Epílogo

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Não muito longe de Solitude, uma pequena cidade interiorana se avistada aos arredores de Campinas. As minhas preces haviam sido ouvidas do além, pois eu havia encontrado a pessoa perfeita para cumprir a minha missão.

Já a sondava por um tempo, apenas à espreita de uma brecha que me permitisse adentrar o seu corpo, e apossar-me dele como se fosse meu. Ela ainda continuaria a existir, como era, mas eu viveria dentro dela.

Pensei, olhando para as novas mãos que agora eu possuía. Os dedos eram finos de unhas compridas.

A minha mente, agora lúcida, queimava com as memórias que por ela eram invadidas.

Eu não estava louca. Apenas perturbava minha mente com espasmos de momentos que haviam acontecido. A Lara que me conduzira ao ato. O Guilherme que a ajudou da mesma maneira. As memórias que sumiam e retornavam à minha mente de forma gloriosa.

Ao fim de tudo aquilo, eu morri para ressurgir em outro corpo. Havia invadido aquela garota tão nova, com sua permissão e apenas para satisfazer cada um de meus motivos egoístas.

Mas, no final de tudo, aquele havia sido um ato para o bem maior. O mundo precisava saber o que eu havia descoberto, então minha loucura deveria ser perdoada.

A garota que eu invadira o corpo tinha uma silhueta bem definida. Madeixas escuras com mechas claras lhe caindo na direção do ombro. Nem longas, nem curtas. E mesmo tendo me apossado completamente dela, sendo uma morta dentro do corpo de uma menina que tinha a vida toda pela frente, eu conseguia ouvir todos os pensamentos que ela já tivera.

Desde os de suicídios - oh, pobre garota. Não lhe deixarei fazer isso! - até os desejos mais secretos de se tornar uma escritora.

Ela sempre quis ter uma boa história para contar, mas a inspiração certa nunca lhe viera. Agora, eu tomava para mim tudo o que ela já foi um dia, para realizar seu sonho.

Você tem a motivação certa, minha querida. Eu só estava dentro de seu corpo para contar essa história. Eu estava dentro dela de maneira silenciosa e sorrateira, evitando que ela notasse a minha presença.

A minha intenção, era apenas tomar posse quando ela se sentasse diante de seu computador de teclados pretos, e começasse a escrever a minha história, como se esta, não passasse de uma mera invenção.

Ela já levantava da cama, convicta de que aquele sonho havia sido o mais estranho que já tivera em sua vida. Ligou seu computador, e começando a digitar, as primeiras palavras já saiam dela, e passavam por sua mente em um processo tão natural, que ela nunca suspeitaria o que realmente acontecia. Que, afinal, era eu por trás de cada palavra contando o que havia acontecido.

O mundo precisava saber daquilo. Eu ainda repetia, enquanto a via digitar os caracteres iniciais de sua obra.

E ela se jogou da janela do 17º andar.

Aquela frase direta foi sua melhor maneira de dar forma ao livro. Não demorou muito para finalizar o primeiro capítulo. Após tê-lo feito, voltou à primeira página, tendo o título do livro jorrado em sua mente como um clarão.

Não foi suicídio!

Mas por que aquele título? Ela se questionava. A resposta ainda não estava pronta para ser definida, mas ela iria escrevendo conforme eu mesma fosse lembrando de tudo o que acontecera.

E no topo da folha, o nome da minha possuída jazia como autora do meu livro. Da minha história.

Julianna Rioderguz.

Não foi suicídio! Onde histórias criam vida. Descubra agora