Trinta e três.

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Já faziam trinta minutos em que tínhamos chegado a uma conclusão e um silêncio mortal caiu sobre a sala. Cada um pensava em algo diferente.

Eu pensava em alguém que estava ao meu lado.

Eu pensava em Artur.

Tinha que bolar um plano pra ele não se machucar. Eu poderia até morrer, mas ele não.

Artur era bom demais pra morrer.

Olhei pelo canto dos olhos pra ele e tive que abafar um suspiro. Tinha sido assim nos últimos dias: sempre que olhava pra Artur, um suspiro. Sempre que ele olhava pra mim, um suspiro. Sempre que pensava nele, outro suspiro.

Já estava começando a ver isso como uma mania. Ou um tique-nervoso. Pior que isso era como minhas mãos formigavam quando ele chegava perto de mim, e meu cérebro calculava uma maneira de pegar em seu rosto ou em seu cabelo. E então minhas mãos e braços formigavam.

Quando ia me preparar pro treino, e vestia várias roupas diferentes, pensando se alguma chamaria a atenção dele. Se ele me acharia bonita com tal roupa. Eu nunca me importei com isso, mas agora era uma coisa que me tirava a atenção nas aulas de álgebra.

E agora eu sentia vontade de protege-lo. Vontade não. Necessidade.

A ideia de vê-lo ferido de novo atingia meus nervos. Quase me deixava maluca.

Ele se virou pra mim no exato momento em que o observava. Curvado com o rosto apoiado nas mãos e os cotovelos nos joelhos. Os olhos fechados e uma hora ou outra respirava fundo. Estava preocupado. E sua preocupação me deixava preocupada. Queria vê-lo bem.

- O que foi? - ele perguntou. Seus olhos vermelhos.

- Você está bem?

Ele desviou seus olhos dos meus. Olhou pros seus amigos que pareciam estar tão preocupados quanto ele, abaixou a cabeça e levantou de novo.

- Acho que poderia estar melhor. - ele finalmente olhou pra mim novamente e forçou um sorriso.

- Esperava uma resposta pior. - Ri um pouco. A situação que estávamos não me permitia rir muito.

Minhas mãos começaram a formigar. 

Matt havia saído assim que tínhamos formado nosso genial plano. Estávamos todos com fome então me levantei pra ir até a conveniência buscar algo pra comermos.

Abri a porta que dava nos fundos e fui em direção ao freezer, apanhei um litro de refrigerante e caminhei até mais a frente pra pegar alguns salgadinhos. Quando estava indo em direção ao balcão onde Matt conversava com Léo para pagar parei subitamente.

A fachada da conveniência era toda de vidro. Me permitindo ver quando uma camionete preta estacionou bem em frente junto a uma mini van.

Um carro potente pra perseguir. E outro com espaço para prisioneiros.

Era assim que minha mente olhava as coisas ultimamente. Se eu viu uma faca de mesa imaginava formas de me defender com ela. Se via um clipe de papel, formas de abrir um cadeado. Tudo pra mim tinha uma segunda forma de uso. Uma forma mais maliciosa.

Tentei ignorar os carros. Afinal, era um posto de gasolina, é normal chegar carros de todos os tipos o tempo todo. Sacudi a cabeça para afastar aquela desconfiança e resolvi ir até uma prateleira de remédios. Peguei um pra dor de cabeça e antes de ir pagar, olhei novamente pelo vidro.

Eu não estava pensando muito.

Não era coisa da minha cabeça.

Eu estava certa.

Lutando pelo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora