Vinte e dois.

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Naquela noite eu não acordei gritando, apenas com um pulo da cama, suor escorria pelo meu pescoço e na minha testa, a luz do meu quarto havia sido apagada, o relógio do meu celular marcavam 00:49.

Levantei em busca de água antes de voltar e me deitar novamente.

A minha cabeça foi inundada de pensamentos assustadores. As pesquisas sobre a vida de Gabriel Sccot incluíam o Carlos, afinal Gabriel era pai de Carlos. O que não saia da minha cabeça era uma das fotos de mestre Oliver, uma foto que fora tirada sem sua permissão, por um paparazzi talvez, seus olhos vermelhos e inchados mostrava que tinha chorado, suas olheiras marcavam que não dormia a muito tempo, seus ombros caídos indicavam cansaço. Em um vídeo, ele fugia dos repórteres, e quando esses o especulavam ela apenas repetia "Foi ele que a matou, foi ele, foi ele, foi ele..."
Porque mestre Oliver diria que foi Gabriel que matou sua esposa se ele não tivesse pelo menos um mínimo de envolvimento? Conheço mestre Oliver a pouco tempo, mas sei que ele não é louco, e muito menos desonesto.

Lembrei daquela reportagem em que a mãe de Carlos falou "Se Gabriel sabe de algo, com certeza Carlos sabe também" um arrepio cruzou minha espinha só de imaginar Carlos se envolvendo em assassinato. Eu gosto muito do Carlos, sou boba por ele, mas não posso me envolver com um cara que é metido com assassinato. Eu tenho nojo, repulsa, por assassinos. Meu pai foi morto pelas mãos de um.

E o pior de tudo é que não tem como saber. Não tem provas que incriminem o pai de Carlos, mas mestre Oliver ficou por tanto tempo paranóico com isso que é difícil acreditar que Gabriel não tenha envolvimento. E se ele for realmente o culpado, quem garante que Carlos não o ajudou?

Eu preciso tomar uma decisão. Mas não há como fazer isso sem que eu tenha provas em mãos. Não posso continuar com Carlos sabendo que ele pode ser um assassino, mas e se ele não for? Também não posso simplesmente o julgar como assassino e terminar.

Minha cabeça doeu quando finalmente cheguei a uma decisão. As 02:03 eu dormi novamente.

* * *

Estava evitando Carlos, quando cheguei na escola de manhã, lá estava ele, do lado do meu armário me esperando.

- Oi. - Ele disse e me abraçou.

- O-oi.

- Você está bem? Ta pálida.

- Estou... bem... n-não é nada. - Disse abrindo o armário e enfiando os livros do dia na bolsa. - Tenho que ir... Tchau.

Quando finalmente cheguei na sala de aula, percebi que tinha parado de respirar. Não sabia o que Carlos era, mas eu já estava o vendo como um assassino. Me crucifiquei por julga-lo sem provas, mas eu só tiraria isso da minha cabeça quando tivesse certeza.

Caminhei até o galpão uma hora mais cedo que o normal. A porta da frente estava fechada, porém destrancada. Abri lentamente e entrei. Estava parado, sem ninguém. A não ser por um movimento vindo do escritório. Fui até lá e quando ia bater escutei uma voz conhecida.

- Ela não pode fazer isso - Artur disse.

- Ela não sabe de nada Artur, não há como evitar. - Mestre Oliver respondeu.

- É claro que há! Vamos contar pra ela. -Artur disse aumentando o tom de voz.

- Não é simples assim Artur, você acha mesmo que ela vai acreditar? Você sabe como Carlos é controlador, ele já deve ter conquistado a confiança dela... - Meu sangue gelou ao ouvir o nome de Carlos.

- Não! - Artur gritou. - É óbvio que ele quer apenas fazer testes com ela, como fez com a Amanda, e com...

- Pare com isso Artur! - Mestre Oliver gritou ainda mais alto. - Eu sei que você gosta dela Artur, eu sei que você quer livrar qualquer pessoa das mãos do Carlos, mas nós não podemos simplesmente sentar ela em uma cadeira e começar a contar tudo o que aquele bando de psicopatas fazem! Nos precisamos de tempo, e de provas!

- Vai ser tarde de mais. - Artur disse.

- Não vai ser. Paige sabe se cuidar. - Foi aí que meu coração quase parou.

A maçaneta da porta rodou e a porta se abriu. Um Artur de orelhas vermelhas, olhos inchados e ombros caídos saiu de dentro do escritório para se deparar com uma Paige paralisada e com olhos marejados.

- Paige? - Ele disse confuso.

- Oi. - Eu disse mostrando um sorriso frouxo. - Tudo bem com você?

- O que você está fazendo? - Ele tinha um livro grosso de capa preta na mão.

- Eu... Eu vim falar. - Pausei pra voltar a respirar. - Pra falar com mestre Oliver.

Mestre Oliver saiu de dentro da sala com as sombrancelhas levantadas.

- Pode falar. - Ele disse simplesmente.

- Eu... eu gostaria de me sentar. E... de um copo com água. - Eu falava de vagar. Com os olhos presos na clavícula de Artur, que era onde meus olhos batiam. Podia sentir meu corpo tremendo e minhas pernas ficando dormentes aos poucos. Podia ouvir meu batimento cardíaco e o sangue das minhas orelhas drenando.

Artur segurou me braço com mãos delicadas e me levou para uma cadeira dentro do escritório. Depois de sentada peguei um remédio para batimentos que eu sempre carregava dentro da bolsa e engoli com a água que Carlos havia trago.

Tentei esquecer tudo o que havia escutado, e focar no que tinha vindo tirar a limpo.
Levantei a cabeça e mestre Oliver estava sentado do outro lado da mesa com um olhar estranho. Artur estava em pé quase do meu lado com um olhar preocupado e uma ruga no meio da testa.

- Eu, e Carlos, estamos namorando. E ontem à noite eu vi algumas reportagens na internet, que estranhamente envolviam, você, ele e o pai dele. - Falei olhando diretamente para mestre Oliver.

- O que diziam nessas reportagens Paige? - Foi Artur quem perguntou.

Engoli em seco, traguei todo ar que podia e soltei tudo como uma bomba.

- Dizia que Gabriel Sccot Medina é pai do meu namorado, e que ele é um suposto assassino, e dizia ainda, que se Gabriel é um assassino, seu filho também é. E que, eles mataram sua esposa mestre Oliver. Na verdade, quem disse isso foi você nas reportagens. Mas o caso, é que eu não sei em que acreditar e nem o que fazer. Não tem provas que eles realmente mataram ela, mas você aparece dizendo que foi, e eu não sei se você é do tipo que inventaria algo do tipo, eu não posso namorar um assassino. E eu conheço você a pouco tempo, e também conheço Carlos a pouco tempo, mas eu confio mais em você pra me dizer o que é verdade ou não. Eu gosto muito de Carlos, por isso eu preciso de uma prova de que ele realmente fez parte disso pra poder ter razões pra terminar com ele.

Mestre Oliver olhou para Artur, e depois olhou pra mim.

- Paige, o que eu vou te contar agora, não é nenhum segredinho de criança, então por favor, mantenha a calma antes de tudo e deixe eu contar tudo antes de fazer qualquer pergunta. Tudo bem Paige?

- Tudo bem.

Lutando pelo amorOnde histórias criam vida. Descubra agora