10. A mensagem

5.1K 411 117
                                    



Afastei seu corpo do meu, ainda em êxtase pelo que havia acabado de experimentar. Vi estrelas formando uma constelação em minha mente, pois não havia possibilidade de ser verossímil o que acabara de ocorrer.

Ele me beijou? Questionei, avistando seus lábios ainda molhados em uma pequena distância dos meus. Ele me beijou! Não, aquilo não estava certo. Nada ali estava, e aquele dia pesava tanto dentro de mim.

- Isso é um pesadelo, não é?! – dei um impulso jogando o corpo para trás, enquanto secava meus lábios dos vestígios de saliva que Pierre havia impregnado em mim. – Eu vou acordar. Perceber que esse dia todo não passou de um pesadelo. Lara vai me mandar uma mensagem pela manhã, como sempre faz. Vou para mais um dia chato de trabalho chato. Vou ouvi-la falando sobre o quanto o namorado dela beija bem, e esconder que sonhei que o seu Pierrrre havia me beijado. Isso só pode ser um pesadelo, não tem como nada disso ser real.

- Bel... sei que está transtornada, mas tente entender... – ele esticou as mãos em direção ao meu braço, e seu toque quente só me fez perceber que tudo aquilo era real.

Eu não estaria sonhando conseguindo sentir seus dedos finos prenderem em meu braço como um gancho. Não seria um mero sonho se eu não conseguisse ouvir sua respiração abafada e levemente ritmada em um farfalhar. Não, não era um sonho.

- Não me toque! – me encolhi em mim mesma, desviando dele e daquela cara de cachorro arrependido. – Eu quero sumir daqui, seu idiota! Quero fugir de você. Não sei o que está acontecendo contigo, mas não é normal que você reaja dessa forma à morte da sua namorada.

- Eu já disse como me sinto. – ele tentou justificar, mas fiz um gesto com o dedo indicador para que se calasse.

- Eu sei. Ah, e antes que me esqueça, sobre esse beijo... – aproximei-me de seu rosto. Seu olhar fixou no meu, e vi um brilho em suas íris. Mas antes que ele tomasse qualquer atitude, levantei minha mão até a altura de sua face, e dei um tapa.

O tapa emitiu um som alto, como o impacto de um objeto pesado sendo atracado contra o chão. Seu rosto virou instantaneamente, conforme meus dedos marcavam sua face.

- Você pode até não ter sentido nada sobre a morte da Lara. – comecei, rangendo os dentes de raiva. – Mas não significa que pode ficar se aproveitando da dor alheia para tirar proveito.

- Mas eu não...

- Cala a boca, eu estou falando. – apontei o dedo indicar em sua direção, ainda mais autoritária. – Eu vou tentar fingir que essa patifaria que você acabou de fazer comigo, nunca aconteceu. Vou tentar. Mas trate de nunca mais repetir isso, ou da próxima vez vou fazer você se arrepender do momento em que entrou na vida da minha amiga. Fui clara?

Ele assentiu, me observando calado.

- Gosto assim! – exclamei, dando meia volta para ficar de costas pra ele. A confusão em minha mente era tamanha. Não havia em mim lágrimas para lamentar por mais nada. O suicídio de Lara me parecia algo tão distante agora, e isso me fazia suportar a dor. Ou fingir que agora ela estava mais amena.

Os problemas apenas se multiplicavam, e eu não tinha a mínima ideia de para onde correr, mas sentia que não iria demorar muito para a polícia me encontrar com Pierre. Certamente alguém deveria ter visto que entrei em seu carro. Meus vizinhos conheciam Lara e seu namorado. Eles tinham a consciência de que ela havia caído da janela de meu apartamento. E eu fugi, como se fosse culpada.

Eles me encontrariam, não havia conjecturas sobre isso. Era só uma questão de tempo.

- Posso falar? – Pierre atraiu minha atenção para si, como um cachorrinho que fica manso após ter levado uma bronca.

Não foi suicídio! Onde histórias criam vida. Descubra agora