Trinta e quatro.

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Fizemos piadas sarcásticas sobre coisas aleatórias por um longo tempo depois da confissão de Grover. O clima no carro não tinha ficado muito bom.

Stuart e os outros participavam das piadas através do rádio até sermos interrompidos.

- Galera, notícia ruim: tem uma blitz ali na frente. - Stuart falou.

- Fudeu. - Tobias soltou.

Não demorou muito até avistarmos também. A estrada não estava tão movimentada, os dois carros que estavam a frente do carro de Stuart logo foram liberados.

Stuart parou e um policial foi até sua janela, e outro veio caminhando até a nossa.

O policial tinha altura média, o cabelo estava precisando ser cortado e a barba grande de mais. A farda estava amassada e não encontrei se distintivo.

- Olá. - Cumprimentou.

- Olá senhor. - Artur respondeu educado.

- Vocês vem de onde? - Indagou o policial olhando pra mim e para os garotos no bando de trás, etudando-nos.

- New York. - Artur podia ter contado uma mentira pelo menos.

- Ah é? E pra onde estão indo?

- México! - eu respondi por Artur antes que ele contasse a verdade pra um policial de farda amassada.

Artur me olhou confuso.

México foi minha primeira resposta, eu não fazia ideia se o caminho que estávamos indo também nos ligava ao México.

- Hum, México é? - ele riu um pouco - Podem esperar aqui um estante? Já volto. - ele disse antes de caminhar até um carro na beira da estrada.

Um carro comum, não uma viatura.

- Artur. Temos que sair daqui. - mandei.

- Ahn, Paige eles são a polícia. Relaxa. - Tobias respondeu por ele.

- Polícia? Que tipo de polícia usa carros comuns em vez de viaturas? Que deixa a barba crescer e que usa farda amassada? E onde está o distintivo dele?

Artur demorou uns dois minutos pra ligar os pontos também. Ele agarrou o rádio e chamou Stuart.

- Stuart, eles não são policiais.

O policial de farda amassada que estava no carro deles se afastou da janela e olhou em direção ao nosso carro. Falou algo no rádio dele e então o outro policial saiu de dentro do carro.

Artur enfiou a mão na buzina com força e arrancou com o carro, se Stuart demorasse um segundo pra sair Artur teria peitado nele.

Stuart passou por cima das barreiras que impediam a passagem estilo Velozes e Furiosos. Talvez não fôssemos Velozes mas com certeza Furiosos.

Parei de olhar o relógio de velocidade no painel pra não ter um infarto indesejado. A visão pela janela virou apenas um borrão.

O meu medo era no momento só a velocidade, mas logo ele foi substituído pelo som dos tiros e das balas atravessando a lataria do carro.

- Me da uma arma! - Mandei pra qualquer um que estivesse me ouvindo e me virei pra trás pra recebe-la.

Grover me estendeu uma metralhadora que eu nem sabia que estava ali, o problema é que Freddy não me ensinou a atirar com metralhadora. Mas não devia ser tão diferente né!?

Freddy pegou outra e começou a abaixar o vidro da sua janela. Eu fiz o mesmo.

- O que você tá fazendo? - Artur berrou.

-Revidando.

Enfiei os braços com a metralhadora primeiro e depois a cabeça. Mirei nos pneus e atirei. O coice da metralhadora era bem pior do que das outras porque era frenético, mas logo eu me acostumei.

O problema era que agora eles tinham um alvo: minha cabeça. E tenho certeza que a mira deles é bem melhor que a minha.

O capô do carro deles começou a soltar fumaça.

Esvaziei o pente, enfiei a cabeça pra dentro e recarreguei. Quando ia sair de novo fui impedida.

- Paige, não! - a voz de Artur gritou. Olhei pra ele e derepente parecia estar tudo em câmera lenta.

Ele segurando o volante com tanta força que os nós dos dedos estavam sem cor. Os braços estavam rígidos. Seu ombro sangrava de novo. Os olhos estavam vermelhos e as orelhas também. Suor escorria por sua testa e passava por todo o rosto. Seu olhar era novo pra mim, ele estava tenso, zangado, triste...? Uma ruga estava parada no meio da testa, as sombrancelhas curvadas e o dentes trincados.

Então quando olhei pra frente a velocidade das coisas voltaram a ser às mesmas. Um carro veio contra Stuart fazendo ele freiar abruptamente mas ainda assim colidiu de frente com esse carro.

Artur também freiou pra não ter que peitar neles.

E então tudo rodou e rodou, e depois girou, girou, girou até eu não poder mais contar.

Eu sacudia batendo contra o painel, contra o banco e depois contra Artur... Eu batia em tudo. Os vidros se quebravam e os cacos rasgavam minha pele, a metralhadora batia contra minha cabeça e então ela escapuliu pela janela.

Ouvia gritos. Gritos de homem e de mulher. Só então percebi que eu também gritava.

E então tudo parou.

Tudo se apagou.

Estava tudo escuro, e estrelas começaram a surgir, brilhando como jóias.

E então o rosto da minha mãe apareceu. Sorrindo. Feliz.

- Olá Paige. - ela disse.

Não é real.

- Sinto sua falta minha filha.

Não é real.

- Faça o que é certo minha querida.

Não é real.

- Levante. E me honre. Honre o seu pai. Você é guerreira Paige. Faça o que é certo.

Sim, é real.

Lutando pelo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora