Capítulo 26 - A sétima trombeta (Parte 2)

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- Eles já foram? – perguntou Kitty que estava sentada próximo ao armário tombado.

- Não sei – respondeu Nick tentando espiar pela fresta da porta – Mas o corredor parece estar vazio.

- Para onde vai quando sairmos do hospital?

- Vou para casa. Por mais que Bruce não se preocupe comigo, eu me preocupo com ele. Ele é o que resta da minha família.

- O que aconteceu com sua família?

- Meus avós moram em Los Angeles, e meus pais... bem, não importa onde eles estejam.

- Não diga isso sobre seus pais...

- Você não conhece meus pais, Kitty. Não são como sua mãe, que se preocupa todos os momentos com você. Meus pais nunca estiveram presentes em minha vida – alegou Nick irritado e angustiado – Sabe aquela festa de aniversário que as crianças têm todo ano? Eu nunca tive. Sabe aquela tarde no parque, aquele piquenique, aquele momento divertido que passou com seus pais? Eu não tive. Sabe aquele pai que te leva para jogar beisebol? Eu não tive um. Sabe aquela mãe que te conta uma história para dormir? Eu também não tive. Cresci sendo criado por babás e vizinhos desempregados, cresci assistindo Família Dinossauro enquanto meus pais chegavam do trabalho, e sabe quando eles chegavam? Quando eu estava dormindo. Estes são os meus pais, aqueles que não te dão amor por não ter tempo, mas te enche de presentes caros para tapear sua inocência. E onde eles estão agora, quando todo o mundo desabou em um apocalipse zumbi? Viajando por trabalho.

- Mas eles te deram uma coisa e você não pode negar.

Nick consentiu para que Kitty lhe explicasse.

- Coragem. Você é o garoto mais corajoso que já conheci na minha vida, e isto te torna tão especial. Eu poderia estar chorando aqui, temendo pela minha vida, ao ver aqueles mortos-vivos me cercarem. Mas não estou. Você me passa uma esperança, uma coragem que nunca tive.

- Falou a garota que assaltou uma médica, confrontou o diretor do hospital e me empurrou para dentro de uma quarentena.

- Isso não é nada. Nick, você atirou em sua própria namorada que voltou do mundo dos mortos-vivos, se arriscou por um bando de gente que acabou de conhecer e me ajudou a correr, quando sua vida estava em risco. Por mais complicado que tenha sido sua vida familiar, ao menos orgulhe-se do que se tornou. Você é especial, possui um gênero único, não pode ser classificado como um qualquer. Você representa a coragem que os sobreviventes precisam ter neste mundo zumbi. E além do mais, crescer assistindo Família Dinossauro é muito bom, melhor do que a idiota da Peppa Pig – terminou Kitty com seu divertido humor.

- Hahaha... Seu humor é meu melhor remédio – admitiu Nick.

- Mais um motivo para me pedir em namoro – arriscou Kitty em mais uma cantada fajuta.

Nick não entendia se Kitty lhe flertava ou apenas estava sendo irônica, mas não podia negar o quanto a bela garota lhe atraía. Tímido, Nick obstou-se de aprofundar na conversa que havia se encaminhado, e voltou sua atenção para a porta que parecia estar livre dos mortos-vivos. Com cuidado, equilibrou seu pé direito sobre o armário tombado, e curvou-se para espiar novamente pela fresta da porta quebrada.

- Parece que nossos amiguinhos zumbis já foram embora – supôs Nick percebendo o vazio que se acomodava no corredor – Seja lá o plano que sua mãe tenha tido com eles na sala de controle, parece ter dado certo.

Para o ânimo, e também surpresa de Nick e Kitty, o telefone na sala em que estavam tocou. Respeitando a dificuldade de Kitty em correr, devido ao seu ferimento na perna, correu para atender o telefone. Suas mãos tremeleavam outra vez, enquanto gorjeava sua voz rouca.

Zombie World - A Origem (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora