BELINA.
Eu já havia me arrumado sem grande demora para o show de mágica. Embora não estivesse exatamente entusiasmada em passar algumas horas assistindo truques baratos no meio de uma cidade nada hospitaleira, faria aquele esforço por Lara.
Afinal, aquele sempre havia sido o objetivo de irmos até aquele lugar, desde o início. Pierre ainda se arrumava quando eu finalizava o penteado em meu cabelo. Minhas madeixas não estavam revoltas naquele dia, ao contrário, aliás. Os fios estavam bem alinhados e rentes à minha costa. Apenas o prendi no alto da cabeça em um coque sofisticado, como já era de costume fazer para ir ao trabalho.
A roupa que eu usava estava amarrotada quase completamente, embora não fossem amassados grotescos. Dava para desviar a atenção daquela blusa de caimento simples, para a saia preta plissada, que demarcava minha cintura com um grosso cinto de fivela dourada.
Pierre havia ficado pronto. Usava uma camisa polo azul marinho, que em nada ressaltada a cor intensa de seus olhos verdes, mas não era aquela a finalidade. Usava uma calça cor caqui, que o deixou despojado. Seu cabelo estava desalinhado, por mais que suas tentativas de arrumá-lo fossem incessantes, mas ele resolveu-se por apenas deixar o cabelo com aquele aspecto bagunçado mesmo, o que, confesso eu, havia o deixado até mais... charmoso.
Descemos para a recepção do hotel, e a moça de feições pálidas ainda nos encarava. Seu olhar pousou em nós por um mero instante, em seguida, ela deu de ombros, como se pouco lhe importasse nossa presença por ali.
Pegamos o carro e dirigimos até a localização indicada pelo folder que a moça da recepção – havia me esquecido de perguntar seu nome – nos entregara.
Eu estava intrigada com o modo como aquela garota havia falado conosco, e seu vocês não sairão daqui sem pagar o preço necessário.
Aquilo havia sido muito estranho, até mesmo para uma cidade onde tudo o que a circundava não poderia trazer nada de benigno.
Não demoramos tanto para chegar à praça, e embora o céu ainda não anunciasse exatamente a escuridão, era perceptível que já era quase oito horas da noite. Embora o dia tenha passado tremendamente rápido, a noite demorava amargamente a cair.
A praça da cidade ficava em um local não muito longe do hotel, com uma espaçosa vista à céu aberto, bancos bem conservados e sem defecação de pombos – o que em Solitude seria praticamente uma raridade –, tendo um lugar de beleza tão pura e aprazível. Deveria ser o primeiro lugar em toda aquela cidade que não apresentava um aspecto sombrio ou tão sóbrio que chegava a ser fantasmagórico.
Haviam pessoas que formavam um pequeno aglomerado, quase uma multidão, nas extremidades do palco. A iluminação incendia em uma pequena fresta em ambas as laterais, deixando o palco com uma iluminação parca e pouco centrada.
- Acho que já vai começar... – Pierre diz, olhando em minha direção como se esperasse um sinal de minha parte para que fôssemos para outro lado daquele ambiente.
- Provavelmente. – eu disse, lembrando que havia deixado o meu relógio de pulso dentro da mochila no hotel. – Eles não deveriam cobrar uma taxa pela entrada? – questionei, embora não devesse me preocupar tanto assim com mais algum acontecimento inusitado.
Embora aquele nem fosse tão estranho assim. Já havia visto inúmeros shows gratuitos em praças públicas nas cidades vizinhas. É que por se tratar de Santo Ceifeiro, realmente eu ficava com um pé atrás, independente do que acontecesse.
- É, já vai começar. – Pierre faz um gesto para irmos nos sentar em duas cadeiras que não ficavam nem muito à frente do palco, nem tanto no fundo. Precisávamos conhecer novas pessoas naquele lugar, e aquela seria uma ótima oportunidade. Entretanto, tínhamos de ser sorrateiros em nossa abordagem, afinal, não poderia me esquecer do quanto aquele povo não era hospitaleiro.
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Não foi suicídio!
Misteri / ThrillerBelina vê sua vida virar do avesso ao presenciar um suicídio. Frio, rápido e sem explicação. Uma jovem se joga do topo de um prédio, tendo seu corpo perfurado pelos cacos de vidro da calçada. Ninguém entende como uma jovem no auge de sua vida era c...