Amigos

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1991, Janeiro

                _ Obrigada.

Nadia fecha a porta do carro, o casal sorri e se afasta pela estrada, foi uma sorte encontrá-los, não sabia o quanto seria difícil chegar ali.

 Deveria ter alugado um carro, foi uma idiotice ir de ônibus.

Olhou a estrada de terra, começou a subir por ela devagar, se afastando cada vez mais da estrada principal, de asfalto, que levava a uma cidadezinha, logo a estrada de terra foi ficando ainda menor,.

Ela subia, descia e subia de novo, ficaria escuro em pouco tempo, o vento soprava por entre as arvores e trazia o cheiro das plantações de abacaxi que tinha visto na estrada.

 Nadia estava adorando o local. A vontade que tinha era tirar os sapatos e colocar os pés na terra que cobria o caminho, mas não fez isso porque estava com pressa.

Tanta pressa que nem parou para escutar o barulho de uma cachoeira no final do caminho.

Andou mais de quarenta minutos até a entrada do sitio, pois se perdeu e teve de voltar.

Nada muito grave, acabou em outra fazenda em que foram muito simpáticos com ela, não a deixaram sair sem um pedaço de bolo caseiro.

Entrou na fazenda, não havia ninguém no portão.

Logo um cachorro veio ao seu encontro, era grande, mas não parecia ser de nenhuma raça que ela conhecesse, parecia mais um cão de rua. Ele não a atacou, mas chegou perto e ela fez um carinho em sua cabeça.

Ele saiu correndo, Nadia seguiu em direção a casa, mas o cão veio por trás e empurrou sua perna com a cabeça, ela fez mais carinho nele, e continuou o caminho, ele de novo empurrou sua perna.

_ Você quer que eu te siga ?

Como não sabia bem o que fazer, resolveu seguir o cão.

Andou atrás dele, que seguiu por um caminho longo, a direita.

Parou no que parecia ser um grande depósito, havia um carro parado na porta, Nadia entrou, e viu Rafael só de Bermuda e camiseta, trabalhando em algo, em cima de uma mesa.

O local parecia ser um depósito de ferramentas, um local de carpintaria, enfim, um local de trabalho manual, uma oficina.

_ Quanta coisa você tem aqui.

_ Gosto de fazer minhas próprias ferramentas de vez em quanto.

Nadia estava parada em frente a Rafael.

_ Vim ser sua aluna.

_ Eu vi.

_ E ai, por onde começamos ?

_ Poderíamos começar por você me pedindo para te aceitar como aluna.

_ Vamos parar por aqui ! Você que ofereceu me treinar, eu não queria nada disso, eu fui clara. eu...

_ Você recusou minha oferta e agora vem me procurar, por que não mostra respeito e me pede para ensiná-la ?

_ Respeito ?

Nadia se aproxima de Rafael, ele coloca a caixa em que estava trabalhando sobre a mesa, e olha diretamente para ela.

_ Respeito com seu mestre, seu professor.

_ Há, então é isso ! Quer seu meu mestre, meu professorzinho, vai cuidar de mim não é? Vou fazer todas as suas vontades? Isso que queria desde o começo, é isso que cobra por suas aulas ?

_ Não Nadia, você é uma pedra bruta, precisa ser lapidada, tem o dom, pode ser uma assassina fantástica, mas ainda tem muito que melhorar.

_ Tenho ?

_ Tem.

_ Por que não me dá um exemplo, meu professor ?

_ Você não me viu, Isso é um bom exemplo.

Nadia se assusta, uma menina aparentando uns quinze ou dezesseis anos aparece por detrás dela, ela não a ouviu chegar.

_ De onde você veio ?

_ Eu? Estava aqui o tempo todo.

_ O tempo todo ? Não, eu olhei em volta, eu...

_ Eu estava ali, sentada, você olhou para lá ?

_ Não... Quem é você ?

_ Eu me chamo Mariana, sou esposa dele, do seu professor, Rafael.

Agora, pela primeira vez em muito tempo, Nadia sentiu vergonha.

Vergonha da menina a sua frente, que parecia tão frágil, tão nova e inocente...

_ Eu sinto muito pelo que eu disse, eu não queria dizer, eu...

Mariana se aproxima dela, tem um sorriso encantador, toca em seus braços com amor e diz:

_ Tudo bem, fique calma, está tudo bem. Você está em casa, entre amigos.

Mariana sorria de um jeito muito calmo, seu tom era tranquilo.

_ Rafael me contou a sua historia, eu soube, soube de tudo.

_ Tudo?

_ Ele não me esconde nada... Fui eu que pedi pra ele ajudar você.

_ Você ? Mas, por que ?

_ Porque eu sou mulher, eu quero que você consiga sua vingança, quero que consiga por nós.

_ Nós ? Eu e você ?

_ Eu e você... E minha filha.

_ Você tem uma filha ?

_ Tenho, ela está aqui.

Mariana colocou a mão de Nadia em cima de sua virilha.

_ Você esta gravida !

_ Mas pode ser um menino Mariana, nem sabemos se você está mesmo grávida.

_ Estou meu amor, é uma menina, tenho certeza.

_ Como pode ter tanta certeza ?

Mariana se aproximou dela e segurou suas mãos entre as suas.

_ Sou mulher Nadia, eu sei. Como sei que você precisa ter sua vingança, por isso pedi ao meu amor que te ajudasse, e agora peço a você que escute meu marido, aprenda com ele, obedeça, porque você precisa concluir sua vingança viva e bem. Prometa isso por nós, eu sou casada com ele, sei que ele pode ser uma pessoa difícil as vezes, mas você tem que passar por cima disso tudo. tem de aprender com ele e com os outros que ele vai trazer pra te ensinar Nadia. Agora você tem uma chance de verdade, tudo depende de você.

Aquilo a tocou de uma forma inesperada, naquele instante, Nadia parecia estar com uma amiga de muito anos, algo que não dá para explicar com palavras, um sentimento único de reconhecimento.

 Ela se virou para Rafael e disse :

_ Sinto muito, me desculpe, estou as suas ordens. Por favor, me aceite como sua aluna, eu não vou decepcionar você. Não, eu não vou decepcionar Vocês!

ImperatrixOnde histórias criam vida. Descubra agora