- BELINA! – ainda sou capaz de escutar a voz de Pierre chamando meu nome de dentro do quarto, mas eu me encontro imobilizada grudada ao parapeito da janela. Meu corpo estático não movia-se um milímetro sequer, embora eu tentasse a muito contragosto, impulsionar o corpo para a frente.
- O que... está acontecendo? – eu pergunto a mim mesma, sem conseguir me mover ainda, mas já redobrando a consciência de que eu quase cometera aquele ato.
A voz de Lara em minha mente já estava tão distante agora, que eu já nem era mais capaz de distinguir se aquilo havia sido real, ou não.
- Ainda não é sua hora! – o homem misterioso apareceu ao meu lado, sorrindo imensamente em minha direção. Em um sopro, impulsionou meu corpo para trás, fazendo-o cair no chão duro do quarto de hotel. Ele sumira com a mesma rapidez a qual aparecera, nem se dando ao trabalho de trazer seu cão infernal daquela vez.
Tudo aconteceu tão rápido que cheguei a questionar minha sanidade mental. Isso não poderia estar acontecendo! Quanta peculiaridade louca em um só momento.
- Belina! – Pierre vem em minha direção, me tomando em seus braços, e certificando-se de que eu estava bem mesmo. – Sua maluca! Nunca mais me dê um susto destes.
- Eu estou bem! – a voz saiu rouca, mas meus olhos arregalados apenas demonstravam que o susto ainda era bem real. E não seria tão simples assim de me despir dele.
- O que deu em você? – ele analisou meu semblante adulterado, perplexo pela cena que acabara de presenciar. – Você ia cometer suicídio. Tem noção disso?
- Não! – a voz sai esganiçada, mas era a pura realidade. Eu não tinha noção daquilo que estive prestes a fazer. Não tive a noção da profundidade que meu ato poderia ter, e me assustava pensar naquilo.
Tudo o que eu mais desejava, era ter um pouco de paz por instantes.
- Me tire daqui! Quero ir embora, para bem longe. – encarei Pierre de modo lúcido, já redobrando bem mais a consciência de meus atos.
- Já deveríamos ter ido há muito tempo! – retorquiu me levantando as pressas, e tomando meu corpo ainda fragilizado, em seus braços. – Vamos dar o fora daqui, antes que mais alguma maluquice aconteça.
E sem olhar para trás, saímos do hotel de quinta categoria em que ficamos hospedados. A moça na recepção ainda nos mirava de forma assustadora – ou assustada, eu não sabia diferenciar – e nos liberou em poucos minutos para pegarmos a estrada.
O valor do quarto foi quase uma cortesia, e eu suspeitava mesmo que eles não quiseram cobrar de nós o preço verdadeiro do quarto. Era muito barato para ser realidade, embora os serviços não fossem dos melhores, o que facilmente seria responsável por explicar o preço tão baixo.
- Existe algo de muito errado nessa cidade! – exclamei para ele, após uma longa pausa na qual estivemos imersos, no mais puro silêncio. Ele mantinha o olhar duro na estrada vangloriosa, e eu refletia em tudo o que havíamos deixado para trás.
O corpo de Lara, que muito provavelmente ainda estava dentro do Gazetino Informativo. Embora não me apreciasse a ideia de deixar o corpo de minha melhor amiga apodrecendo em um jornal abandonado, não voltaríamos para buscar. Nosso bom senso nos dizia que deveríamos sair daquele lugar o quanto antes, e eu estava disposta a obedecer o que minha consciência mandava.
Afinal, ela deveria ter razão. Ela sempre tinha!
Em segundo lugar, descobrimos que o dono do jornal havia cometido suicídio, assim como todas as vítimas que estavam ligadas naquela história absurda.
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Não foi suicídio!
Mystery / ThrillerBelina vê sua vida virar do avesso ao presenciar um suicídio. Frio, rápido e sem explicação. Uma jovem se joga do topo de um prédio, tendo seu corpo perfurado pelos cacos de vidro da calçada. Ninguém entende como uma jovem no auge de sua vida era c...