30. Deixando a cidade

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- BELINA! – ainda sou capaz de escutar a voz de Pierre chamando meu nome de dentro do quarto, mas eu me encontro imobilizada grudada ao parapeito da janela. Meu corpo estático não movia-se um milímetro sequer, embora eu tentasse a muito contragosto, impulsionar o corpo para a frente.

- O que... está acontecendo? – eu pergunto a mim mesma, sem conseguir me mover ainda, mas já redobrando a consciência de que eu quase cometera aquele ato.

A voz de Lara em minha mente já estava tão distante agora, que eu já nem era mais capaz de distinguir se aquilo havia sido real, ou não.

- Ainda não é sua hora! – o homem misterioso apareceu ao meu lado, sorrindo imensamente em minha direção. Em um sopro, impulsionou meu corpo para trás, fazendo-o cair no chão duro do quarto de hotel. Ele sumira com a mesma rapidez a qual aparecera, nem se dando ao trabalho de trazer seu cão infernal daquela vez.

Tudo aconteceu tão rápido que cheguei a questionar minha sanidade mental. Isso não poderia estar acontecendo! Quanta peculiaridade louca em um só momento.

- Belina! – Pierre vem em minha direção, me tomando em seus braços, e certificando-se de que eu estava bem mesmo. – Sua maluca! Nunca mais me dê um susto destes.

- Eu estou bem! – a voz saiu rouca, mas meus olhos arregalados apenas demonstravam que o susto ainda era bem real. E não seria tão simples assim de me despir dele.

- O que deu em você? – ele analisou meu semblante adulterado, perplexo pela cena que acabara de presenciar. – Você ia cometer suicídio. Tem noção disso?

- Não! – a voz sai esganiçada, mas era a pura realidade. Eu não tinha noção daquilo que estive prestes a fazer. Não tive a noção da profundidade que meu ato poderia ter, e me assustava pensar naquilo.

Tudo o que eu mais desejava, era ter um pouco de paz por instantes.

- Me tire daqui! Quero ir embora, para bem longe. – encarei Pierre de modo lúcido, já redobrando bem mais a consciência de meus atos.

- Já deveríamos ter ido há muito tempo! – retorquiu me levantando as pressas, e tomando meu corpo ainda fragilizado, em seus braços. – Vamos dar o fora daqui, antes que mais alguma maluquice aconteça.

E sem olhar para trás, saímos do hotel de quinta categoria em que ficamos hospedados. A moça na recepção ainda nos mirava de forma assustadora – ou assustada, eu não sabia diferenciar – e nos liberou em poucos minutos para pegarmos a estrada.

O valor do quarto foi quase uma cortesia, e eu suspeitava mesmo que eles não quiseram cobrar de nós o preço verdadeiro do quarto. Era muito barato para ser realidade, embora os serviços não fossem dos melhores, o que facilmente seria responsável por explicar o preço tão baixo.

- Existe algo de muito errado nessa cidade! – exclamei para ele, após uma longa pausa na qual estivemos imersos, no mais puro silêncio. Ele mantinha o olhar duro na estrada vangloriosa, e eu refletia em tudo o que havíamos deixado para trás.

O corpo de Lara, que muito provavelmente ainda estava dentro do Gazetino Informativo. Embora não me apreciasse a ideia de deixar o corpo de minha melhor amiga apodrecendo em um jornal abandonado, não voltaríamos para buscar. Nosso bom senso nos dizia que deveríamos sair daquele lugar o quanto antes, e eu estava disposta a obedecer o que minha consciência mandava.

Afinal, ela deveria ter razão. Ela sempre tinha!

Em segundo lugar, descobrimos que o dono do jornal havia cometido suicídio, assim como todas as vítimas que estavam ligadas naquela história absurda.

Não foi suicídio! Onde histórias criam vida. Descubra agora