32. Vitória dos Campos

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VITÓRIA DOS CAMPOS – REGIÃO METROPOLITANA DE SOLITUDE.

A cidade apresentava uma arquitetura sofisticada, e bem oposta à de minha cidade. Vitória dos Campos possuía prédios de três andares, no máximo. O telhado dos prédios possuíam formatos cônicos, lembrando o aspecto de grandiosas igrejas católicas. A coloração das paredes eram, em sua maioria, opacas, trazendo o aspecto de cidade antiga para o lugar.

Vitória dos Campos havia me encantado de primeiro instante, tanto por sua formosura, quanto pela calmaria que inspirava meu coração. 

Gostava dos ares que aquele lugar me trazia, embora tivesse praticamente a certeza de que o fascínio todo se dava ao fato de ter saído de uma cidade tão sombria, e agora, nos encontrávamos naquele pequeno paraíso bucólico.

Lara ainda me olhava do banco de trás do carro. Seu cabelo desgrenhado na direção de sua testa e a palidez eminente, eram sinais claros de que eu não poderia me esquecer do objetivo principal que me levara àquela aventura que parecia tão longe de seu fim.

O que eu poderia fazer, afinal, se eu não pude controlar a situação? Embora nem ao menos era capaz de segurar aquela voz que voltava a falar comigo em minha mente. Lara sentava-se no banco de trás como uma boa moça, mas suas intenções eram terríveis.

- Você precisa provar lealdade à nossa amizade, Bel! Ou vai me dizer que tudo o que vivemos foi da boca pra fora? – sua provocação veio mais suave daquela vez, perfurando minha mente com aquela voz que ainda mantinha-se firme e inalterada dentro de mim.

Eu me lembrava perfeitamente do som de sua voz, e ela não se calava em minha mente. Fechei os olhos com força, como se aquele gesto incisivo tivesse a mera capacidade de me fazer esquecê-la de uma vez.

Ela não está aqui realmente. Não está. E eu não vou permitir que ela me deixe louca! Não vou, mesmo.

Pierre, embora concentrado em achar o Posto mais próximo, notou o esforço que eu fazia para evitar que o delírio me corroesse a mente. As linhas em minha testa estavam franzidas, e meu rosto, completamente contraído.

- Você está bem?! – ouço sua voz aterradora me perguntando o óbvio.

- Estou. – menti descaradamente. Olhei novamente aquela imagem que era emitida pelo espelho retrovisor, notando que os pelos em meus braços se eriçaram ao cruzar meu olhar com o dela. Havia sido impactada, momentaneamente, com a ideia de que ela já não estava mais entre nós, no sentido que as pessoas costumam usar. – Apenas uma dor de cabeça. Sabe como é, dia muito tumultuado! – polidamente completei, não querendo dar detalhes sobre o assunto.

Eu sabia que Pierre já estava questionando minha sanidade mental. Se eu revelasse o que me afligia, pioraria muito mais a situação para o meu lado.

- Descanse! Logo estaremos de volta à Solitude! – a sua exclamação saiu de maneira tão convicta, que aquilo quase soou como um reconforto.

- Ótimo! Nossos problemas acabarão totalmente, assim que chegarmos em Solitude. – ironizei, e ele notou claramente em minha fala.

- Prefere ficar rondando sem rumo por lugares que você não conhece? Não se esqueça que o combustível está o olho da cara! – Pierre afirmava, embora eu não compreendesse o motivo pelo qual ele estava agindo daquela maneira.

A ideia de sair de Solitude havia sido de quem? Do bonito aqui! E agora estava querendo voltar? Aquilo não me convencia. Nadinha!

- Prefiro. Você me convence a sair de Solitude, totalmente foragida, e agora quer que a gente volte para lá? Sei que o plano é esse, mas não custa nada ficarmos longe por mais um tempo, ok? – havia tanta firmeza e dureza em minhas palavras, que não foi surpreendente o fato dele ter arregalado os olhos para mim, desviando por um segundo a sua atenção do volante.

Não foi suicídio! Onde histórias criam vida. Descubra agora