Karen, a Imortal

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"Pelo menos eu tentei" disse Beatriz a si mesmo, e se virou desolada para ir embora, mas, quando se virou, deu de cara com uma menina baixinha, cabelos encaracolados, olhos verdes uma expressão fechada no rosto.

_ Devia ter me contado isso.

_ Desculpe, fui petulante admito, mas é que...

_ Não precisa explicar nada.

Karen passou por ela, ficou de frente a Livia e disse :

_ Conte.

Livia deu um sorriso debochado, e continuou tocando.

_ Conte Livia.

Dessa vez, Livia parou, olhou Karen nos olhos e disse :

_ Não Karen. Faria tudo por você, mas não vou ajudar essa mulher nunca.

_ Conte sua musa fracassada !

Nessa hora Livia se levantou irritada, tinha quase dois metros, olhava Karen, que tinha pouco mais de metro e meio, de cima, as duas se encararam por um bom tempo.

Por um instante, pareceu a Beatriz que elas conversavam sem palavras, parece que até conseguia ouvir algumas coisas, mas logo Karen disse:

_ Eu sei Livia, e eu posso contar. Mas eu quero ouvir de você.

Nessa hora Livia começou a chorar, e Karen a abraçou.

Karen sentou-se na cadeira em que Livia tocava o violoncelo, no palco. Livia no colo dela, como uma criança, chorando. Karen fez sinal para Bia, esta chegou, e sentou-se no chão, Livia chorava sem parar, mas, entre os soluços disse :

_ Karen, ele, o Cordial era tão bonito quando jovem, tão diferente, inspirado, maravilhoso ! Eu precisava dar inspiração a ele, precisava mesmo ! Ele, sabe, ele era uma mente incrível, e esse país precisava tanto de alguém como ele...

_ E você inspirou Livia, você conseguiu implantar nele, como nos outros, a inquietude, o descontentamento com o atual, o amor ao próximo, a compaixão.

_ Irmã, eu consegui, mas, veja o que fizeram dele, naquele lugar, sozinho... Um manicômio! 

_ Muitos foram para lá Livia, e outros para lugares piores, mas ele escolheu ser quem é.

_ Não ! Você não sabe, eu achei que poderia ajudá-lo, poderia recolocá-lo no caminho, ai inspirei a menina Lena... Ela foi atras dele.

_ Eu também sei, mas você não teve culpa do que aconteceu, nem ele teve.

_ Já me convenci disso também, mas, ele estava pedindo para morrer, por isso, naquele dia na igreja eu o inspirei novamente, mas, ele não entendeu.

_ Livia, você se culpa, acha que criou o Cordial, mas não, ele seria assim de um jeito ou de outro, é como ele decidiu enfrentar o que a vida fez. Uma pena, mas uma pena para ele.

_ Tanta gente sofreu Karen, tanta gente minha irmã, eu poderia deixá-lo ir naquela tarde na igreja, ele queria morrer, se eu não tivesse impedido, se eu não tivesse inspirado. E agora, o mal que ele está soltando no mundo?

_ Livia, a sua inspiração foi benéfica, mas o artista interpreta a sua inspiração, você não tem controle, nem pode ter, você dá um presente, único, maravilhoso, mas, somente quem recebe sabe o que vai fazer com ele. Venha, sente-se aqui.

Karen levantou-se e sentou Livia na cadeira. Depois, pegou o violoncelo e o colocou nas mãos de Livia, junto com o arco.

_ Agora toque, por favor.

Livia tocou como nunca ninguém havia tocado na frente de Beatriz, Karen sentou-se no chão ao seu lado. Beatriz encostou a cabeça em seu ombro, ela colocou a cabeça de Bia em seu colo e acariciou seus cabelos enquanto Livia tocava.

ImperatrixOnde histórias criam vida. Descubra agora