horários se cruzavam, e também Artur na academia quando tinha que treinar em par com ele. Tentei assimilar algo em comum em ambos, algo com que os aproximasse para serem amigos.

Mas Carlos disse que eles são "velhos amigos", será que eram velhos amigos do tipo que já foram, e que não eram mais, ou velhos amigos que são super próximos pois já é uma amizade antiga? Por algum motivo essa colocação, " velhos amigos" me incomodava e deixava-me curiosa.

Só que o que mais me incomodava, era o fato de eu não conseguir assimilar nada em ambos. Talvez eu que não fosse boa em ler o caráter das pessoas. Só que Artur era completamente indecifrável. Havia dias em que ele chegava com um olhar de preocupação enorme, mas sempre que falávamos com ele, abria um sorriso e era educado como sempre. Houve dias em que ele chegou de mal humor, mas na hora de conversar, ele não era sorridente e nem educado como sempre, mas não era cruel e muito menos arrogante, ele falava o necessário, se aproximava o necessário, e treinava com o restante de nós só quando não havia realmente uma desculpa. Ele era misterioso de mais, andava sempre com um livro na mão ou com uma mochila nas costas. Uma vez ele chegou com um roxo horrível na cintura, é claro que não perguntei de onde ela surgiu, mas me lembrei de anotar na minha "lista mental de coisas necessárias para viver" para ter sempre um olho exageradamente aberto com Artur.

Já Carlos, é impossível encontrar um termo que o nomeie. Quando os nossos horários de intervalo se encontravam ele sempre me puxava para uma sala vazia para me encher de beijos, sempre que possível ele se sentava comigo e com Pilar na mesa da cantina pra ficar mordiscando pedaços da minha pizza e tomando alguns goles de água em uma garrafa que ele sempre tinha em mãos na escola. O curioso é que ele sempre andava apressado, nunca tinha tempo pra comer direito, só ficava despreocupado quando estávamos nos amassando nas salas vazias, pois quando estávamos ou no pátio, ou na cantina, ou em qualquer outro lugar onde tivesse mais pessoas ele ficava o tempo todo olhando para os lados, até que de repente ele me dava um beijo fraco e dizia que tinha que ir, antes de eu poder responder ele simplesmente virava as costas e saia andando.

Em comum, ambos tinham apenas o boxe.

Não que isso não fosse o suficiente. Na verdade, acredito que eles poderiam facilmente serem amigos sem ter nada em comum. Artur era sempre tão receptivo e educado que poderia ser amigo de qualquer um. E Carlos era sempre alegre que não seria difícil achar amigos.

Antes de chegar em casa, Carlos me mandou uma mensagem:

Carlos Pangborn, 17:34.
"Oi linda, tem uma festa na piscina hoje, posso passar na sua cada às 20:00??"

Paige West, 17:36.
"Pode ;)"

Carlos Pangborn, 17:37.
" <3 "

Quando cheguei em casa preparei duas torradas e as comi enquanto tomava um copo com leite. Passei no jardim e meu tio estava lá cuidando das suas flores.

- Olá tio. Cadê tia Loren? - Perguntei.

- Oi querida, como está? A sua tia foi direto ao mercado quando saiu do trabalho, de lá vai passar na igreja para resolver algumas coisas. Por que? - Ele falou enquanto cutucava constantemente um vaso com uma pá.

- Nada. Eu vou sair hoje ok?

- Com aquele rapaz de segunda? - Ele perguntou parando de trabalhar com o vaso e se virando pra mim.

Lutando pelo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora