22. Hotel

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Pierre havia parado o carro ao lado da guia de acostamento, me mirando com seus grandes olhos esverdeados. Seu olhar perplexo passava a ideia de que eu só poderia ter me tornado insana, de uma vez por todas, por estar sugerindo algo daquela magnitude.

- Você não está falando sério, está? – ele exalava fervor. O suor descia por sua testa proeminente, encontrando fim nas maçãs de seu rosto.

- Nós temos que resgatar o corpo de Lara. – eu pronunciei novamente, como se aquela conclusão fosse a coisa mais óbvia a se fazer. Em minha mente, aquilo fazia sentido. Eu não poderia deixar o corpo de minha melhor amiga apodrecendo naquele lugar escuro.

Pierre franziu o cenho para mim, o que demonstrava claramente que ele pensava que eu havia ficado insana de uma vez por todas.

- Você está ouvindo as coisas que está dizendo? – ele entortou o lábio em minha direção, pasmo.

- É o mínimo que podemos fazer. Até porque você era o NAMORADO dela. – fiz questão de enfatizar o relacionamento que ele possuía com a Lara. – Acha justo deixarmos o seu corpo dentro daquele lugar tenebroso? Acha justo não darmos um enterro digno para ela?

- Bel, eu sei o que você quer fazer. – ele juntava as mãos, e seus olhos suplicantes estavam temerosos pelo que viria. – Mas convenhamos que não é uma boa ideia. Você acha que pode simplesmente arrombar um lugar, pegar um corpo, colocar no carro e enterrá-lo? Sabe o que a polícia de Solitude fará quando nos encontrarem?

Aquiesci, notando que aquela discussão estava tomando proporções gigantescas e inúteis. Não adiantava mais discutir com Pierre sobre aquilo, pois havia convicção em sua voz de que nós faríamos aquilo que ele bem entendesse, pois na sua opinião, eu estava sendo insensata.

Mas não posso fazer nada. Eu tinha um sentimentalismo exacerbado pela Lara. Poderia ser a culpa, emergindo dentro de mim uma vez mais. Quem sabe, não é mesmo? Mas ainda assim, eu sentia lá no fundo de que eu deveria fazer o mínimo por seu corpo.

Ela mesma havia me pedido por aquilo, não era? Pois bem! Eu precisava ajudá-la uma última vez, por mim mesma, e também, pela minha melhor amiga.

- Você não faz ideia de como eu me sinto, Pierre. – disse à ele, dando de ombros. Não adiantaria mesmo, ele não mudaria de ideia.

- Acho melhor procurarmos algum hotel para passarmos a noite! – a sua exclamação entrou sem o menor sentido em meus ouvidos. Até onde me lembrava, havíamos ido para aquela cidade bem cedo, e não ficamos tanto tempo assim dentro do Gazetino.

Pelo contrário. O tempo que passamos ali foi tão curto, que meu estômago nem anunciara que estava com fome. Afinal, só havíamos tomado um curto café da manhã. Aquilo não chegava, nem de longe, a ser uma refeição suficiente para me saciar por um dia inteiro, sem nem ao menos me dar conta disso.

Mas olhando para o sol que se escondia no horizonte, notei que Pierre realmente fizera uma observação acertada. O dia já estava indo embora, dando lugar à imensa escuridão que iria pairar pela noite.

- Uau! – exclamei, impressionada. – O dia passou rápido. Como isso é possível? – perguntei, olhando para um Pierre que me cerrava com seus imensos olhos esverdeados.

- Eu não sei. – ele mordiscou suavemente o lábio inferior, e soltou os ombros – Mas tem algo bem estranho neste lugar. Eu te falando, Bel. Nós precisamos sair daqui o quanto antes. – e dizendo isso, ele dava partida no carro.

- E vamos para onde? Viver como dois sem teto fugindo da Polícia? Acorda, Pierre. – reclamei, tentando fazê-lo mudar de ideia. – Eu sei que este lugar não está nada agradável, mas é a melhor chance que temos no momento.

Não foi suicídio! Onde histórias criam vida. Descubra agora