9. Pierre, seu idiota!

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- Olha aqui, Pierre. – exaltei meu tom de voz, apontando o indicador em sua direção. – Acho bom você começar a se explicar agora mesmo, ou serei obrigada a sentar a mão na tua cara.

Ele prendeu a respiração, apreensivo pela minha imposição.

- Eu não sei explicar, okay? – ele respirou fundo três vezes antes de continuar. – Só sei que durante todo meu namoro, eu amava muito a Lara. Você sabe disso.

- Claro, ela sempre foi obcecada por você. – o interrompi, mas ele prosseguiu com seu discurso.

- Amei mesmo, e fiz por ela coisas que jamais faria para outra mulher. – suas mãos se mantinham firmes ao volante, e seu olhar duro não desviava nem por um segundo da estrada. Estávamos chegando à casa dele. – Mas, logo após ela... bem, você sabe, eu senti uma liberdade. Como se eu sempre tivesse vivido preso dentro de um sentimento profundo que se dissipou assim que ela se foi.

- vendo muito bem a profundidade do seu sentimento. – respondi, carrancuda. – Você é um imbecil descarado sem sentimentos. Um completo idiota que agora vem pra cima de mim com desculpinhas que não fazem o menor sentido.

- Calma, Belina. Não precisa ser tão dura assim.

- Dura? – não estava acreditando naquilo. – Eu sou dura? Escute as merdas que saem da sua boca, e me diga quem é que está sendo duro aqui. – ele fez menção de pronunciar algo, mas o interrompi – E nem mais uma palavra. Não quero acreditar em como você consegue ser estupidamente cínico. Você ouviu as coisas que disse? Faz juras de amor enquanto minha amiga está viva, mas agora que isso aconteceu com ela, nem pra demonstrar um pingo de sentimentos você serve, seu inútil. - alterei meu tom de voz, ainda apontando o dedo direcionado à ele. – Se você amasse mesmo ela, estaria devastado com o que aconteceu. Não feliz!

- Mas eu não tô fe...

- Eu já disse que não quero escutar nenhuma palavra mais. – pestanejei, mas meu coração ainda batia descompassado. – Não consigo acreditar nas coisas que saem da sua boca.

Ele apenas manteve seu gesto no volante, e o olhar na estrada, cada vez mais rígido. Mas nada disse. Embora o silêncio causasse um incômodo imenso, minha indignação com Pierre era tamanha que nada mais importava no momento.

Abri a bolsa que consegui trazer comigo, na procura por meu celular. Ela possuía um forro imenso, com pequenas divisórias para guardar pequenos objetos, mas apenas precisei dar uma olhada pela superfície para encontrar não apenas o que almejava, mas também, aquilo que não queria ver.

- O que isso está fazendo aqui? – sussurrei, puxando o jornal enrolado por uma fita de cetim que dentro de minha bolsa estava. Deveria ser o mesmo jornal da cena do crime da filha de minha chefe, mas caso esteja muito enganada, havia ficado com a Lara.

Não me recordo de ter colocado aqui dentro.

Puxei a fita, permitindo que o jornal se desenrolasse e bem na frente de meus olhos, aparecesse a manchete da folha principal anunciada. Mas aquela não era nem de longe a manchete que eu esperava ver.

- Oh, não! – percorri meus olhos pelo anúncio inteiro, sentindo minha pele perder a cor e meus dedos tornarem-se gélidos.

- Você está bem? – a voz de Pierre instigou, após ele desviar o olhar por alguns segundos e encarar meu semblante perturbado.

- Eu não sei o que está acontecendo, Pierre. – respondi, com o tom ponderado. – A situação está mais complicada do que imaginei.

- Nossa! – ele exclama, engolindo em seca. – O que tem de tão perturbador nesse jornal aí? O dólar aumentou de novo?

Lancei um olhar enviesado à ele, ainda magoada por sua falta de sensibilidade.

- Não é isso. – engoli minhas respostas mais ácidas dentro de mim. – É o segundo jornal do tipo que eu encontro...

- Jornal do tipo? Ah... – sua testa franzida denotava que ele sabia sobre o assunto – A Lara me falou ontem à noite sobre um jornal que encontraram. Falando sobre algo que aconteceu bem no momento do ocorrido.

- Isso mesmo. – ele estacionou na garagem de sua casa, e assim que desligou o carro, mostrei para ele a manchete.

- Caramba! – suas mãos tensas pegaram o jornal, analisando com os olhos arregalados o que estava escrito. – Ma... mas isso não é possível.

- Eu sei. – disse, tirando o jornal dos dedos dele. O agarrava firmemente em minhas mãos.

Saímos do carro, e seguimos caminho pelo corredor estreito da casa dele. Adentramos a porta da cozinha, e ele fez menção de que eu me sentasse em uma das cadeiras da mesa.

- Não! – fiz um gesto com os dedos quando ele fez menção de puxar a cadeira para mim. – Preciso descobrir o que aconteceu com ela.

- Acho que a manchete do jornal já está bem explicativa. – ele indicou o jornal que mantive abaixo de meus braços, com a manchete sobre o ocorrido com a Lara.

Como aquele homem está fazendo isso? Não existe explicação pra isso. Simplesmente. Não tem como um jornal aparecer do nada, nessas circunstâncias.

Não tem como isso ser publicado minutos após ter acontecido. E mais uma vez, com a data do dia seguinte. Não tem como. Não dá. Tem alguma coisa de muito errado nisso tudo, e eu tenho que descobrir.

Eu vou descobrir tudo. Antes que seja tarde demais para mim também.

Notei que Pierre me encarava.

- O que foi? – perguntei, ríspida.

- Você estava murmurando alguma coisa. – ele deu de ombros, achando graça na situação.

- Só estou perturbada com tudo que aconteceu. – retruquei. – Sabe, alguém aqui tem que se preocupar com a Lara.

- Eu já disse que não sei explicar, Bê. Eu amava ela. Amava mesmo. Mas não consigo sentir nada agora. Eu também não sei como, mas tente entender que não faço isso por mal. Eu só não sei o que está acontecendo comigo.

Assenti, disposta a dar um basta naquele assunto.

- Esse dia todo está muito estranho para mim. – Envolvi minha cabeça com as duas mãos, a sentindo pesar. – Está tudo desmoronando. Minha vida, meu serviço, minha melhor amiga que se foi. E agora, pra completar, estou foragida da polícia. Consegue ver como é que eu me sinto? Principalmente por ter que carregar essa carga toda sozinha. Eu pensei que poderia contar com o seu apoio, mas nem isso.

- É claro que pode. – Pierre respondeu, e se aproximando de mim, tirou as duas mãos de meu rosto, me fazendo encará-lo. – Afinal, quem foi que te ajudou a fugir da polícia?

- Tem razão. – dei um sorriso de canto, tentando respirar fundo e não pensar que aquele era o pior pesadelo que eu poderia enfrentar. – Obrigada! E te juro que vou descobrir o que está acontecendo. É só que ontem estava tudo bem. E do nada minha vida toda desmoronou, não sei se aguento isso, Pierre.

- Ei, calma. Eu estou aqui com você. – e ao dizer isso, ele me abraçou. – Tudo ficará bem. – ele afagou minhas madeixas com sua mão direita.

Isso tá ficando estranho!

Pensei, mas antes que pudesse me afastar, ele fez o único gesto que eu jamais pensei que ele pudesse fazer.

Me beijou.

***

Nota da autora: Ei, amores!

Desculpem-me a demora para postar. Estive bem enrolada durante a semana finalizando meu livro (não possui relação com este).

Espero que tenham gostado do capítulo, e comentem o que acharam. Vou gostar de saber a opinião de cada um de vocês. <3

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