14. Santo Ceifeiro

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Saí rapidamente em disparada, procurando com os olhos o local onde havíamos deixado a caixa de madeira que resgatamos no apartamento de Lara. Pierre havia colocado nela os dois jornais que estavam em minha posse, e no momento, eles eram exatamente o que eu precisava.

Minha mente sofreu uma claridade intensa sobre o dia anterior. Embora eu não compreendesse como pude esquecer todos os ocorridos de um dia para o outro, eles voltavam em breves lampejos.

E aquele, certamente, foi o lampejo mais forte que tive.

Antes de deitar-me na cama, eu havia percorrido meus olhos sobre o jornal. Na primeira página inteira, como se meu olhar pudesse confirmar em uma manchete que tudo o que eu vivera havia realmente acontecido.

O título provocativo anunciando o suicídio. A foto que estampava grande parte da primeira página. Logo acima, o título do jornal, a data à qual ele pertencia; e, bem ao canto, em letra pequena como se tentasse se fazer despercebido, o nome da cidade onde havia sido produzido.

E, logo após, me lembro de ter pego no sono.

Havia sido isso. Apenas isso. E agora, os jornais estavam dobrados dentro da grande caixa de madeira, a qual por si só já carregava inúmeros mistérios que teríamos de resolver.

E este, seria o primeiro deles de que eu me dispunha a tentar solucionar.

A cidade mencionada era pertencente à Região de Solitude, embora eu não tivesse ouvido menção sobre ela até o momento. E seu nome me causava arrepios só de perpassar meus olhos pela palavra que se formava.

O fato de ficar na mesma região que a minha cidade indicava que não iríamos tão longe assim, embora não fosse perto o suficiente para que fossemos encontrados com facilidade.

Pierre me espiava de sobrolho, indagando o que eu estava fazendo com aquele jornal, e pesquisando no Google Maps a localização de algum endereço.

- O que você encontrou? – ele soltou um leve pigarro, de modo que fez a sua presença ser mais notável, reparando a rapidez com a qual eu fazia anotações num folha de minha agenda. Não o encarei de retorno, apenas disse rapidamente:

- Pode ser a chave para nosso mistério. – e guardando a agenda na bolsa, anunciei gravemente – O que está esperando? Temos que chegar à cidade que fica poucos quilômetros daqui.

Ele analisou meus gestos, não sabendo qual reação eu esperava de sua parte. Não sabia se deveria acompanhar o ritmo de meus pensamentos, ou simplesmente, fazer o que eu havia solicitado, pois o que precisávamos mesmo naquele momento, era de agilidade.

- Que cidade? – ele indagou, já tomando a caixa de madeira em seus braços, para coloca-la no carro.

- Santo Ceifeiro. – respondi, dando um sorriso de canto ao vê-lo franzir o cenho diante da afirmativa. – A cidade que nos trará algumas respostas.

- Tem certeza de que quer mesmo visitar uma cidade com um nome desses? – ele me questionou, fazendo gestos para que eu parasse de dizer loucuras. – Eu nunca ouvi falar nesse lugar. E só pelo nome...

- Olha, eu também nunca ouvi falar. – o interrompi – Mas é a melhor alternativa que temos, ok?

Ele meneou a cabeça em afirmativa, em postura firme. Não parecia afim de entrar em discussão comigo naquele momento, e agradeci aos céus por tê-lo feito. Minha cabeça já se encontrava em um turbilhão de informações e dores. Não precisava me incomodar mais ainda em ter que explicar para Pierre o motivo pelo qual as coisas aconteceriam daquela forma. Simplesmente, nós teríamos que ir para o Ceifador.

Não foi suicídio! Onde histórias criam vida. Descubra agora