Capítulo 19 - O mercado do Sr. Dogson

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Sentado em um banquinho de madeira em frente à porta, Dogson olhava perplexo para as criaturas que tateavam os vidros, na tentativa de adentrar no estabelecimento. O velho comerciante já estava com quase 70 anos e nunca havia visto nada parecido. Era baixo, gordo e tinha uma barba cinza aparada. Estava ali há seis horas, desde que encontrou os corpos em frente ao seu mercado.

Ao lado da porta, sentado no chão, Daniel estava com sua cabeça apoiada sobre os joelhos. Queria controlar a situação, demonstrar segurança para eles, mas não conseguia, o medo era mais forte. Passou a mão sobre sua cinta de couro e pegou seu walkie-talkie. Apertou o primeiro botão de comunicação, que soltou um estalo e chiou. Tentou a segunda frequência, mas após o estalo houve somente chiado.

- Aqui é o policial Daniel – se apresentou na terceira frequência – Tem alguém na escuta? – um estalo e mais chiado – Merda.

Na cadeira do caixa do mercado, Alex estava sentado comendo batatas Pringles e ao seu lado, Ann bebia uma lata de Coca-Cola. Quando entraram no mercado, Dogson havia permitido que eles comessem o que quisessem. Bobby comeu uma barra de cereal apenas, e Daniel, bebeu uma lata de refrigerante Schweppes. Já Ann e Alex, que estavam com muita fome, aproveitaram e comeram mais.

- Não podemos ficar aqui parados – disse Bobby se levantando do chão.

- O que quer fazer? – indagou Daniel – Sair lá fora e ser devorado por estas criaturas?

- Mas se ficarmos aqui, também viraremos comidas de zumbis. Olhem para eles – Bobby apontou para a porta – Acha mesmo que essas portas aguentarão a pressão deles?

- Acho que aguentarão o tempo suficiente para sermos resgatados.

- Resgatados? Você é o policial que deveria estar nos resgatando e olhe para a situação, você também necessita de resgate.

- Bobby, você não está ajudando – reclamou Ann.

- Você lembra o que seu pai disse, Ann? Esta situação está na cidade toda. Estamos no caos e não existe resgate para todos nós, sendo que a cada momento, aumenta o número destes mortos-vivos nas ruas.

- Onde você quer chegar, garoto? – indagou Dogson irritado.

- Que a situação está fora de controle. E que não terá resgate, que se quisermos sobreviver, teremos que lutar por isso.

- Estamos desarmados – comentou Ann – Não conseguiremos sobreviver cinco minutos lá fora.

- Em sua casa, também estávamos – respondeu Bobby – E o que foi que fizemos?

- Eu usei meus carrinhos para derrubar os zumbis – disse Alex entrando na conversa.

- Mas não estamos mais em seu quarto, Alex – explicou Ann paciente – Estamos em outro lugar, bem diferente daquele seu mundinho de dinossauros e carrinhos velozes.

- Estamos em um mercado. E como o meu quarto, temos várias coisas que podem nos ajudar a se defender lá fora.

- E como acha que vai matar um zumbi, Alex? Com um tomate ou um copo de iogurte? O problema das crianças é desconhecerem a realidade que somente os adultos entendem.

- E o problema dos adultos é subestimarem a coragem das crianças. Julgam o medo como infantil, mas são covardes em momentos difíceis.

Ann tentou retrucar contra Alex, mas sabia que estava perdendo a razão. Mesmo que fossem palavras de uma criança de seis anos, ele havia dito a verdade, um adulto subestima a coragem de uma criança em olhar debaixo da cama, mas o mesmo tem medo de escuridão. Além de Ann, Daniel e Dogson se calaram diante à resposta de Alex, ao se sentirem desafiados a encarar a realidade externa, entretanto Bobby aproveitou a resposta de Alex para motivar os demais pela sobrevivência.

Zombie World - A Origem (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora