Depois de ter feito Beatriz pagar o almoço, que não foi tão caro quanto ela esperava, Luis a levou numa rua atras do restaurante, ela conhecia o local, a escola Villa-lobo, uma conceituada escola de musica.
_ Beatriz, nos despedimos aqui, espero realmente voltar a vê-la, e espero vê-la com saúde.
_ Eu também espero estar com saúde e inteira quando me vir de novo.
Luis riu, segurou seu rosto e beijou-lhe a testa.
_ Agora vá, procure Livia no auditório.
Beatriz subiu, ninguém a parou, nem perguntou aonde ela ia, exatamente como acontece na maioria das escolas, faculdades...
Entrou e foi ao auditório, já tinha ido lá inúmeras vezes, gostava de musica clássica e sempre ia com uma amiga que tocava violino.
Sempre que faziam um concerto com os alunos, Bia ia com ela.
O auditório estava vazio, mas um som triste e profundo vinha do palco, uma bela menina, devia ter seus vinte anos, cabelos longos e negros, olhos azuis, e um rosto lindo, o mais lindo que Beatriz já tinha visto.
"Se for para ser lésbica alguém dia, que seja por uma menina assim."
Beatriz pensou isso e riu de si mesmo, mas era o que uma amiga vivia dizendo quando uma mulher muito bonita passava, e essa, realmente, era a mais bela de todas.
Não era o corpo, Bia não sabe dizer o que é, ela tinha uma presença, um aura, algo em volta de si.
Mas ela estava abraçada a um violoncelo, e dele saiam acordes divinos, profundos, melancólicos e belos.
Bia se esqueceu por um instante tudo que estava acontecendo e se deixou envolver, avançou na ponta dos pés e ficou vendo ela tocar, a musica invadia o ambiente e a acalmava, por alguns instantes, viajou, lembrando a primeira vez que tinha ouvido aquele instrumente tão belo.
Estava hipnotizada pela musica, poderia ficar ali o dia todo, mas Livia logo parou. Seu rosto mudou, deixou o violoncelo cair e se levantou com o arco.
Andou para trás, pôs as mãos na cabeça e depois jogou o arco ao chão gritando :
_ Merda ! Por que eu sempre erro essa porcaria ? Merda Merda Merda !
Deu um chute no violoncelo, depois sentou-se na cadeira, com as mãos no rosto. ficou assim um tempo, foi nessa hora que parece ter percebido Beatriz.
_ E você, o que está olhando ?
_ Me desculpe, é que estava tão bonito, ai eu...
_ Veio me ver errar não é ? Nunca vou aprender a tocar esse instrumento, sempre erro o sustenido, instrumento idiota, o Violino eu consigo, a flauta, o piano, o teclado, até o saxofone diz o que quero expressar, mas ele, o violoncelo me odeia.
A Beatriz pareceu uma ideia ridícula um instrumento odiar alguém, ia falar quando Livia disse :
_ Parece coisa de doido dizer que o violoncelo me odeia ? A menina, você não conhece esse mundo.
_ Olha, eu vim aqui para...
_ Eu sei quem você é Beatriz ! Luis te mandou aqui não foi ?
_ Foi.
_ Acha que eu vou ajudar gente da sua laia ? Acha que eu quero ocupar o mesmo lugar no espaço que pessoas como você ? O que comeu anteontem a noite Beatriz ?
Beatriz ficou muda. Havia jantado com os canibais para não morrer...
_ Você é um ser desprezível, porque não procura a Karen ? Ela é a unica das imortais que ainda se mete com pessoas como você Beatriz, por mim, vocês estavam todos mortos.
_ Karen, eu só vi uma vez e...
_ Eu também sei disso. Beatriz, a que se acha tão boa que nem aceitou as cartas de Karen, sabe o privilegio que é Karen jogar cartas para você ? Tem pessoas que dariam tudo que conquistaram só por essa oportunidade ! Você alem de desprezível é burra. Detesto gente burra ! Sai daqui, não tenho nada a te falar. Claro que eu sei por que veio. Não vou te dizer NADA. Sai, eu tenho de praticar violoncelo.
Beatriz a ficou assistindo recomeçar a tocar, não sabia o que fazer, também se odiava pelas escolhas que tinha feito, pelo que tinha passado.
A musica que começou ainda era mais bonita que a anterior, e Livia tocava de olhos fechados, Beatriz viu que "daquele mato não sairia cachorro", como diria sua avô, depois ficou pensando na frase, que repetia sem entender, mato ? Cachorro ? Estava tentando ficar mais tempo, pensar em algo, mas, realmente não conseguia, se virou para ir embora, Livia ainda a ignorava.
Estava quase na porta quando pensou em algo. Voltou até bem perto dela e disse :
_ Sra Livia, me desculpe, não vou importuná-la, também me odeio por tudo que fiz, mas acho que faria de novo. Na verdade, nunca deixo ninguém tirar minha sorte por causa de uma promessa que fiz, não iria ofender Karen nunca.
Falava isso enquanto Livia tocava, sem lhe dar atenção.
_ Tem um tempinho eu estava em bonsucesso, e uma velhinha cigana estava atravessando a rua quando o sinal abriu, os carros não perdoaram, avançaram e estavam passando de um lado e do outro rápido, ela fazia sinal para pararem mas eles continuavam passando e ela ali, perdida no meio, todo mundo rindo. Eu sai correndo e fui até ela, fiquei na frente dos carros, podiam ter me atropelado, mas pararam, ai ajudei ela atravessar a rua, sentei num banco com ela, com o pouco que tinha, comprei água mineral e dei pra ela, a mulher estava apavorada.
Bia respirou fundo e continuou, apesar de Livia não parecer escutá-la.
_ Ela me agradeceu, e disse que faria uma coisa muito especial por mim. Eu disse legal, vai tirar minha sorte ? Ela falou "Não, vou lhe dar um conselho, e um muito sábio. Nunca deixe ninguém, ninguém mesmo lhe tirar a sorte. Prometa isso para mim."
_ Eu prometi, ai ela continuou : "_ Quando alguém tira a sua sorte, é como se cortasse seu futuro, a partir dai tudo vai depender do que foi dito, deixe a sorte correr sem ser prevista, geralmente tudo acaba melhor assim, sem profecias, sem sorte retirada. A unica pessoa que pode prever sua propria sorte é você mesma."
Livia continuava tocando, sem dar atenção a Bia.
_ Por isso eu não deixei Karen tirar minha sorte aquele dia. Só por isso.
Livia parou de tocar, virou-se para Beatriz e disse :
_ E eu com isso ? Está só me atrapalhando. Volta pro inferno de onde te tiraram.
Depois, voltou a tocar.

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Imperatrix
Mystery / Thriller"Eu sou aquela que comando os exércitos invisíveis. Sou a que controla o que você vê, ouve e sabe. A que cria decretos que ninguém pode ler. Decretos que você obedece sem saber. Sou aquela a quem as pessoas não se curvam, Mas sou a que tem o mundo s...