34. Por que você fez isso?

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VITÓRIA DOS CAMPOS – BELINA.

Pierre me embalava em seus braços, impedindo que eu corresse vorazmente em direção ao suicídio coletivo. Eu precisava ver de perto aquilo, para ter certeza de que havia realmente acontecido.

De que a terrível aparição demoníaca com seu cão estariam lá. O que estava acontecendo, afinal? Aquela cidade de áreas bucólicos tornou-se um necrotério sacramentado com a foice de um vilão que não conseguia satisfazer sua sede por sangue.

Suicídio que sabia eu, eram homicídios temíveis. E o seu algoz, nem chegava a tocar em suas vítimas. Apenas escolhia cada uma, à dedo, para que em sua tortura, jogassem toda a sua jovialidade para os cantos, e permitindo que suas almas desoladas vagueassem sem orientação.

- Me solta, Pierre! – quanto mais eu me debatia, mais ele me agarrava firmemente. As pessoas que passavam em nossa volta ficavam horrorizadas. Por um momento, cheguei a cogitar que eles poderiam servir de auxílio para mim, mas me dei conta de que a cena mais parecia a de um namorado querendo controlar sua louca amada. – Eu não fiquei maluca! – eu gritava ainda em seus braços, batendo com os punhos em seu corpo.

- Ninguém aqui está dizendo isso, Bel! – ele lentamente tentava me acalmar, mas era inútil. Eu não queria me amansar. Não naquele instante em que minha mente explodia de uma só vez, em tantas informações acumuladas e luto que ainda não havia sido superado.

- Por que esse sentimento forte cai sobre mim?! – meus olhos se tornaram esbugalhados, pulsando firmes na direção dos dele.

Se minha alma estivesse desnuda através do brilho de meu olhar, quantos segredos seriam revelados?

- Você precisa descansar. – ele revirou os olhos, como se o que viria em sequencia não fosse sua completa intenção, mas prosseguiu. – Vou te tirar daqui, está bem? – e afagando delicadamente minha madeixa, não demorou a completar. – Precisamos descansar nossas mentes de tudo o que aconteceu. Os jornais sinistros, o homem sinistro e seu cachorro sinistro, o qual apenas você conseguiu ouvir.

Tentei evitar que meus lábios anunciassem um sorriso enorme, mas foi inevitável. Pierre poderia ter todos os defeitos que o tornavam um mala sem alças, mas ele sabia como tratar bem uma pessoa, quando necessário.

- Então é assim? – ouvi a voz de Lara surgir como a sua presença: fantasmagórica, imersa em uma realidade paralela que era pertencente à nós duas. – Vai mesmo continuar traindo minha amizade de modo tão descarado? Você é uma decepção, Belina Colombari.

Senti a intensidade de suas palavras chegarem à mim como uma longa chibatada que me arrebatava. Tentei não lhe dar ouvidos, mas Lara surgia de modo extraordinário. Sua presença tornava-se mais forte a cada instante.

O que eu poderia fazer? Se ponderasse tudo o que ela jogava contra mim, acabaria levando um fim digno de ser documentado em um jornal.

Mas, se a ignorasse? A culpa que eu sentia diminuiria, ou se manteria a mesma? Meu corpo inebriado seria jorrado contra uma ponte qualquer? Ou, a intenção de suicídio desapareceria de mim?

- Vai tudo ficar bem! – Pierre ainda acariciava minha nuca, já me conduzindo em direção ao seu carro.

A avenida já lotava de pedestres curiosos com os suicídios que haviam acabado de acontecer. A curiosidade humana os cegava da tragédia real: estavam preocupados em espalharem a notícia para todos, em contarem aquele acontecimento em uma reunião de família, como se fosse uma grande história.

Qual era a finalidade de todos estarem tão curiosos com aquilo? Puro egoísmo e falta de empatia. Eram almas egoístas que apenas se preocupavam em saber o que ocorria, pois, quando uma tragédia acontece, aquele que sabe mais sobre o que aconteceu, se torna o centro das atenções para contar aos outros.

Não foi suicídio! Onde histórias criam vida. Descubra agora