28. Remorso é um sentimento forte

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Belina – Santo Ceifeiro

Acordei sentindo meu corpo dormente, me espreguiçando na cama. Olhei para o lado, tentando reconhecer o homem que estava comigo, já que não estive com mais ninguém desde que Guilherme, meu ex, bom... não estou pronta para falar sobre o ele agora.

A noite anterior aparentada estar vaga em minha mente, e eu realmente custava a me lembrar de coisas eu haviam acontecido. Minha memória estava ficando entorpecida. Eu estava dilacerada pelo luto que ainda existia.

Levantei da cama, enrolada nos lençóis. Pelo visto, a noite havia sido realmente muito boa. O homem ao meu lado estava com a cabeça afundada em seu travesseiro. Logo ele acordaria, e me diria que aquilo não havia passado de uma transa, e nada mais.

Embora fugisse de meus conceitos conquistas de uma noite só, eu preferia que ele partisse assim que acordasse, e não me procurasse nunca mais.

Abri lentamente a janela, com medo de acordar o moço, mas ao mesmo tempo, olhei para o relógio que estava acima da cabeceira da cama, constatando que havia passado da hora dele acordar, e sairmos dali de uma vez por todas.

A vista daquele hotel de quinta categoria dava para uma rua não muito movimentava. Mais parecia uma cidade fantasma, e assim que vi aqueles rostos hostis que passavam por si como meros desconhecidos, lembrei-me de tudo.

Engoli em seco, olhando para a cama onde Pierrrrre (com todos os erres possíveis) estava completamente nu, com seu corpo agora virado para cima, deixando à mostra tudo aquilo que a vida lhe dera generosamente.

- O que nós fizemos? –Olhei para ele, que já acordava, e me sentindo completamente culpada por aquilo. Estava muito claro o que havíamos feito, mas eu me sentia enojada o suficiente para não querer que ele dissesse com todas as letras aquilo.

Como se seu silêncio evitasse que aquilo fosse real.

- Nós tivemos uma noite maravilhosa! – ele exclamou, demonstrando-se insatisfeito com a expressão de arrependimento que existia em mim.

- Não deveríamos ter feito. –  mirei-o de modo perturbado. Ele se levantou, colocando sua roupa íntima em um ímpeto.

- Eu disse que você iria se arrepender. – sua voz apresentava amargura, como se a culpa fosse completamente minha, e eu não poderia deixar de dizer que realmente era. – Mas você parecia uma tigresa indomável, ontem à noite!

Elevei minhas mãos à cabeça, segurando-a firmemente para absorver tudo aquilo. Realmente, eu me lembrava daquilo.

- Você deveria ter me contido. – eu tento segurar as lágrimas para não soluçar de raiva. – Nós não deveríamos ter feito.

- Calma, Bel. Não é o fim do mundo! – ele vem me consolar, já completamente vestido. – Você não está bem. É a segunda vez que acorda sem lembrar de onde estava, ou o que havia acontecido...

- Eu não sei o que está acontecendo. – instiguei, com medo de começar a ficar insana. – Por que eu agi daquela maneira? – agora eu lembrava com grande clareza o que havia acontecido. – Por que eu me esqueço dessas coisas? Eu não sei o que está acontecendo, Pierre. – eu falo exasperada, como se ele pudesse me arrumar alguma solução, fosse ela qual fosse.

- Eu não sei, mas existe uma energia bem negativa pairando nessa cidade. – ele alegou, levantando-se. – Temos que sair daqui o quanto antes, eu estou com um pressentimento bem ruim.

Ele coloca sua carteira dentro da mala, me dando a privacidade necessária para que eu me arrumasse.

Aquele lugar estava misterioso demais para o meu gosto. Não gostava dos lugares aos quais ele me levava, e simpatizava com as pessoas que habitavam aquele ambiente hostil.

E teve aquele português... o homem que havia falado comigo sem Pierre nem se dar conta, e desaparecera assim que eu comecei a me sentir zonza.

Aquele homem apresentava uma aura misteriosa, e embora eu nunca o tivesse visto antes, seu jeito não me era estranho.

E logo após ele desaparecer, eu havia ficado fora de mim. Aquilo parecia bem suspeito, e mesmo não fazendo a mínima ideia de como uma coisa estaria relacionada à outra, eu ainda insistia em querer juntar tudo. 

Era daquela forma que minha mente começava a trabalhar, vindo em um clarão todas as informações de uma só vez. 

Fui para o banheiro lavar o rosto antes de sair daquele quarto imundo, marcado pelo pecado que eu havia cometido. Banhei meu rosto, permitindo-o ficar imerso na água profunda daquela pequena pia.

A água gélida congelava minha face por alguns minutos, e se eu pudesse, me afogaria ali mesmo, como se a intensidade da água fosse capaz de lavar os erros que estavam marcados em meu corpo.

Quando levantei os olhos, minha visão ainda turva mirava meu rosto ainda com sono, e todas as linhas de expressão que ele marcava. Logo ao meu lado, o espelho refletia outra imagem. 

Eram traços femininos e tão bem marcados, maçãs protuberantes e delineadas, como a verdadeira face de uma boneca. Sua boca de lábios médios estavam fechados em sinal de reprovação.

Seu cabelo loiro repicado chegava-lhe ao ombro.

Engoli em seco, ainda mirando sua face pelo espelho do banheiro, completamente incrédula e com medo.

- Lara... 

*** 

Olá, amores! Tudo bem com vocês? 

Como este capítulo ficou bem curtinho, resolvi postá-lo hoje mesmo! 

Não deixem de curtir e comentar! 

Abraços, 

Ju. 

Não foi suicídio! Onde histórias criam vida. Descubra agora