- Não tem mais ninguém aqui, Lara! – anunciei, após cambalear de medo enquanto olhava de esguelha para trás. Não havia cão nenhum, não havia homem. Estávamos eu e Lara em seu quarto.
- Ele está atrás, Bel. – ela se encolhe novamente em seus joelhos, com a voz embargada em emoção. – Ele está. Ele está. Você tem que acreditar em mim. – seus olhos plangentes carregavam tanto pesar. – Ele está aqui, Bel. Acredite em mim. Acredite. Ele está. – ela repetia aquilo ininterruptamente, e seu olhar passava vagamente por mim, e depois, fixava no nada.
Suas pupilas dilatadas me assustavam. Ela estava perturbada. Tão perturbada que beirava a loucura.
- Eu acredito em você, Lara. – menti para ela, segurando suas mãos. – Sei que está confusa com tudo que aconteceu, mas vamos ficar bem, okay? – ela ainda se encolhia, e chorava. – Eu só preciso te tirar daqui. Vou te levar pro meu apartamento. Lá nós ficaremos seguras! – exclamei para ela, tentando acalmá-la, embora minha atitude não surtisse efeito.
- Me tira daqui, Bel. – ela se jogou para cima de meus braços. – Me tira. Me tira. Eu não aguento mais os latidos. Me tira daqui. – ela urrava de dor, como se um soco muito forte houvesse lhe atingido o estômago. Seus olhos se arregalaram mais intensamente, e suas mãos tapavam os ouvidos. – Os latidos, Bel. Faça-o parar de latir. Faça-o parar. – ela se revirava. As lágrimas escorriam por seus olhos já roxos das marcas de tanto choro que lhe descia.
Não tem latido nenhum! Pensei, mas nada falei. Lara estava perturbada o suficiente para que eu ficasse debatendo aquilo. Ela estava tendo alucinações. E vê-la naquele estado, do dia para a noite, me deixava pávida.
- Tudo bem, eu vou te tirar daqui, minha amiga. Tenha calma! – a levantei delicadamente, e apoiei seu braço sob meu ombro. Saímos do apartamento dela, enquanto ela ainda estava aos prantos em meus braços. – Você ficará bem. – falei mansamente ao passar o cinto de segurança envolvendo seu corpo assim que a fiz sentar no banco estofado de meu carro.
- Eu tenho medo. – ela disse, com o olhar evasivo. Suas lágrimas haviam cessado.
- Não tenha. Estou aqui com você! – exclamei, dando marcha ré.
- Você não sabe o que eu fiz... – sua voz ficou em um fio ao pronunciar a última frase.
- E o que foi que você fez? – perguntei, sem desviar o olhar da direção.
- Eu fui estúpida. – ela já aparentava calma, embora observasse a paisagem pela janela. – Não deveria ter feito o que fiz.
- E o que foi que você fez? – retornei a perguntar aquilo, esperando que toda aquela culpa pela qual ela se martirizasse não passasse de outra alucinação.
- Você não entenderia. – ela respondeu, ainda vaga. – Preciso ver Pierre. – ela pronunciou o nome do namorado sem enrolar nenhum rr na língua. – Preciso ver. Ele precisa saber a verdade. Precisa.
Embora voltasse a repetir aquelas palavras, seu tom já não aparentava mais alucinação. Ela parecia estar triste. Encostou a cabeça sob o vidro do carro, e adormeceu por um instante, ainda repetindo, trêmula, a frase: Ele precisa saber.
***
Chegamos ao meu apartamento. As vizinhas fofoqueiras estavam na recepção, ainda especulando a vida alheia. Essas aí não têm mais o que fazer mesmo, viu!
Passei por elas, guiando Lara em direção ao elevador, e já pude escutar o burburinho atrás de nós.
Quem é a maltrapilha que tá com a nariz empinado?
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Não foi suicídio!
Mystère / ThrillerBelina vê sua vida virar do avesso ao presenciar um suicídio. Frio, rápido e sem explicação. Uma jovem se joga do topo de um prédio, tendo seu corpo perfurado pelos cacos de vidro da calçada. Ninguém entende como uma jovem no auge de sua vida era c...