Durante nossa breve passagem pela vida, existem horas que passam com a imensidão de um mero segundo. Mas existem segundos que ficam marcados pela imensidão de uma hora, congelados ao tempo. Pausados como a palpitação de um coração em um lampejo de morte. E logo após esse breve segundo que carrega o peso do Universo consigo, vem a rapidez da realidade.
Foi o que houve quando vi Lara no parapeito da janela. Subsequente, uma explosão de imagens invadiu a minha mente, enchendo meus olhos com tudo o que eu estava vendo, mas nada fiz para impedir.
Como em cortes rápidos de lampejos, a imagem dela sentada no parapeito. Jogando-se abruptamente. Eu correndo em sua direção. O estilhaço de canecas caídas ao chão às minhas costas. Eu me apoiando ao parapeito. Avistando o corpo de minha amiga chocado contra o duro chão de concreto. O grito ensurdecedor emitido. O desespero exalado pelas minhas cordas vocais. As lágrimas que caíram instantaneamente em meu rosto. A dor que me invadiu o peito.
Todos os momentos registrados na rapidez de um mero segundo.
Não podia acreditar que aquilo havia acontecido. Recusava-me a crer naquilo.
Por um momento, quando meus olhos pousaram no corpo inerte de minha amiga contra a calçada, senti o mundo inteiro girando ao meu redor. Uma lágrima me cortou a garganta, pois essa é a finalidade de uma lágrima que desce única pelo rosto: transportar para fora de nós o que tanto pesa por dentro.
E a lágrima descia delineando minha face, perpassando a maçã de meu rosto protuberante, levando um gosto salgado à boca, e finalmente, encontrando seu fim após o queixo.
Uma única lágrima que consegui permitir descer. Uma única lágrima para o único segundo que mudaria minha vida de uma vez por todas. O sofrimento existia dentro de mim, tão natural quanto qualquer sentimento é inerente ao ser humano.
- Lara... – minha voz saiu sem a firmeza que lhe era característica. Carregava tanto peso em uma palavra, quanto uma lágrima era capaz de transportar tanta dor. Aquilo não deveria ser real. Nada daquilo.
A pessoa que eu mais confiava em meu mundo havia acabado de cometer o ato mais hediondo contra a própria vida.
Sentei no piso da varanda, permitindo que desta vez mais do que uma lágrima fosse a meu pranto derramado. Deixei que a angústia se tornasse meu refúgio. Que a dor me envolvesse.
Permiti a mim mesma ser fraca naquele momento, pois nem mesmo o mais forte entre os homens é capaz de tolerar a perda de alguém que ama. Meus olhos estavam embaçados pelas lágrimas.
Levantei a cabeça, e me deparei com uma sombra masculina projetada na sala. Aquilo não estava me cheirando nada bem. Ainda abalada e cambaleante, levantei num impulso só, retornando para a sala.
- Tem alguém aí?! – perguntei, ainda receosa. Como numa daquelas cenas clássicas de filme de terror.
Não recebi nenhuma resposta de retorno, mas mesmo assim, avancei.
Era só o que me faltava!
Uma respiração farfalhada se tornava mais firme conforme eu adentrava novamente a sala. E a respiração não era a minha.
Um vulto enorme estava de costas para a entrada. Relativamente longe de mim. Usava uma capa preta que cobria suas vestimentas por completo.
- Quem é você? – perguntei, engolindo as lágrimas que ainda restavam. A marca do choro ainda permanecia em meu rosto, em uma linha.
Ele virou o pescoço em minha direção. Seu olhar apresentava surpresa em me ver ali. Seu corpo todo acompanhou o movimento de seu pescoço. Mas o homem nada fez. Apenas permaneceu imóvel a minha frente.
- Como você entrou aqui? – questionei, abraçando a mim mesma, como se meus braços fossem o refúgio que eu precisava para não ser pega por ele.
Seu rosto de feições rígidas e nada complacentes me encarava alucinado. Ele levantou o polegar em minha direção, e o apontou diretamente para a estante de Lara. Onde um jornal dobrado pendia logo acima do aparelho de DVD.
- É você, não? – perguntei, temendo mais que ele não me respondesse, do que desse qualquer resposta plausível. – O cara que estava na janela da Fabiane quando ela se jogou.
Ele nada me respondeu. Virou de lado.
Meus pés trêmulos estavam colados ao chão, e meu peito palpitante me mandava ficar longe do perigo. Eu não podia me aproximar dele, mas aquele silêncio era o mais incômodo que já tive que enfrentar.
O homem apenas fez outro gesto para que eu permanecesse onde estava, e em seguida, seus dedos indicaram as minhas costas. Dei uma olhada de esguelha à varanda, mas ela permanecia inalterada.
Girei novamente o pescoço para a frente. O homem havia desaparecido.
- Ah, fala sério! – soltei os ombros, com a dor de cabeça mais intragável. Eu estava sozinha uma vez mais, com um celular que insuportavelmente começou a tocar.
Era Pierre.
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Não foi suicídio!
Misterio / SuspensoBelina vê sua vida virar do avesso ao presenciar um suicídio. Frio, rápido e sem explicação. Uma jovem se joga do topo de um prédio, tendo seu corpo perfurado pelos cacos de vidro da calçada. Ninguém entende como uma jovem no auge de sua vida era c...