13. Lembranças em minha mente

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- Quero ver o artigo! – anunciei, ainda desacreditando das palavras de Pierre sobre tudo o que dizia. Minha cabeça pesava tanto em meu pescoço. Fui tomada pela intensa ânsia de vômito, mas retornei em refluxo.

Não estava bem. As lágrimas que me escorreram pelo rosto deixaram marcas em minha face, embora já tivessem secado em minha pele rubra.

- Você está estranha! – Pierre soltou um pigarro, lançando um sobrolho em minha direção antes de permear o corredor, em busca do artigo.

- Eu sou estranha! – anunciei mais para mim mesma do que para ele, encarando minhas mãos pálidas. Elas apresentavam veias saltadas e proeminentes em sua superfície, contraindo e retraindo suas veias em breves espasmos.

Eu sentia meu próprio corpo de um modo enigmático. Estava diferente. Tudo estava. Ou assim aparentava, ao menos. Minha mente voltava a clarear, mas não com lembranças da noite anterior. Desta vez, era como se eu realmente estivesse me sentindo acordada.

Como se o dia anterior não tivesse passado de um sonho maligno que reproduziu imagens inconscientes. O dia anterior era um espasmo: uma contração que me puxava e retraía para a verdade. Para aquilo que realmente havia acontecido.

- Aqui está! – Pierre voltou com uma caixa de madeira em mãos. Colocou-a diante de meus olhos, e logo após, a deixou sob a mesa para que eu pudesse revistar.

- Ótimo! Só espero não estar ficando louca. – disse baixo, abrindo a caixa e retirando tudo que havia dentro dela. Fotos de Pierre, fotografadas de ângulos distantes. Recortes de matérias. Incenso. Velas pela metade. Até mesmo fósforos usados eu encontrei ali.

E bem na base da caixa, a matéria retirada de um site sobre literatura fantástica, a qual anunciava em letras garrafais e estrategicamente grandes, o título que anunciava o assunto: Cães do Inferno.

Bem, pelo menos Pierre não estava a ficar totalmente fora de noção. Mas, ao encarar a matéria, questionei se a minha própria sanidade mental é que não estava comprometida.

Se ele estava dizendo a verdade – o que, pelo menos, ele havia dito sobre os cães já havia se transformado em um fato verídico –, então eu havia formulado a teoria maluca. Eu o havia induzido a acreditar que a Lara... que a minha Lara havia sido capaz de cometer um ato tão atroz, só para possuir um namorado babaca que era (okay, admito) bonitinho.

Tudo era demais e tão maluco para a minha mente. Recusei-me a aceitar qualquer ponto daquela história sem pés, nem cabeça, e muito menos, nexo. Como poderia supor que existisse uma verdade por trás de tudo aquilo, se ainda nem me havia caído a ficha de que Lara não estava entre nós.

- O velório! – exclamei alto, pegando Pierre de surpresa.

- O que? – ele crispou os lábios, e franziu o cenho diante de minha afirmação tão repentina.

- Nós temos que fazer um velório para a Lara. Telefonar para seus parentes, dar a notícia. – levantei em um impulso, jogando meu corpo para o alto. Minhas mãos se elevaram à minha cabeça. – Oh, céus!

- Bel, em primeiro lugar – Pierre colocou as mãos em meus ombros, na tentativa de me acalmar – você tem que manter a cabeça no lugar. – e soltando um pigarro, prosseguiu – Além do mais, você não pode voltar em nenhuma possibilidade para o apartamento. Estamos entendidos?

- E por que não? – questionei, me desvencilhando.

Ele analisou meu semblante, abismado pela situação que estávamos imersos.

- Você não pode. A polícia está atrás de nós! – sua voz falhou ao proferir as últimas palavras. Ele deu um passo para trás, e me encarou de esguelha ao finalizar sua fala – Tive uma ideia! – ele anunciou, adentrando o corredor entre os quartos mais uma vez.

Não foi suicídio! Onde histórias criam vida. Descubra agora